Chaves para a compreensão da
sociedade atual
Na parte da tarde, o professor se propôs e ajudar-nos a compreender a
sociedade atual a partir de 11 chaves. Para nos ajudar a manter um fiozinho de
esperança em meio a uma situação complexa e ameaçadora, começou com a tirada de
Guimaraes Rosa: “A vida é ingrata no
macio de si, mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero”.
Sociedade do “sim”: Na sociedade e na cultura atual, a lógica predominante da integração
social é o consumo de bens e serviços, mesmo que este consumo seja às vezes
precário. Um desejo vira uma necessidade. Tudo vira produto. Com isso, cresce a
pratica do descarte, da vida com data de validade, o progresso, o moderno. O
indivíduo se torna consumidor, e não cidadão. É cada vez mais difícil
estabelecer limites, resistir e formar cidadãos.
Sociedade do “não”: Cresce o racismo, a discriminação, a violência contra o estranho, a
intolerância. Cresce a atitude de deixar morrer ou de matar (fisicamente ou
socialmente). No Brasil ocorre um genocídio da juventude negra. Isso leva à
produção cada vez maior de vítimas. É sempre mais difícil estimular o
compromisso, a inclusão e o respeito.
Sociedade da escassez: Cresce a acumulação e a desigualdade, sem a correspondente satisfação
das necessidades das maiorias. O discurso de que não há recurso para satisfazer
as necessidades de todos é falso e cínico. O que não há são recursos para
satisfazer o padrão de vida consumista das elites econômicas. Neste contexto, é
cada vez mais difícil advogar propostas de igualdade e de justiça.
Sociedade da funcionalização: Nesta sociedade, cada um deve encontrar seu lugar, fazer a sua parte;
cada um por si e para si, orientado pela vantagem, pela utilidade. Isso provoca
o aumento da indiferença e da intolerância e suscita uma responsabilidade
seletiva. E fica cada vez mais difícil promover a cooperação e a solidariedade.
Sociedade da coisificação: As pessoas deixam de ser tratadas como seres humanos e passam a ser
consideradas peças, coisas e números. Isso faz aumentar o tratamento de alguns com
os seres humanos uteis, com serventia, que tem preço, relegando ou descartando
os demais. Por outro lado, se torna sempre mais difícil ou sem sentido relações
que fortaleçam laços, efetivem vínculos e articulem processos, direitos e
dignidade.
Sociedade da massificação: Cresce a uniformização, a monocultura, a mesmice e o desejo mimético e
a repetição. Vale o que rende, a centralização, o que tem escala, o que é
linear e progressivo. Nessa lógica, perde todo sentido e fica cada vez mais
difícil fortalecer a diversidade, o interpessoal, o reconhecimento, o artesanal
e o ecológico.
Sociedade da rigidez e do
fechamento: Crescem os fundamentalismos de todo tipo e o apelo a
pretensas verdades naturais e científicas, contra aquilo que é rapidamente
tratado como ideologia; a oposição entre cultura e natureza. A consequência é o
fortalecimento de dinâmicas seletivas que justificam opressões, a ordem e o
fechamento ao novo. E disso decorrem as dificuldades com o encontro, com o
dialogo, a abertura, a acolhida.
Sociedade da midiatização: Crescem os mecanismos de midiatização das relações, sobretudo com a
popularização da comunicação eletrônica. Imensos contingentes de pessoas perdem
aderência à realidade, e os problemas crônicos dos outros não lhes parecem
reais. E então é cada vez mais difícil promover empatia e adesão a projetos
sociais e solidários.
Sociedade da burocratização: Cresce a crise da representação, da confiança, do pertencimento. As
democracias estão cada vez mais funcionais e burocratizadas. Por isso, a
dificuldade de atender às demandas das sociedades, capturadas pelo ‘sistema
poder e dinheiro’ dos conglomerados, e o surgimento de sociedades apáticas.
Sociedade do emburrecimento: Cresce a sociedade do conhecimento ao lado do aumento da ignorância, do
emburrecimento, do aprender o mínimo. A consequência é a produção de pactos de
mediocridade, a reprodução e a cópia, a padronização e a baixa criatividade.
Isso explica porque é cada vez mais difícil saber o que é significativo e deve
ser ensinado, o que deve ser aprendido para alimentar a imaginação criativa e
gerar o inédito viável.
Sociedade sem liberdade: A liberdade é vista como fantasia, como fazer o que se deseja, sem
qualquer outra referência. O que se vê crescer é o cerceamento, a punição, a
repressão e a violência. E nesse ventre cresce a dificuldade de estabelecer
processos abertos de busca do ser mais humano com os outros, e não contra eles.
O professor Carbonari concluiu apresentando cinco figuras típicas da
sociedade atual: o bandido (que encarna o mal), o vândalo (que representa o agressivo,
o destrutivo), o estranho (tipificado no migrante e no estrangeiro), ninguém (que
é qualquer um, que não tem valor nem consistência), o meritório (visível
naquele que fez por merecer, no bem-sucedido, no privilegiado).
Itacir Brassiani msf
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