sexta-feira, 5 de julho de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - 07.07.2024

APRENDER A VIVER DE JESUS

A vida de um cristão começa a mudar no dia em que descobre que Jesus é alguém que lhe pode ensinar a viver. Os relatos do Evangelho não se cansam de nos apresentar Jesus como Mestre. Alguém que possa ensinar uma sabedoria única. Essa sabedoria que tanto surpreende os seus vizinhos de Nazaré.

De fato, as primeiras pessoas que se encontraram com ele chamaram-se discípulos, quer dizer, alunos, homens e mulheres dispostos a aprender com o seu Mestre Jesus.

Os cristãos de hoje devem perguntar-se se não esqueceram que ser cristão é simplesmente viver aprendendo de Jesus, descobrindo a partir dele qual é a forma mais humana, mais autêntica e alegre de enfrentar a vida.

Quantos esforços não se fazem hoje para aprender a triunfar na vida: métodos para obter êxito no trabalho profissional; técnicas para conquistar amigos; artes para ter sucesso nas relações sociais. Mas onde aprender a ser simplesmente humanos?

São muitos os cristãos para quem Jesus não é de forma alguma a inspiração das suas vidas. Não conseguem ver que relação pode existir entre Jesus e o que eles vivem diariamente. Jesus converteu-se num personagem que acreditam conhecer desde crianças, quando na realidade continua a ser para muitos o grande desconhecido. Um Jesus sem consistência real, incapaz de animar a sua existência diária.

E, no entanto, esse Jesus mais conhecido e mais fielmente seguido poderia transformar a nossa vida. Não como o mestre que deixou um legado de sabedoria admirável à humanidade, mas como alguém vivo que, desde o mais profundo do nosso ser, nos acompanha com paciência, compreensão e ternura.

Ele pode ser nosso professor de vida. Pode ensinar-nos a viver, não para manipular os outros, mas para servir. Pode mostrar-nos que é melhor viver dando do que acumulando. Escutando a sua mensagem e seguindo os seus passos podemos aprender a viver de uma forma mais solidária e menos egoísta, a arriscar mais por tudo o que é bom e justo, a amar as pessoas como ele as amou, a confiar no Pai como ele confiava.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

Uma vida que vem de graça merece ser celebrada e festejada

Uma vida que vem de graça merece ser celebrada e festejada | 402 | 06.07.24 | Mateus  9,14-17

Ontem meditamos sobre o texto de Mt 9,9-13, que narrava o chamado de Mateus e a festa que ele deu a Jesus na sua própria casa. Da festa, participaram muitos outros pecadores e excluídos, como ele. Diante do manifesto escândalo dos fariseus, Jesus dizia que Deus quer misericórdia, e não sacrifícios, e que são os doentes os que precisam de médico. E é assim que ele faz: derruba todos os muros que separam e degraus que hierarquizam, e estabelece a igualdade.

Na cena de hoje, quem se aproxima é um remanescente grupo de discípulos de João Batista. Ele estranha o comportamento de Jesus que, segundo seu grupo, era pouco piedoso em relação ao jejum.  E o mesmo comportamento questionável era assumido pelos discípulos. “Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?” Não parece ser uma acusação, mas um questionamento sincero de quem havia recebido uma clara ordem de jejum e penitência e estava à espera do messias prometido pelos profetas.

Para Jesus, o tempo de espera terminou, o Sol da justiça raiou, o Noivo amado celebrou suas núpcias e o clima não pode ser outro que o de alegria e júbilo. Os estrangeiros, doentes ou pecadores, e todos os excluídos, são acolhidos e perdoados gratuitamente. Não há mais lugar para o jejum, que era uma prática destinada a suplicar o perdão de Deus. A chegada de Jesus, o Messias esperado, perdoa os pecados e altera radicalmente a situação social e espiritual.

Para ilustrar a radicalidade do tempo que inaugura, Jesus lança mão de três alegorias bem ligadas à vida cotidiana do seu povo e de fácil compreensão para todos: é inadmissível fazer luto e jejum quando estamos celebrando a festa de casamento de uma pessoa querida; é idiotice colocar um remendo de pano novo e bom num tecido totalmente arruinado; é inapropriado guardar vinho novo em barris velhos e frágeis, que podem pôr tudo a perder.

Os discípulos de Jesus vivem em comunidades alternativas, dedicados a acolher as pessoas e grupos marginalizados e a celebrar a alegria da chegada do “tempo da graça”, da festa dos pequenos. As práticas antigas são como roupa velha e como uma pipa apodrecida. É tempo de abandonar as velhas lições de morrer pela pátria e viver sem razões. Esperar não é saber. É preciso fazer a hora, sem esperar acontecer.

 

Meditação:

·    Como poderíamos descrever hoje a novidade do estilo de vida inaugurado e proposto por Jesus?

·    Quais seriam as práticas antigas que o Evangelho considera superadas, mas que muita gente ainda continua pregando?

·    Quais seriam os principais remendos que uma vida pouco cristã tenta pregar o tecido apodrecido do capitalismo e do egoísmo?

·    O que podemos fazer para tornar a vida cristã mais alegre, leve e libertadora?

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Jesus revela o coração de um Deus que age mediante a misericórdia

Jesus revela o coração de um Deus que age mediante a misericórdia | 401 | 05.07.24 | Mateus  9,9-13

Depois de curar uma pessoa paralítica, que contou com o auxílio de pessoas amigas, Jesus não reivindica para si mesmo os créditos do perdão e da cura. Ele passa do perdão – que é uma ação interior, cujos frutos não são visíveis – à cura, que é o lado visível da mesma ação. Diante do que viu, o povo ficou muito impressionado, com medo, e glorificou a Deus por ter dado tal poder a Jesus e aos seus discípulos.

Na cena de hoje, Jesus se encontra com Levi, que é cobrador de impostos, colaborador do império romano e, por isso, também considerado pecador, execrado e banido da convivência social e religiosa pelos judeus. Jesus não se orienta por preconceitos que excluem, pelas aparências e exterioridades. Partindo da base e da periferia social, ele chama e congrega pessoas de boa vontade para, com elas, iniciar uma comunidade alternativa. O grupo dos 12 é o embrião dessa comunidade.

Levi, que a tradição cristã identifica com o apóstolo Mateus, responde prontamente ao chamado de Jesus, e entra no seu caminho. Como não exclui ninguém da mesa do Reino, desde que a pessoa entre no dinamismo do Reino de Deus, Jesus se confraterniza com Levi na sua casa, seus colegas cobradores de impostos e muitas outras pessoas tratadas pelo judaísmo como pecadoras. Pecador é o termo usado pelas sagradas escrituras usado para designar e identificar quem desaprova ou não vive de acordo com as normas de um grupo.

Essa prática inclusiva e inovadora de Jesus desestabiliza a ordem social, e, por isso, é criticada pelos fariseus e mestres da lei. Esta manifestação da misericórdia de Deus é por eles vista como desconformidade com a vontade de Deus. A condescendência e a justiça de Deus, assim como é entendida e praticada por Jesus, deslegitima as práticas excludentes do judaísmo e seus representantes, e também dos seus sucessores nas igrejas de hoje.

Levi tomará parte desta comunidade vivificadora que compartilha recursos e estabelece relações estáveis de acolhida e inclusão, e passa a ser visto como modelo de discípulo e apóstolo. Ele entendeu que Deus quer misericórdia, e não legalismo, que Jesus veio para quem está necessitado, e não para quem se considera satisfeito. E esse deve ser o caminho das Igrejas e todos os seus organismos.

 

Meditação:

·    Retome a cena de Mateus trabalhando, sendo interpelado por Jesus, deixando tudo para segui-lo, e confraternizando-se com ele

·    Participe da cena, da alegria de Mateus e outros pecadores, da postura crítica dos fariseus e líderes do judaísmo

·    Contemple a vida de Jesus e, com Mateus, acolha e aprenda essa lição fundamental: Deus quer misericórdia e não sacrifícios

·    Como nós e nossas igrejas acolhemos e praticamos esse princípio fundamental que orienta toda a vida e a missão de Jesus?

quarta-feira, 3 de julho de 2024

O encontro vivo com Jesus Cristo nos liberta de todas as amarras

O encontro vivo com Jesus Cristo nos liberta de todas as amarras | 400 | 04.07.24 | Mateus  9,1-8

Jesus volta à Galileia e à sua cidade, depois de uma breve incursão humanitária e missionária em território pagão, onde sua ação emancipadora foi mal recebida pela população, que preferiu ficar com as migalhas de segurança do império romano a fazer a travessia para a liberdade e a autonomia. Também na Galileia, em sua terra e entre os seus, sua ação libertária causa desconforto, divisão e polêmica. Entende-se, por isso, que Jesus seja seguido e vigiado de perto pelos mestres da lei, tanto os enviados pelo templo como os que viviam na região.

Eis que um homem paralítico e, por isso, em situação de marginalização social e religiosa, é levado por seus familiares e vizinhos à presença de Jesus. Para tanto, seus amigos superam diversas barreiras e, no incansável empenho deles, Jesus reconhece o dinamismo e a força da fé que os move, acolhe com ternura o paralítico chamando-o de filho. Como Jesus conhece a estreita relação que a cultura estabelece entre enfermidade e pecado, começa sua intervenção removendo ou perdoando o pecado, e conclui mandando que ele se levante e caminhe, emancipado e autônomo.

Os representantes da elite religiosa, que se manifesta pela primeira vez no pensamento e no protesto dos mestres da lei, acusam Jesus de estar usurpando o poder de Deus e, por isso, blasfemando contra Deus. Eles se consideram os únicos intérpretes autorizados da lei e defensores exemplares da ortodoxia. Como leu o que motivou a ação das pessoas que levaram o paralítico até ele, Jesus também lê os pensamentos dos seus opositores, e os acusa de pensar e tramar o mal, de estarem, com essa atitude, se afastando da vontade de Deus.

Como enviado e comissionado pelo Pai, Jesus não reivindica para si mesmo os créditos do perdão e da cura. Ele passa do perdão – ação interior, cujos frutos não são visíveis – à cura, que é o lado visível da mesma ação. O evangelista diz que, diante do que viu, o povo ficou com medo (temor ou trepidação frente a um claro sinal da presença de Deus) e glorificou a Deus por ter dado tal poder a Jesus e aos seus discípulos (“aos homens”). É claro que nessa nota de Mateus, ressoa também a experiência já consolidada da comunidade cristã, que, décadas depois, continua fazendo o que aprendeu de Jesus.

 

Meditação:

·    Contemple a cena passo a passo, palavra por palavra, gesto por gesto, e deixe-se envolver nela

·    O que o gesto e as palavras de Jesus significam para você, na situação em que vive hoje na Igreja e na sociedade?

·    Quais são as pessoas em dificuldade que você ajudou a “carregar” até Jesus para que pudessem reencontrar a vida?

·    Quem são as pessoas que continuam conduzindo você a um encontro vivo e revitalizador com Jesus?

terça-feira, 2 de julho de 2024

Nossa fé lança sua âncora no testemunho dos apóstolos

Nossa fé lança sua âncora no testemunho dos apóstolos | 399 | 03.07.24 | João 20,24-29

Na festa de São Tomé, bebemos das fontes joaninas. É em João que encontramos algo mais que o nome desse operário da primeira hora. Além da cena um pouco contraditória de hoje, João nos apresenta Tomé disposto a seguir Jesus na caminhada até Jerusalém para com ele enfrentar a morte (cf. Jo 11,6), mas, diante do iminente “êxodo” de Jesus, manifesta seu profundo desconcerto: “Não sabemos para onde vais; como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14,5)

O contexto da cena do evangelho de hoje é pascal, e Tomé aparece separado da comunidade, com dificuldades de aceitar o testemunho unânime dos seus condiscípulos, que afirmam que Jesus está vivo. Para Tomé, o testemunho da comunidade não é suficiente. Parece que ele está esperando uma manifestação individual ou uma prova extraordinária. Mas o lugar de Jesus é entre os seus, como entendera bem Maria Madalena. Por isso, ao que parece, Tomé representa os discípulos que impõem condições e exigências para crer.

Mas, não obstante a dúvida dele, ou, talvez, por causa das objeções apresentadas por ele, Jesus volta a se mostrar presente no seio da comunidade, agora com a presença de Tomé. As portas fechadas denotam uma comunidade claramente alternativa à lógica que predomina na sociedade, uma comunidade com um estilo de vida próprio. E Jesus se manifesta a todos os presentes, e não apenas a Tomé, como parece ter sido o desejo dele. Depois de se dirigir a todos, finalmente volta-se a Tomé. Como prova do seu amor fiel, Jesus toma a iniciativa no diálogo com ele, e o convida a tocar os sinais da sua entrega total, conatural e inseparável do seu amor e sua memória.

A ressurreição de Jesus não significou seu afastamento da humanidade, mas a realização máxima da vocação humana. Tocando nas chagas de Jesus, Tomé finalmente comunga e faz sua a carne e o sangue de Jesus. E, ao chamá-lo “meu Senhor”, estabelece com ele uma relação pessoal, como Maria Madalena o fizera. Dirigindo-se a Deus como “meu Deus”, Tomé reconhece em Jesus um Deus próximo, acessível, humano, e não mais um Deus altíssimo e inacessível. 

Finalmente, Jesus adverte Tomé por ele não ter acreditado no testemunho da sua comunidade, lugar da sua presença viva e continuada. E a bem-aventurança de quem acredita sem ver, que a Tomé soou como um convite a caminhar no claro-escuro da fé, Jesus a dirige também a nós, pois aceitamos o testemunho de quem nos precedeu.

 

Meditação:

·    Participe da cena descrita, da alegria e do testemunho dos discípulos, da resistência de Tomé, da delicadeza da presença de Jesus

·    Visualize o rosto e o nome de pessoas, de ontem e de hoje, a partir de cujo testemunho de vida você acredita na presença de Deus no mundo

·    Em que situações você se percebe impondo condições para crer em Jesus e segui-lo, querendo ver para crer?

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Jesus sempre se importa com a vida de cada pessoa

Jesus sempre se importa com a vida de todas e de cada pessoa | 398 | 02.07.24 | Mateus  8,23-27

A cena de hoje é uma sequência da anterior, quando Jesus advertia e corrigia aqueles que desejam ser seus discípulos sem darem-se conta da novidade, das exigências e das rupturas que essa decisão comporta. Hoje contemplamos a travessia anunciada anteriormente, e a cena nos remete às situações de dificuldade acarretadas pelo seguimento de Jesus e pelas travessias para situações culturais novas e hostis.

Na travessia, Jesus toma a iniciativa, vai à frente, como mestre e guia. Mas ele já havia dito que a estrada que conduz ao Reino de Deus é estreita, e que a sua porta não é larga. Ele havia falado também da força destruidora dos temporais sobre a casa construída sobre a areia, sobre uma adesão que fica na superficialidade e não se faz prática. A agitação do mar é uma alusão indireta a isso, e também às ameaças e à tirania do império romano, símbolo de todos os sistemas de dominação.

Depois de tomar a iniciativa e iniciar a travessia, Jesus dorme, tranquilo e confiante no barco agitado pelas ondas. Os discípulos se agitam mais que o mar, pois não têm a confiança demonstrada pouco anos pelo centurião romano. Mais que impaciência, eles revelam medos não superados e fé insuficiente; interpelam e questionam Jesus, como se ele não se importasse com as ameaças que pairam sobre aqueles que o seguem.  É bom não esquecer que essa não é uma situação isolada, mas uma sensação que se repete amiúde, como hoje, diante das ameaças globais ou locais.

Antes de reagir à interpelação que lhe dirigem, Jesus questiona e desafia a qualidade da fé dos discípulos que o acompanham. Eles precisam efetivamente construir a casa sobre a rocha! Depois, Jesus “ameaça” e põe o mar no seu devido lugar. Como o mar, também os discípulos se acalmam, e ficam admirados. Mais que isso, eles se perguntam sobre a identidade desse Jesus que eles seguem, e percebem que não o conhecem suficientemente, nem conhecem a si mesmos.

As adversidades e tribulações enfrentadas com serenidade e confiança nos ajudam a aprofundar o conhecimento sobre Jesus Cristo e põem à prova a nossa fé. Precisamos perguntar-nos sempre de novo sobre quem é nosso guia e quem somos nós. Precisamos também rever e questionar com atenção, seriedade e serenidade os fundamentos sobre os quais construímos nossa vida.

 

Meditação:

·    Jesus está plenamente confiante na necessidade e no êxito da sua missão, tanto que repousa tranquilamente

·    Os discípulos são tomados pelo medo e até duvidam se Jesus está minimamente preocupado com eles

·    Quais são as travessias que mais lhe amedrontam e imobilizam? Em que situações você teve a impressão de que Jesus esteve alheio?

·    De que modo tais situações ajudam você a conhecer melhor Jesus Cristo e a você mesmo/a e à sua família ou comunidade?