Evangelização
no período contemporâneo
Esta é a terceira partilha das informações e provocações que nos ofereceu o Pe. Fernando, coirmão
MSF da Província Espanha, durante nosso Curso
de Aperfeiçoamento da Ação Missionaria, que estamos realizando em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Ele nos apresentou esta reflexão no dia de ontem, segunda-feira, no início da segunda semana da
primeira etapa do curso.
O
século XIX conheceu um impressionante reflorescimento missionário. Na base
desse renascimento estão alguns fatores culturais e institucionais: 1) O progresso
das comunicações; 2) A mentalidade aventureira e de exploração, 3) Colonização
de novas terras, abertura de algumas nações até então fechadas ao Ocidente; 4)
A renovação geral da vida cristã; 5) a restauração de várias congregações; 6) A
atenção dos Papas (Gregório XVI, Bento XV, Leão XIII); 7) O novo modelo
missionário centrado em Roma; 8) A partilha dos territórios de missão entre as
Congregações missionarias...
Neste
período, surgem tensões entre o clero missionário e o clero nativo e confusão
entre Evangelho e nacionalismo. As Congregações religiosas assumem um papel de protagonista.
Surgem as sociedades missionarias e as ordens polivalentes. Muitas ordens
antigas monásticas se abrem ao apostolado. Ocorre o nascimento de congregações dedicadas
exclusivamente às missões. Entre 1805 e 1900 nascem muitas novas congregações
missionarias, especializadas nas missões. Uma novidade são os institutos
religiosos de irmãos leigos e de irmãs religiosas apostólicas. O Papa Pio XI
estimulou a fundação de congregações femininas nativas. Em meados do século XX
os leigos passam a ser considerados importantes na tarefa missionaria da
Igreja. Entre 1818 e 1924 surgem mais de
270 associações leigas missionarias. E são fundadas centenas de revistas
missionarias.
O
imperialismo aparece com força a partir de 1880. A derrota de alguns países nas
guerras intestinas da Europa leva à busca uma alternativa expansionista fora da
Europa, inclusive para exportar civilização. O retrato mais simbólico do
imperialismo é a divisão da África entre os países europeus. Esse imperialismo
influi nas missões, que passam a ocupar os lugares que lhes são conferidos
pelas potencias imperiais (hospitais, escolas, etc.), justificando-se por
questões humanitárias. Colonizadores e evangelizadores partilham dos mesmos
princípios. Administradores, militares, exploradores e missionários parecem
dedicar-se à mesma causa: a exaltação e a expansão da pátria e da cultura de
origem.
O novo paradigma de missao do
Vaticano II
Na
perspectiva missionaria, o Concilio Vaticano II representa uma radical mudança
de paradigma. Ele propõe e inicia uma série de passagens, saídas, travessias:
1.
De uma missão que apenas envia ou recebe
a uma missão de intercambio.
2.
De uma missão cujo fim é a Igreja a uma
missão cujo fim é o reino de Deus.
3.
De uma missão num espaço geográfico a
uma missão numa situação humana.
4.
De uma missão sacramentalista e
superficial a uma missão que penetra na cultura popular.
5.
De uma missão centralizada na Igreja
universal a uma missão que prioriza as Igrejas.
6.
De uma missão de conservação a uma
missão que assegura a criatividade e a inovação.
7.
De uma missão clerical a uma missão
comunitária e leiga.
8.
De uma missão assistencialista a uma
missão promotora da justiça e da emancipação.
9.
De uma missão estática e repetitiva a
uma missão a caminho e criativa.
10. De
uma missão centrada na atividade a uma missão conjugada com a oração e a
contemplação.
Itacir Brassiani msf
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