O Evangelho do Reino é um tesouro que
levamos em vasos de barro | 423 | 27.07.24 | Mateus 13,24-30
Ao lado da parábola do semeador, a parábola do
trigo e do joio é uma das mais conhecidas dos leitores, cristãos e não
cristãos. É verdade que, para não resvalarmos para uma interpretação parcial e
arbitrária do dinamismo do Reino de Deus, precisamos ler conjuntamente todas as
parábolas do Reino. Mas cada uma delas tem seu próprio conflito subjacente e
seu foco.
Depois de termos meditado a parábola do semeador e
uma das suas possíveis interpretações, hoje somos colocados diante de uma nova
parábola. Qual seria o conflito ou a preocupação que subjaz à parábola do trigo
e do joio? A quais questionamentos ela se propõe a responder? No contexto literário
é difícil perceber, pois, no capítulo 13, Mateus agrupa um conjunto de
diferentes parábolas, como se fosse um livreto separado.
A ambiguidade dos pensamentos e sentimentos, nossos
e dos outros, nos atordoam. É difícil aceitar a ambivalência dos acontecimentos,
instituições e estruturas. Por que as coisas e pessoas não são mais simples,
transparentes e coerentes? Até a Igreja, comunidade dos discípulos de Jesus,
que nasceu para ser sinal eloquente e unívoco de Jesus e do Reino de Deus, tem
suas contradições e sombras que colaboram para desbotar as cores vivas do
Reino.
Parece-me que é este conjunto de questões, que
rondam os cristãos de ontem e hoje, que a parábola do trigo e do joio quer
iluminar. Assim como Deus viu que as criaturas que brotaram de suas generosas
mãos de artista são belas e boas, também a semente do Reino de Deus espalhada
pelos cristãos nos diversos terrenos da missão são boas e fecundas. Mas a
história e o tempo continuam sendo o terreno das imperfeições e do crescimento.
A história é marcada pela ambiguidade.
Não adianta lamentar, nem é possível separar e
excluir as pessoas que taxamos como maldosas ou menos boas enquanto estamos a
caminho. Se é pelos frutos (que quase sempre chegam no final da vida das
plantas), e não pelas folhas e pelas aparências, que conhecemos as árvores, é
também pelas ações que realizamos (e não pelas fotos e pelas falas) que
demonstramos quem somos e que conheceremos os outros. Aqui nada é puro, nada é
perfeito, nem a Igreja: somos um povo santo e pecador.
Meditação:
· Procure ler e entender esta parábola do Reino
relacionando-a com as parábolas do fermento e da semente de mostarda
· O que Jesus quer nos ensinar com a parábola do
trigo e do joio? Será a passividade diante do mal?
· Em que medida somos iludidos pelo sonho de uma
Igreja e um mundo sem ambiguidades, descanso para quem desistiu de lutar?
· Como evitar o engano de pensar que o tempo da
colheita chegou, e colocarmo-nos como colhedores e não como trigo?
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