“Sereis minhas testemunhas” (At 1,
8)
MENSAGEM DO FRANCISCO PARA O
DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2022
«Recebereis a força do Espírito Santo”:
Deixar-se iluminar
e guiar pelo Espírito Santo
Ao anunciar aos discípulos a
missão de serem suas testemunhas, Cristo ressuscitado prometeu também a graça
para uma tão grande responsabilidade: «Recebereis a força do Espírito Santo e
sereis minhas testemunhas» (At 1,8).
Com efeito, segundo a narração dos Atos, foi precisamente a seguir à descida do
Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus que teve lugar a primeira ação de
testemunhar Cristo, morto e ressuscitado, com um anúncio querigmático: o
chamado discurso missionário de São Pedro aos habitantes de Jerusalém. Assim
começa a era da evangelização do mundo por parte dos discípulos de Jesus, que
antes apareciam fracos, medrosos, fechados. O Espírito Santo fortaleceu-os,
deu-lhes coragem e sabedoria para testemunhar Cristo diante de todos.
Como «ninguém pode dizer: “Jesus é
Senhor” senão pelo Espírito Santo» (1
Cor 12,3), também nenhum cristão poderá dar testemunho pleno e
genuíno de Cristo Senhor sem a inspiração e a ajuda do Espírito. Por isso cada
discípulo missionário de Cristo é chamado a reconhecer a importância
fundamental da ação do Espírito, a viver com Ele no dia a dia e a receber
constantemente força e inspiração d'Ele. Mais, precisamente quando nos
sentirmos cansados, desmotivados, perdidos, lembremo-nos de recorrer ao
Espírito Santo na oração, para nos deixarmos restaurar e fortalecer por Ele,
fonte divina inesgotável de novas energias e da alegria de partilhar com os
outros a vida de Cristo. «Receber a alegria do Espírito é uma graça; e é a única força que podemos ter
para pregar o Evangelho, confessar a fé no Senhor». Assim, o Espírito é o
verdadeiro protagonista da missão: é Ele que dá a palavra certa no momento
justo e sob a devida forma.
É à luz da ação do Espírito Santo
que queremos ler também os aniversários missionários deste 2022. A instituição
da Sacra Congregação de Propaganda
Fide, em 1622, foi motivada pelo desejo de promover o mandato
missionário nos novos territórios. Uma intuição providencial! A Congregação
revelou-se crucial para tornar a missão evangelizadora da Igreja
verdadeiramente tal, isto é, independente das ingerências dos poderes do mundo,
a fim de constituir aquelas Igrejas locais que hoje mostram tanto vigor.
Esperamos que, à semelhança dos últimos quatro séculos, a Congregação, com a
luz e a força do Espírito, continue e intensifique o seu trabalho de coordenar,
organizar e animar as atividades missionárias da Igreja.
O mesmo Espírito, que guia a
Igreja universal, inspira também homens e mulheres simples para missões
extraordinárias. E foi assim que uma jovem francesa, Pauline Jaricot, há 200
anos fundou a Associação para a Propagação da Fé; celebra-se a sua beatificação
neste ano jubilar. Embora em condições precárias, ela acolheu a inspiração de
Deus para pôr em movimento uma rede de oração e coleta para os missionários, de
modo que os fiéis pudessem participar ativamente na missão «até aos confins do
mundo». Desta ideia genial, nasceu o Dia Mundial das Missões, que celebramos
todos os anos, e cuja coleta em todas as comunidades se destina ao Fundo
universal com que o Papa sustenta a atividade missionária.
Neste contexto, recordo também o
Bispo francês Charles de Forbin-Janson, que iniciou a Obra da Santa Infância
para promover a missão entre as crianças sob o lema «As crianças evangelizam as
crianças, as crianças rezam pelas crianças, as crianças ajudam as crianças de
todo o mundo»; e lembro ainda a senhora Jeanne Bigard, que deu vida à Obra de
São Pedro Apóstolo, para apoio dos seminaristas e sacerdotes em terras de
missão. Estas três obras missionárias foram reconhecidas como pontifícias,
precisamente há cem anos. E foi também sob a inspiração e guia do Espírito
Santo que o Beato Paolo Manna, nascido há 150 anos, fundou a atual Pontifícia
União Missionária a fim de sensibilizar e animar para a missão os sacerdotes,
os religiosos e as religiosas e todo o povo de Deus. Menciono estas quatro
Obras Missionárias Pontifícias pelos seus grandes méritos históricos e também
para vos convidar a alegrar-vos com elas, neste ano especial, pelas atividades
desenvolvidas em apoio da missão evangelizadora na Igreja universal e nas
Igrejas locais. Espero que as Igrejas locais possam encontrar nestas Obras um
instrumento seguro para alimentar o espírito missionário no Povo de Deus.
Continuo a sonhar com uma Igreja
toda missionária e uma nova estação da ação missionária das comunidades
cristãs. E repito o desejo de Moisés para o povo de Deus em caminho: «Quem dera
que todo o povo do Senhor profetizasse» (Nm 11,29).
Sim, oxalá todos nós sejamos na Igreja o que já somos em virtude do Batismo:
profetas, testemunhas, missionários do Senhor! Com a força do Espírito Santo e
até aos extremos confins da terra.
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