quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

O Evangelho na vida (253)

253 | Ano B | Tempo Comum | 5ª Semana, Quinta-feira | Marcos 7,24-30

08/02/2024

Jesus desmonta a teologia da pureza e solapa as bases da ideologia da supremacia e hierarquização da dignidade de alguns povos e pessoas sobre outros. Declarando que todos os alimentos são puros, ele resgata a dignidade dos excluídos, como quando “purifica” os leprosos. Assim, ele mostra que o sistema de pureza, não protege o povo, mas oprime os vulneráveis.

Depois do confronto com os escribas e do ensino ao povo e aos discípulos, Jesus adentra no território dos pagãos, com o desejo explícito de colocar um ponto final nessa interminável discussão e aprofundar pessoalmente a questão. Mas eis que uma mulher pagã, discriminada por ser mulher e por ser pagã, ousa interromper esse “retiro” de Jesus. Ela desrespeita as fronteiras que separam judeus e pagãos e a privacidade de Jesus.

A cena descreve a reação de Jesus no horizonte das hostilidades étnicas e culturais dos judeus em relação aos pagãos, e isso só realça a ousadia e a novidade do ensino e da prática de Jesus. A mulher pagã não apenas desrespeita as leis que excluem os pagãos dos benefícios de Deus e da cidadania em Israel, nem se resume a pedir pela sua filha, mas discute com Jesus – torna-se teóloga! – defendendo a dignidade do seu povo, reivindicando a igualdade de todas as pessoas e povos diante de Deus.

Segundo Marcos, o que faz Jesus “mudar” de opinião em relação aos pagãos não é a fé ou a simples confiança da mulher, e sim o seu argumento: Deus é pai, e não trata nenhuma pessoa ou povo como indigno ou impuro. O Reino de Deus, que é o horizonte no qual Jesus se move e a causa maior que ele abraça, derruba os muros que classificam e opõem as pessoas entre puras e impuras, judias e pagãs, filhas e cães.

Infelizmente, o sentimento de que “temos o que eles não têm” ou “somos melhores e mais merecedores que eles” ainda vigora, e volta com virulência inaudita entre grupos que se dizem cristãos. Ninguém esquece o teor de algumas manifestações contra o Papa Francisco, a Conferência dos Bispos do Brasil, o ecumenismo, a fraternidade universal e a defesa da diversidade patrocinadas pelas Campanhas da Fraternidade dos últimos anos.

                                                                           

Meditação:

ü Releia o texto, procurando entender bem os recursos literários e a questão central que está em discussão: a igualdade diante de Deus

ü Qual seria a razão que leva grupos de cristãos a se opor de modo tão virulento à ação social e ecumênica da Igreja do Brasil?

ü Como superar a contradição de quem reza “Senhor, eu não sou digno que entres em minha casa” e continua pensando “Somos melhores que os outros e temos o que eles não têm”?

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