domingo, 14 de julho de 2024

A força transformadora do Evangelho gera tensões e divisões

A força transformadora do Evangelho gera tensões e divisões | 411 | 15.07.24 | Mateus 10,34-11,1

O final da catequese missionária de Jesus segundo o evangelho de Mateus é surpreendente e, para alguns, pode inclusive soar como estranho. Ele, cujo nascimento foi celebrado como paz na terra, que disse que são felizes os fazedores de paz, que pediu que seus enviados saudassem a todos desejando a paz, diz agora que não veio trazer a paz, mas a espada e a divisão, inclusive a divisão no interior da própria família. O que aconteceu com Jesus e como podemos interpretar esse ensino de forma coerente com o restante do Evangelho?

De fato, o que provoca divisão não é uma vontade deliberada nossa ou de Jesus, mas a novidade e o dinamismo transformador do Reino de Deus. O que Jesus quer é que o Reino de Deus ganhe espaço e força, revolucionando as relações humanas, sociais, políticas, culturais e econômicas. E, diante disso, ninguém pode ficar indiferente. O projeto do Reino de Deus e a lógica predominante na sociedade, segundo a qual “quem pode mais chora menos”, se opõem radicalmente. O Reino de Deus é como uma espada que divide e pede uma lealdade sem meias palavras.

A lealdade a Jesus e aos valores do Reino de Deus deve estar inclusive acima dos valores da família patriarcal, por mais que haja, também hoje, quem deseje mantê-la e promove-la em nome da civilização cristã. Amar mais a Jesus que aos familiares significa colocar ele e o Reino de Deus, a fraternidade sem fronteiras, acima de todos os outros valores e vínculos. Neste sentido, Jesus é uma espada que divide!

É na adesão ao Reino de Deus que encontramos felicidade e vida abundante. A acomodação e as alianças com o “cada um para si” conduzem à frustração. Tomar a cruz e seguir Jesus significa aceitar a humilhação e a rejeição, mas não necessariamente o sofrimento. Implica em subverter a ordem, em permanecer leal a Jesus, vivendo e testemunhando a vida nova do Reino, até ao martírio.

Se isso tudo nos parece estranho e nos assusta, como assustou aos discípulos daquele tempo, Jesus nos consola: ele e o Pai estarão presentes nos seus discípulos, e quem recebe seus discípulos missionários, recebe a ele. Nenhum gesto de hospitalidade e solidariedade, por menor que seja, cairá no vazio. Eis o modo de ganhar a vida, de não perder o dom que recebemos.

 

Meditação:

·    Sublinhe ou se detenha na frase ou afirmação de Jesus que lhe parece mais estranha, paradoxal ou surpreendente

·    Procure confrontar essa palavra com a vida e missão de Jesus, especialmente sua entrega na cruz

·    Que rupturas a lealdade a Jesus e ao Reino de Deus, professada solenemente no batismo, lhe pede hoje?

·    Repita os versículos que falam da acolhida aos discípulos/as, e deixe que estas palavras reverberem em sua mente e seu coração

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