A identificação de alternativas possíveis nos processos sociais
“A
tradição dos oprimidos nos ensina que o estado de exceção em que vivemos é na
verdade a regra geral” (W. Benjamin).
“Em
tempos de desordem sangrenta, nada pode nos parecer natural, nada deve ser
visto como impossível de mudar” (B. Brecht).
Introduzindo a questão,
o Professor Carbonari nos lembrou que este tema já esteve presente nos dias e
abordagens anteriores de modo transversal ou como ponto de chegada. As questões
mais pungentes que o grupo apresentou durante estes dias do Curso de Aperfeiçoamento da Ação Missionaria
apontavam sempre para ele. A questão central que nos implica é que sejamos
alternativamente alterativos!
Pensar alternativas
implica pensar como articular espaço e tempo de modo a compreender e se
posicionar na realidade. Na modernidade, espaço e tempo são chaves para
organizar a vida e o conhecimento. Mas a articulação de tempo e espaço não se
reduz à visão de Newton (leis fixas), de Eisntein (hipóteses), mas deve
considerar também a perspectiva quântica (probabilidades). Temos também
diferentes percepções do tempo: passado, presente e futuro; kairós, cronos, aión; tempo das
tarefas, tempo das jornadas... São muitas as temporalidades que nos atravessam.
Temos também diferentes concepções de espaço ou território: micro, macro;
local, universal; nacional, global; atual, virtual.
Podemos contrair o
tempo na sua dimensão de presente, combinando nele o passado e o futuro.
Podemos também ampliar o passado contra o presente e o futuro. Ou ampliar o
futuro, contraindo o passado e o presente, como se o bom ainda estivesse por
vir! Por sua vez, o território gera identidade e pode ser diversificado,
contraindo-se numa das suas possibilidades e recusando as demais.
Há uma estreita
articulação entre a realidade, que é
o chão no qual caminhamos, e o desejo,
o horizonte que imaginamos e desenhamos. É isso que possibilita nossa inserção
na história e a sua recriação permanente. Compreendendo a realidade como
movimento, emergem a possibilidade de ação e a responsabilidade ética.
A ação humana sobre a
realidade concreta se dá nas situações-limite, pois estas abrem a possibilidade
de atos-limite. No horizonte está o inédito viável, que consiste em ir além da
situação-limite atual, sem romper a relação com ela. A ação social e
missionaria não pode se espelhar na ação dos bombeiros: tratar efeitos, num
ativismo desenfreado; ficar nas urgências, sem se importar com as essências.
Pensar alternativas supõe visualizar, além de necessidades e utopias, potencias
e possibilidades. No fundo, a formulação e execução de alternativas supõe a
identificação da finalidade ou Projeto que guia a ação como construção.
Juntamente com a
formulação de um Projeto, para perceber e viabilizar alternativas temos
necessidade de uma concepção, uma organização e a estratégia, além de uma base,
que, juntos, configuram sujeitos individuais ou coletivos capazes de levar
adiante dinâmicas que o realizem. Precisamos identificar quem busca
alternativas, com quem buscamos alternativas, e quais alternativas, e
alternativas a quê.
Para perceber e
identificar alternativas em processo precisamos: a) da profecia, que é a
articulação da denúncia e do anuncio; e supõe a percepção de possibilidades,
necessidades, alternativas; b) do messianismo, que é a crítica a situação atual
em nome de uma promessa para o futuro; c) da epistemologia, que pode se
orientar a partir do centro e da ordem, ou na perspectiva da periferia, do
singular e do caos; d) do reconhecimento, que é a sensibilidade para lidar com
o diferente, auto reconhecimento e reconhecimento mútuo; e) da
responsabilidade, que é a percepção de que somos chamados a fazer algo para
responder ao “mais” que a realidade nos grita e oferece, assumir a carga do
outro; f) da memória, como processo de reconstrução de modo reflexivo a
presença daqueles e daquilo que já foi, como experiência; como modo de manter o
todo sempre vivo; g) do testemunho, enquanto entrega, gratuidade e compromisso,
é um importante fator na imaginação de caminhos alternativos.
Tipificação
das alternativas
1.
Em
relação ao lugar: Alternativas distópicas (negar,
contrapor), utópicas (novo lugar), heterotópica (diferente, mas dentro).
2.
Em
relação às dinâmicas: Alternativas com dinâmicas
instituintes (geram, originam, criam algo novo), destituintes (enfrentam,
desfazem, negam), ou constituintes (engendram coletivamente, destituem e
instituem).
3.
Em
relação às expectativas: Alternativas emancipadoras
(criação, liberdade, novidade) ou reguladoras (centradas na ordem, na
manutenção, no controle).
4.
Em
relação às saídas: Alternativas restauradoras (voltar
atrás, refazer o que foi bom no passado, reacionárias e não conservadoras),
mantenedoras (segurar para não perder), transformadoras (reformam ajustando
aspectos ou transformando profundamente) ou revolucionárias (subverter, começar
tudo de novo).
Mas, atenção! Nem tudo o que é alternativo é de fato
inovador!
Itacir Brassiani msf
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