As escrituras nos apresentam um Deus
compassivo e misericordioso | 415 | 19.07.24 | Mateus 12,1-8
Nesta cena a questão central que Jesus discute com
os fariseus parece ser a questão da obediência à Lei. Porém, sobressai outra
questão, mais importante: as leis e costumes que controlam a comida e o acesso
a ela. A recorrente menção do evangelista ao campo de trigo, aos grãos e à
fome, ao ato de comer, tanto dos discípulos como de Davi e seus companheiros,
não deixa dúvidas. O sistema econômico limitava o direito dos pobres à
alimentação, e os fariseus agiam para limitar aos discípulos o acesso ao
alimento. O império da legalidade impedia a segurança alimentar do povo mais
pobre.
Temos visto como o ensinamento e a prática de Jesus
são alternativos, e confrontam e desafiam as leis e sistemas, e não apenas as
leis religiosas. Jesus revoluciona o papel da lei, do templo e a própria imagem
de Deus. Ele é o filho do homem, o Senhor, o enviado pelo Pai, para revelar e
realizar a sua vontade, anunciada nas escrituras, mas esvaziada pelo templo.
Deus é misericórdia, e de nós ele espera misericórdia, e não cultos vazios e
duros legalismos que penalizam os que já enfrentam tantas penas. A questão não
se resume em admitir a existência de Deus, mas em afirmar que ele é compaixão,
e demonstrar essa compaixão das próprias relações.
A misericórdia é a essência do relacionamento de
Deus com suas criaturas, é a forma da justiça divina na relação com o ser
humano, e praticá-la significa reconhecer Deus assim como ele é, e enfrentar e
superar as práticas restritivas que limitam ou impedem o acesso dos seus filhos
e filhas aos direitos humanos básicos, como a alimentação. A misericórdia é o
dinamismo que brota da internalização das misérias do próximo, e esse dinamismo
torna impossível a indiferença, a dominação e a opressão. É isso que Jesus faz,
com a maior liberdade, e fazem seus discípulos/as. A fome tem prioridade sobre
as leis e instituições.
Jesus questiona fortemente a interpretação
restritiva e fria das escrituras ensinada e praticada pelos fariseus, que se
mostram sempre tão corretos. Por duas vezes ele questiona: “Nunca lestes?” E
adverte: “Se tivesses compreendido o que significa...” na verdade, a
interpretação que eles fazem das escrituras é limitada e interesseira. Jesus é
maior que o templo e a lei, é a superação de ambos e a chave-de-leitura da
verdadeira religião. Para ele, a lei, o templo e o alimento pertencem a Deus, e
crer é fazê-los acessíveis a todos. Tudo isso e tudo o mais está abaixo do
querer de Deus.
Meditação:
· Você identifica também hoje sinais de uso da fé
para se dispensar da atenção à vida das pessoas?
· E o que dizer da economia liberal, que faz da
comida, da água, da saúde e de tudo o mais uma simples mercadoria, limitando o
acesso de multidões a ela?
· Como colocar em prática hoje, na sua família e
na sua comunidade, a vontade de um Deus que prioriza a misericórdia e não a
lei, o culto e os sacrifícios?
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