História da missão: caminhos de
evangelização
Ontem,
segunda-feira, retomamos nosso Curso de
Aperfeiçoamento da Ação Missionaria. O Pe. Fernando Lopez Fernandez msf, coirmão
da Província da Espanha, dirigiu os trabalhos, apresentando-nos o tema da
História da Missão. Começou lembrando que todos somos continuadores de uma
grande história, que precisamos conhecer nossas raízes. Mais que as datas e os
nomes, é importante sintonizar com o Espirito, continuar o caminho. A história
é mestre de vida, e nos ajuda a viver a missão hoje. Conhecer nossas raízes é
importante para que sejamos fiéis ao que se nos espera de nos hoje e para não
repetir erros do passado.
A evangelização nas
origens do cristianismo
A
missão da Igreja tem sua origem em Jesus, no encontro com ele, no seguimento
dos seus passos, na acolhida do seu envio. A Igreja primitiva se organizou em
duas grande comunidades: Jerusalém e Antioquia, e destas duas comunidades
partiu a missão dos cristãos. Estes cristãos dirigiram-se a dois diferentes
grupos: os judeus da palestina, e os judeus da diáspora (mais tarde, aos
pagãos). Eles enfrentaram o desafio de compaginar sua nova identidade com suas
tradições.
As
principais mudanças socioeconômicas e ideológicas neste período são as
seguintes: O movimento cristão,
diferentemente de Jesus, é urbano e sedentário. Paulo começa a usar a língua
grega, se dirige também às classes influentes, numa sociedade pluralista, procurando
inculturar o Evangelho no mundo grego, refundando o ensino de Jesus na
perspectiva greco-romana.
Paulo
vai enfrentar fortes tensões com os cristãos provenientes do judaísmos, que
insistia no comprimento prévio das leis do judaísmo. Paulo e sua perspectiva
acabam predominando, e o cristianismo se converte num projeto aberto e
universal. As comunidades deixaram de
ser um grupo de puros e se empenham radicalmente no anuncio universal do
Evangelho. A opção de Paulo é por um projeto universal e socialmente viável. No
fundo, pretende chegar a viver a fé cristão no seio da sociedade greco-romana.
A
casa é o lugar de encontro das comunidades cristas, o marco constitutivo da
evangelização deste tempo. No seu sentido amplo, a família é o lugar onde se
compartilha, comenta e prega o Evangelho. Assim, o cristianismo se livra do
risco de se tornar uma seita, um grupo fechado, no interior do judaísmo, mas
assuma traços universais.
A expansão do Evangelho
no Império romano
Os
cristãos primitivos se sentiam todos em permanente estado de missão. Celso, um pagão
notável, diz que os cristãos são uma pobre gente que se deixa enganar por
qualquer um. Os apologistas procuram apresentar e defender a fé cristã às
classes dirigentes e intelectuais. O testemunho dos mártires, segundo
Tertuliano, é a principal semente de novas adesões aos cristianismo.
Os
caminhos que o Evangelho percorreu neste período são basicamente quatro. 1) O
cristianismo chega a todos os lugares através dos comerciantes, soldados,
prisioneiros, escravos, que transmitem o Evangelho aos que encontram. É a
primazia do contato pessoal. 2) A fundação de comunidades situadas
estrategicamente nas principais cidades, que enviam evangelizadores bem
preparados e adequados aos lugares onde vive o povo nas imediações. São
missionários enraizados em suas comunidades de origem. É a comunidade que
desperta, forma e envia. 3) A divulgação do Evangelho é feita mediante
missionários carismáticos que, mesmo sem uma comunidade de referência, se fazem
missionários itinerantes. Inicialmente,
foi uma forma muito destacada, mas produziu alguns conflitos e desapareceu. 4)
A atuação de grandes especialistas, como Paulo e Barnabé.
É
possível identificar várias fases da expansão do cristianismo nessa época. 1) As
quatro viagens apostólicas de Paulo, que visita as comunidades cristas
espalhadas no Oriente médio. 2) No segundo século, a fé cristã se expande ao
Egito e a todo o norte da África, que desaparecerão com o nascimento e expansão
do islã. 3) No século III, a expansão vai em direção ao Ocidente (França e
Espanha). 4) No século IV, a Igreja passa a ser tolerada e, posteriormente,
oficializada no Império romano. Então a missão se dirige a dois âmbitos
anteriormente desconsiderada: a zona rural do império e a arena política.
O
que favoreceu a expansão da fé neste período? 1) A Pax romana, que ofereceu um clima social de estabilidade e
segurança, inclusive com as estradas e comunicações, criou uma unidade e uma
mentalidade comum do povo do império. 2) A existência de comunidades judaicas
no império também ofereceu um espaço estratégico para a atuação dos cristãos. 3)
A tolerância própria da cultura e da religião romana, assim como uma saliente
busca de espiritualidade e verdade. O que mais dificultou foram as
perseguições, alguns aspectos da teologia crista (monoteísmo, encarnação, sofrimento
e morte de Jesus, ressurreição dos mortos), a forma externa do cristianismo
(sem templos, altares, imagens) e suas divisões internas.
O
que motivou muitas conversões ao cristianismo nesse período foi, especialmente:
1) O caráter alternativo e novo do cristianismo; 2) O testemunho de vida dos
cristãos; 3) A resposta às aspirações do povo religioso dessa época: salvação
definitiva, a possibilidade de viver sem medo, as práticas novas de
fraternidade e solidariedade, o ideal especial de santidade, o âmbito comunitário.
É claro que nem todas as pessoas seguiram estes caminhos. Convivem com isso os
interesses políticos, a busca de milagres, a imitação dos santos. E então, o
que acontece é a passagem de um cristianismo de opção para uma pertença
simplesmente sociológica.
Itacir Brassiani msf
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