sábado, 20 de julho de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - 21.07.2024

DESCANSO RENOVADOR

É uma alegria para o crente encontrar-se com um Jesus, pois ele sabe compreender as necessidades mais profundas do ser humano. Por isso enche-se a nossa alma de alegria quando ouvimos o convite que dirige aos seus discípulos: «Vinde para um lugar tranquilo e descansem um pouco».

Os homens necessitam festejar. E talvez hoje mais do que nunca. Submetidos a um ritmo de trabalho inflexível, escravos de ocupações e tarefas por vezes esgotadoras, necessitamos desse descanso que nos ajude a libertar-nos da tensão, do desgaste e da fadiga acumulada ao longo dos dias.

O homem contemporâneo acabou frequentemente por ser escravo da produtividade. Tanto nos países socialistas como nos países capitalistas, o valor da vida foi reduzido, na prática, à produção, à eficiência e ao desempenho no trabalho. Segundo H. Cox, o homem atual «comprou a prosperidade ao preço de um vertiginoso empobrecimento dos seus elementos vitais». A verdade é que todos corremos o risco de esquecer o valor último da vida para nos afogarmos no ativismo, no trabalho e na produção.

A sociedade industrial tornou-nos mais trabalhadores, mais bem organizados, mais eficazes, mas, ao mesmo tempo, há muitos que têm a impressão de que a vida se lhes escapa tristemente entre as mãos. Por isso o descanso não pode ser apenas a pausa necessária para repor as nossas energias esgotadas ou a válvula de escape que nos liberta das tensões acumuladas, para voltar com novas forças ao trabalho habitual.

O descanso deveria ajudar-nos a regenerar todo o nosso ser, descobrindo novas dimensões da nossa existência. A festa deve recordar-nos que a vida não é só esforço e trabalho esgotador. O ser humano foi eito também para desfrutar, para brincar, para desfrutar da amizade, para rezar, para agradecer, para adorar… Não devemos esquecer que, acima das lutas e das rivalidades, todos estamos chamados a partir de agora a desfrutar como irmãos da festa que um dia será definitiva.

Temos que aprender a fazer férias de outra forma. Não se trata de ficar obcecado em passar bem a todo o custo, mas de saber disfrutar com simplicidade e gratidão os amigos, a família, a natureza, o silêncio, os jogos, a música, o amor, a beleza, a convivência. Não se trata de nos esvaziarmos na superficialidade de uns dias vividos de forma louca, mas de recuperar a harmonia interior, cuidar mais das raízes da nossa vida, encontrar-nos conosco mesmo, desfrutar da amizade e do amor das pessoas, desfrutar de Deus através de toda a criação.

E não esqueçamos algo importante. Só temos direito ao descanso e à festa se nos cansarmos diariamente no esforço por construir uma sociedade mais humana e feliz para todos.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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