253 | Ano B | Tempo Comum | 5ª Semana, Quinta-feira | Marcos
7,24-30
08/02/2024
Jesus desmonta a
teologia da pureza e solapa as bases da ideologia da supremacia e hierarquização
da dignidade de alguns povos e pessoas sobre outros. Declarando que todos os alimentos
são puros, ele resgata a dignidade dos excluídos, como quando “purifica” os
leprosos. Assim, ele mostra que o sistema de pureza, não protege o povo, mas
oprime os vulneráveis.
Depois do
confronto com os escribas e do ensino ao povo e aos discípulos, Jesus adentra
no território dos pagãos, com o desejo explícito de colocar um ponto final
nessa interminável discussão e aprofundar pessoalmente a questão. Mas eis que
uma mulher pagã, discriminada por ser mulher e por ser pagã, ousa interromper
esse “retiro” de Jesus. Ela desrespeita as fronteiras que separam judeus e
pagãos e a privacidade de Jesus.
A cena descreve a
reação de Jesus no horizonte das hostilidades étnicas e culturais dos judeus em
relação aos pagãos, e isso só realça a ousadia e a novidade do ensino e da
prática de Jesus. A mulher pagã não apenas desrespeita as leis que excluem os
pagãos dos benefícios de Deus e da cidadania em Israel, nem se resume a pedir
pela sua filha, mas discute com Jesus – torna-se teóloga! – defendendo a
dignidade do seu povo, reivindicando a igualdade de todas as pessoas e povos
diante de Deus.
Segundo Marcos, o
que faz Jesus “mudar” de opinião em relação aos pagãos não é a fé ou a simples
confiança da mulher, e sim o seu argumento: Deus é pai, e não trata nenhuma
pessoa ou povo como indigno ou impuro. O Reino de Deus, que é o horizonte no
qual Jesus se move e a causa maior que ele abraça, derruba os muros que
classificam e opõem as pessoas entre puras e impuras, judias e pagãs, filhas e
cães.
Infelizmente, o
sentimento de que “temos o que eles não têm” ou “somos melhores e mais
merecedores que eles” ainda vigora, e volta com virulência inaudita entre
grupos que se dizem cristãos. Ninguém esquece o teor de algumas manifestações
contra o Papa Francisco, a Conferência dos Bispos do Brasil, o ecumenismo, a
fraternidade universal e a defesa da diversidade patrocinadas pelas Campanhas
da Fraternidade dos últimos anos.
Meditação:
ü Releia o texto, procurando entender bem os
recursos literários e a questão central que está em discussão: a igualdade
diante de Deus
ü Qual seria a razão que leva grupos de cristãos
a se opor de modo tão virulento à ação social e ecumênica da Igreja do Brasil?
ü Como superar a contradição de quem reza
“Senhor, eu não sou digno que entres em minha casa” e continua pensando “Somos
melhores que os outros e temos o que eles não têm”?
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