Novas fronteiras da
missão ad gentes
Na encíclica Redemptoris Missio,
João Paulo II diz que os horizontes e possibilidades da missão se alargaram e
que é preciso recuperar a coragem das gerações que nos antecederam. Segundo
ele, a primeira e principal expressão da missão da Igreja é a missão ad gentes, cujos destinatários são os povos ou grupos que
ainda não creem ou deixaram de crer em Cristo ou estão longe dele, onde a
Igreja não está ainda radicada ou cuja cultura ainda não foi influenciada pelo
Evangelho (cf. RMi 34). Seu objetivo
é ajudar as pessoas para que se abram ao Evangelho de Jesus Cristo e o acolham
como norma que orienta e sustenta sua vida. Esta missão continua imensa e não
está de modo algum concluída (RMi 35).
Entretanto, na linha de pensamento de Joao Paulo II, a missão ad gentes não pode ser mais
compreendida unicamente em termos territoriais, mas a partir das diversas
fronteiras, que também representam muros. A partir de RMi 37, podemos
identificar três diferentes fronteiras ou
âmbitos nos quais a missão ad gentes
pode se realizar. Trata-se de fronteiras
que desafiam a atividade missionária da Igreja como um todo, frente às
quais cada instituto missionário precisa discernir e priorizar responsavelmente
sua contribuição.
a)
Fronteiras ou âmbitos
territoriais: São as faixas territoriais que não receberam ou
recusam o testemunho e o anúncio de Jesus Cristo, e as regiões nas quais as
comunidades eclesiais são frágeis e carentes do dinamismo necessário para
encarnar o Evangelho na cultura e nas estruturas sociais.
b)
Fronteiras ou âmbitos
sociais: São os ambientes e estruturas sociais, que anseiam
por uma palavra orientadora e uma presença solidária e transformadora,
especialmente os grandes aglomerados urbanos, nos quais se forja uma nova
cultura; os inquietos e exigentes setores juvenis; o mundo da mobilidade humana
ou das migrações; as situações de pobreza intolerável e desumana.
c)
Fronteiras ou âmbitos
culturais: São os chamados novos areópagos ou fronteiras
culturais, entre os quais estão: o mundo das comunicações, que unifica a
humanidade e a transforma numa aldeia; os movimentos de luta pela paz,
desenvolvimento e libertação dos povos, sobretudo das minorias; as iniciativas
de promoção da mulher, da criança e de proteção da natureza; o mundo da cultura
de massa e da pesquisa científica; o espaço das relações internacionais e da
luta pelos Direitos Humanos.
Na perspectiva de João Paulo II, as gentes
às quais se dirige a atividade missionária da Igreja não são simplesmente os
não-crentes ou os fiéis das religiões não-cristãs. Todos os fenômenos culturais e estruturas sociais que necessitam do
testemunho, do anúncio e da ação transformadora dos cristãos também são por
definição “territórios” de missão ad gentes e, portanto, desafios que devem
ser considerados responsavelmente pelas Igrejas locais e pelos institutos
missionários.
Este ‘movimento
para’, próprio da missão ad gentes,
pode ser desdobrado hoje em quatro aspectos:
a)
Um dinamismo ad
gentes, que nos coloca diante da realidade humana e religiosa ou
a-religiosa daqueles a quem somos enviados;
b)
Um dinamismo ad
extra, que pede o desapego e a saída de nós mesmos e nossas comunidades
eclesiais, que sejamos uma Igreja em saída;
c)
Um dinamismo ad
vitam, que sublinha a origem da missão na experiência do amor de Deus e
nossa consequente consagração total e permanente a ela;
d)
Um dinamismo ad
paupers, que nos leva a servir de forma solidária e prioritária aos
excluídos e oprimidos, estes que são os preferidos de Deus.
Itacir Brassiani
msf
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