254 | Ano B | Tempo Comum | 5ª Semana, Sexta-Feira |
Marcos 7,31-37
09/02/2024
No texto de
ontem, vimos como a insistência e o argumento de uma mulher pagã faz Jesus
“mudar” de opinião. Deus é pai, e não trata ninguém como indigno ou impuro,
como se fosse um cão desprezível. Anunciando e realizando o Reino de Deus,
Jesus derruba os muros que classificam, hierarquizam e opõem as pessoas e
povos.
Na cena de hoje,
Jesus continua em território pagão, e sua ação libertadora vai se estendendo a
toda a região circunvizinha à Galileia. Pessoas anônimas levam a Jesus um homem
que tinha extrema dificuldade de se comunicar verbalmente. Tudo indica que é
mais um pagão, como o são também aqueles que o levam a Jesus e pedem que
imponha suas mãos sobre ele.
Na mentalidade
judaica, os pagãos eram pessoas impuras, das quais o judeu deveria afastar-se
para não se tornar impuro, assim como era considerada impura a saliva humana.
Sem nenhuma pretensão de fama, mas mantendo seu confronto com o sistema de
pureza, Jesus leva o surdo-mudo para fora do olhar do público, toca sua língua
com saliva e seus ouvidos com os dedos.
Com estes dois
gestos, Jesus solapa mais uma vez as bases da ideologia da pureza, que
delimitava a pertença ao povo judeu e excluía todos os demais, como os trabalhadores
manuais, os doentes e os pecadores em geral. Gritando, Jesus abre os ouvidos e
solta a língua daquele pagão, de modo que ele e seus amigos anônimos deixam a
zona da exclusão e se tornam testemunhas de Jesus.
Para aquele
homem, isso significa uma formidável mudança do status social. Aquilo que Jesus
lutava para provocar nos seus discípulos torna-se possível com gente excluída:
eles ouvem Jesus e testemunham abertamente o bem que ele faz sem olhar a quem.
E o que Jesus faz e ensina deve ser normativo para quem o segue.
É terrivelmente
perniciosa e anticristã a ideologia que afirma a supremacia do branco sobre os
outros, do rico sobre o empobrecido, do homem sobre a mulher, do ocidente sobre
o oriente, dos católicos sobre os protestantes. Não há como ser cristão e
sustentar isso.
Meditação:
ü Releia o texto, contemplando atentamente os
gestos dos pagãos e de Jesus, mas também o que diz Jesus e o que dizem os
pagãos
ü Você acha que as pessoas e grupos excluídos
tem o espaço que lhes é devido na Igreja e na sociedade?
ü Será que muitos cristãos e comunidades
sentem-se mais à vontade reproduzindo ideologias que separam que aderindo à
escandalosa e provocadora liberdade inclusiva de Jesus?
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