252 | Ano B | Tempo Comum | 5ª Semana, Quarta | Marcos
7,14-23
07/02/2024
Ontem refletimos
sobre a primeira parte do confronto dos doutores da lei com Jesus em torno da questão
da pureza. Eles acham que Jesus ensina a relativizar a lei de Deus, e os seus discípulos
se comportam dessa maneira. Mas não é Jesus que desrespeita a Palavra de Deus,
e sim os próprios escribas, que a deviam ensiná-la e, na verdade, a esvaziam e
manipulam.
Mesmo que não
pareça à primeira vista, a questão da pureza é crucial na mensagem e na prática
de Jesus. Os rituais e preceitos de pureza tinham o objetivo de manter a
unidade fechada do judaísmo às custas da exclusão ou menosprezo de todos os
demais povos, culturas e religiões. A equação era simples: puro = judeu; impuro
= pagão. Portanto, por trás da discussão sobre a pureza e a purificação está a
questão da admissão dos excluídos como membros do povo de Deus.
A questão é tão
central que Jesus insiste, e voltará a isso com frequência: “Ouçam-me todos, e
entendam!” “Então, nem vocês (os discípulos) entendem?” Para as multidões,
Jesus esclarece a questão recorrendo a uma breve metáfora: assim como nenhum
alimento ingerido pode tornar uma pessoa impura, nenhuma relação com pessoas
pagãs pode desqualificar ou tornar impuro quem quer que seja.
Interrogado pelos
discípulos, Jesus explica a metáfora. Declarando puros todos os alimentos, ele
considera insustentável a separação entre judeus e pagãos. O que nos torna maus
ou inaceitáveis aos olhos de Deus não é o encontro, a acolhida e o diálogo com
as pessoas diferentes, de outras religiões ou de grupos, mas as atitudes,
práticas e pretensões de superioridade, de intolerância, de distanciamento.
Jesus destrói a
ideologia da pureza e solapa em suas bases a ideologia da separação e da
supremacia dos judeus sobre os pagãos. Ele declara que todos os alimentos são
puros, afirma que todas as pessoas possuem sua dignidade, e resgata a dignidade
dos excluídos, como quando “purifica” os leprosos. Jesus mostra que o sistema
de pureza, que diz proteger o povo, na verdade oprime os mais vulneráveis. E
hoje, o mito da meritocracia e a ideologia do empreendedorismo continuam
classificando e descartando pessoas.
Meditação:
ü Tome consciência de que Jesus não está a falar
de pureza ou impureza de alimentos, mas da inclusão ou exclusão de pessoas
ü Quais são os argumentos mais usados hoje para
defender a superioridade de alguns povos (religiões, classes) sobre outros?
ü Por que ainda tememos tanto a relação, a
cooperação e o diálogo com os pobres e marginalizados, com as demais Igrejas e
outras religiões?
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