Modelos
de inculturação e aprendizados necessários à inculturação
No último momento de sua assessoria, o Pe. Joaquim nos convidou a refletir sobre três modelos típicos de inculturação:
Tornar-se
nativo: Assimilar a cultura do modo mais completa
possível. A nova cultura é vista como boa e a anterior como inferior. O missionário
quer se parecer o mais possível com as pessoas da cultura hospedeira, apagando
as diferenças.
Formar
um gueto: A nova cultura é vista de modo crítico,
e a cultura de origem é sobrevalorizada. Ocorre o fechamento para manter os
hábitos e costumes. Esse modelo não pode durar muito, mas parece uma forma
alegre de viver.
Tornar-se
um bom estrangeiro: Este é o caminho intermediário
entre os dois extremos. Ambas as culturas são vistas como conjuntos que
englobam aspectos positivos e negativos. O objetivo é uma adaptação que
possibilita uma relação saudável com as pessoas da nova cultura.
Como
ser um bom missionário em dialogo e interação com a cultura do outro? É preciso
aprender várias atitudes...
Aprender
tirar os sapatos: O lugar do qual nos aproximamos é
sagrado, e precisamos cuidar para não pisar sobre as pessoas e sobre Deus
mesmo. Deus chegou onde somos enviados antes, e habita o coração dessa cultura.
As sandálias simbolizam aquilo que se moldou ao nosso pé, os padrões de conduta
habituais, e tirar as sandálias significar relativizar aquilo que nos envolve e
entrar em contato com a sacralidade do lugar onde pedimos licença para
entrar. É um processo de deslocamento e
relocamento. A nova terra nunca vai substituir a antiga, nada substitui ou
restitui o que foi vivido. Isso é passado, e faz parte daquilo que foi deixado
para trás.
Aprender
a ser hospede:
Aqui ocorre a relação entre hospede e hospedeiro, os ajustes entre a antiga e nova
cultura. Hospede não tem direito, é acolhido, recebe tudo gratuitamente, entra
no espaço do outro. A mala representa o patrimônio mínimo que carregamos, como
segurança mínima na nova situação, o nosso pequeno poder numa situação
desconhecida e ameaçadora. O peregrino não necessita de bagagem, pois o outro o
provera. Ocorre uma relação de troca, de intercambio de prosperidades e
identidades: abrigo, alimento, conselhos, identidades, palavras... O anfitrião
é aquele que chegou à maturidade humana e oferece tudo, com largueza e
gratuidade. O missionário hospede toma então consciência de que é imagem de
Deus, que o outro também o é, que o mais importante é acolher e ser compassivo.
E esse processo acaba mudando sua identidade.
Aprender
a entrar no jardim do outro: Trata-se de discernir
o que superar e o que conservar e promover. Todas as culturas tem seu
jardim. Sua beleza depende do capricho
do jardineiro. Este jardim pode parecer cheio de belas flores, sem ervas
daninhas. Ou então, repleto de ervas daninhas. Ou pode parecer que ele tem
flores e ervas daninhas. É aqui que se joga a possibilidade de chegarmos a ser
universais, passando pela experiência da liminaridade, de uma boa socialização,
mudando a consciência, transformando a forma de pensar e de agir. E assim chegamos
a ser um irmão universal, com o preço de nunca mais sermos o que fomos no
passado, da origem. É a dor da separação das raízes anteriores que possibilita
um novo enraizamento.
Itacir
Brassiani msf
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