Sujeitos
sociais e missão na contemporaneidade
O assessor, Dr. Jandir
Pauli, iniciou nosso quarto dia do Curso de Missiologia com uma pergunta: A
compreensão do contexto de atuação dos atores sociais contemporâneos pode
ajudar-nos a re-significar a missão? A resposta é, ao menos em termos de hipótese,
positiva.
Passou então a
apresentar alguns pressupostos boa aproximação teórica dos sujeitos e
movimentos sociais. Lembrou que análise social clássica opera numa ótica
dualista e dicotômica: oriente-ocidente, homem-mulher, idoso-jovem,
rural-urbano, direita-esquerda, branco-negro... Este esquema não consegue dar
conta da complexidade da realidade social atual, até porque acabamos atribuindo
valores diferentes e hierarquia entre estes dois polos. Por outro lado, a fuga
das dicotomias pode nos levar a abandonar alguns conceitos importantes, como
trabalho, propriedade, classe, sujeito histórico, soberania, nação, estado, etc. Pode levar-nos também ao esvaziamento da
política. Um terceiro pressuposto é que a cultura, sem excluir o conceito de
classe, é um elemento substantivo na análise social, especialmente na
perspectiva da identidade e da diversidade. A globalização liquidificou as
identidades e oferece um padrão global, eliminando as identidades coletivas
locais. O efeito colateral é o surgimento do fundamentalismo e do
terrorismo.
O
mercado como sujeito absoluto e ordem social
O Professor Pauli
sublinhou que o hoje o mercado, mais que local ou lógica do comércio e da
troca, se apresenta como horizonte de validação e de verdade: justifica tudo,
confere validade e moralidade a tudo. Com isso, legitima práticas e projetos e
torna algumas coisas a atitudes não apenas boas, mas também desejáveis. A
legitimação de alguns sujeitos implica na deslegitimação e até a perseguição de outros sujeitos. O
mercado se apresenta como mais eficiente e providente que as velhas redes de
proteção e contesta a eficiência da reciprocidade.
Hoje o mercado pretende
oferecer uma justificação moral ao consumismo, na medida em que garantiria o
acesso universal ao consumo de bens, assim como a chamada “iniciativa privada”
se justifica cinicamente pela produção de empregos. A política econômica
estabelece o emprego como único modo de participação na economia e de sobrevivência
para maioria das pessoas e, a partir disso, a empresa justifica sua voracidade
de lucro dizendo que produz empregos.
Apoiado em Polanyi, o
professor Pauli nos ajudou a entender que a economia pode ser organizada e
entendida a partir de diferentes princípios e configurações: a) A partir da centralidade, enfatizando a redistribuição
e tendo a Igreja e o Estado como seus principais sujeitos; 2) A partir da reciprocidade, enfatizando a cooperação
e a solidariedade, elegendo a Sociedade civil como seu sujeito; 3) A partir do mercado, estabelecendo relações despersonalizadas
e elegendo as empresas como seu ator protagonista; 4) A partir da domesticidade,
enfatizando a casa comum, a troca e o autoconsumo e estabelecendo as famílias
como seu sujeito principal.
Sujeitos
e movimentos sociais
As ciências sociais tem
dificuldades de compreender e explicar a diversidade de sujeitos e movimentos
sociais que conhecemos hoje, e que são importantes para o desenvolvimento da
nossa missão. Para onde vão hoje os movimentos sociais, que não são mais os
grandes movimentos catalizadores da década passada? O que eles denunciam,
defendem, propõem e efetivamente conseguem? O que caracteriza um movimento
social alternativo?
Uma perspectiva
importante é a que considera os movimentos e sujeitos sociais na perspectiva da
resistência. Eles surgem como fruto da globalização das contradições do
sistema. Nascem da percepção de objetivos como metas de ação mas, para que
persistam no tempo, precisam de um certo processo de institucionalização.
Assim, nasce uma dialética permanente entre metas e organização, com o
potencial risco de que a lógica de auto reprodução se imponha em detrimento dos
objetivos. Quando isso acontece, perdem o foco e gastam muita energia na
manutenção da organização. Para que cheguem a ser atores coletivos precisam
desenvolver uma visão de totalidade, uma definição clara daquilo e daqueles que
combatem, uma organização dinâmica e estratégica.
Como atuar em aliança e
parceria com os movimentos, já que eles são passíveis de distorção e traição, e
de fato, historicamente se mostraram ambíguas e contraditórias? A questão é o
discernimento lúcido e o controle permanente das nossas alianças e parcerias,
conscientes de que também nós, a Igreja, somos santos e pecadores, permanecemos
sempre corruptíveis e ambíguos. Os movimentos sociais são os que mantém viva a
perspectiva da busca de um mundo melhor, e a parceria com eles nos ajuda a
efetivar a utopia do Reino de Deus na arena social. Não parece que seja melhor
tentar fazer isso sozinho.
Os movimentos alertam
para necessidades que não estão sendo atendidas, para direitos que estão sendo
negados, e chamam os cristãos para essa causa. Eles mantém vivo o clamor do
povo no seio da sociedade, assim como a possibilidade de mudança e de avanço. E
cumprem um papel extremamente relevante: além de denunciar as situações
injustas, estão na base da maioria absoluta dos direitos conquistados pela
humanidade oprimida.
O que caracteriza o
movimento social? Segundo o professor Pauli, são a busca de uma identidade,
como elemento e motivação para existir, uma busca que se expressa basicamente
na indignação e na discordância. O discurso, as metas e o ritmo da ação depende
do contexto. Usam um discurso especifico, demarcador, que questiona consensos e
disputa espaços. Tem um ponto de vista, um viés especifico pelo qual olha a
realidade e se insere nela, assim como mediadores e mediações de políticas
públicas (criadores de políticas, criam oportunidades, interpretações e visões).
As principais características dos movimentos sociais atuais são: são efêmeros,
tem causas locais e regionais, desligados de pautas clássicas, midiáticos e
inovadores.
Itacir Brassiani msf
2 comentários:
Obrigado pelo resumo. Ficou mais fácil compreender nossa aula de hoje. Obrigado.
Obrigado pelo resumo. Ficou mais fácil compreender nossa aula de hoje. Obrigado.
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