Enquanto caminhamos na história,
estamos imersos na ambivalência | 428 | 01.08.24 | Mateus 13,47-53
Jesus termina a sessão na qual fala do Reino de
Deus lançando mão de várias parábolas demonstrando sua preocupação em ser
entendido pela multidão e com a boa formação dos discípulos: “Compreendestes
tudo isso?” “Tudo isso” se refere às parábolas e ao dinamismo do Reino de Deus na
história, mas também ao seu ensino e à sua ação como um todo. Ele sabe que
entra a escuta e a compreensão há um longo caminho de conversão a ser
percorrido. E nós também sabemos que a conversão é um dinamismo tão belo quanto
exigente.
Compreender significa aderir à Boa Notícia e colocá-la
em prática, e Jesus estava consciente do risco de que seus ouvintes não
conseguirem ou não desejarem mudar sua mentalidade e sua visão de Deus e do
mundo. E os fatos posteriores mostrarão as dificuldades reais dos discípulos em
compreender e mudar. O caminho da conversão de mentalidade é longo e exigente!
Com a explicação da parábola da rede que pega uma
grande diversidade de peixes, Jesus volta à questão da existência de práticas
de vida contrastantes, tanto na sociedade em geral como na comunidade dos
discípulos e discípulas. Os peixes maus ou inaproveitáveis são as pessoas,
grupos e setores que resistem aos propósitos de Deus manifestados por Jesus. Os
bons são os discípulos e discípulas que perseveram no longo e complexo caminho
do amadurecimento.
A tentação do fundamentalismo e da separação dos
discípulos que se julgam bons e puros dos outros é permanente, assim como o
risco de ficar nas velhas tradições herdadas, nas “antigas lições de viver pela
pátria e viver sem razões”. Cada nova geração precisa entender claramente a
dinâmica do Reino de Deus na história, que comporta tensões, ambivalências,
imperfeições, crescimento. Mas, no final, o mal e os malvados não terão a
última palavra.
Tonar-se discípulo de Jesus supõe compromisso real
e consequente com ele e disposição para aprender sempre, de mudar e alargar visão
e padrões de avaliação. Jesus é o próprio modelo do especialista na Palavra,
que sabe tirar coisas velhas e novas desse tesouro, mais coisas novas que
coisas velhas. Os valores valem, mas precisam manter a capacidade de iluminar
os novos problemas e os novos desafios. O que é velho, bom, permanente e não
muda é somente a misericórdia e a compaixão de Deus. Nisso ele não muda!
Meditação:
· Como o sentido dado por Jesus à parábola da rede
ilumina nossas urgências e estimula nossa paciência com quem se mostra lento ou
resistente às mudanças?
· Que luzes a imagem da rede que recolhe peixes
bons e ruins traz para nossa convivência familiar, comunitária e social?
· Como conjugar paciência com urgência, evitando criminalizar
ou excluir quem diverge ou se opõe a nós?
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