A autoridade só é legítima se promove e liberta
928 | 15 de dezembro de 2025 | Mateus 21,23-27
O que esta passagem do
evangelho de Mateus tem a ver com a preparação para o Natal? Ela está
localizada no final da peregrinação missionária de Jesus, já no espaço do
templo central do país, em Jerusalém. Jesus havia chegado no templo e, com o
chicote na mão, expulsado os vendedores que exploravam o povo. Ele quer que o
templo seja um espaço de encontro, não um lugar de opressão.
Os sumos sacerdotes ficam incomodados
com este gesto e com todo o ensino de Jesus, pois, com palavras e com ações,
ele desafia e questiona a sacralidade do templo e a autoridade dos seus
controladores. Sacerdotes e anciãos constituíam uma elite social, econômica,
política e religiosa, baseada na origem, no saber, nas riquezas e nas alianças
políticas. Esta elite era politicamente legitimada pelo império romano e
moralmente pelo templo.
Os sumos sacerdotes não se
importam com o fato de o templo ter deixado de ser casa de oração e de encontro
e ter sido transformado numa espelunca de rapinadores. Eles preferem questionar
a autoridade de Jesus para fazer o que ele faz, perguntam quem o legitima, com
que licença ou autorização ele age. É claro que a autoridade e a liberdade de
ação de Jesus incomodam a todos eles.
Por isso, em nome da
instituição do templo, os sacerdotes apresentam a Jesus uma pergunta, que, na
verdade, é uma armadilha. Jesus não pode basear sua autoridade na origem
social, nos bens, no estudo ou em alguma aliança política. E se disser que sua
autoridade vem de Deus, automaticamente ele deslegitima os sacerdotes e anciãos
e, por causa disso, pode ser acusado de blasfêmia.
Jesus sabe que sua
vida e missão estão intimamente ligadas à vida e missão de João Batista. Por
isso, não sem uma certa astúcia, responde à pergunta deles com outra pergunta.
Os examinadores passam a ser examinados; os buscadores de lã acabam tosquiados.
Quem deveria demonstrar sua legitimidade é quem não se importa
com a opressão!
Eles sabem a resposta, mas calam. Se reconhecem
João como profeta, reconhecem. O nosso encontro com Jesus hoje também passa
pelo reconhecimento dele como enviado de Deus para transformar as pessoas, as
sociedades e as religiões. É nisso que qualquer autoridade é legitimada, e, fora
disso, o poder, inclusive o poder religioso, desliza perigosamente e se
aproxima da usurpação e do despotismo.
Sugestões para a
meditação
§ Há quem hoje se comporte como os
chefes dos sacerdotes e os saduceus, que “fazem olho grande” aos abusos contra
os pobres?
§ Em que você baseia sua autoridade para
anunciar o Evangelho e denunciar profeticamente os abusos contra os pobres e
humildes?
§ O que precisamos “expulsar” de nossas
preocupações e projetos para reconhecer Jesus e acolhê-lo de fato entre nós
neste Natal?
§ Que desculpas e justificativas estamos
apresentando hoje para não levar a sério o projeto de Jesus e lançar-nos na
construção do Reino de Deus?
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