Só os humildes reconhecem um Deus despojado
915 | 02 de dezembro de 2025 | Lucas 10,21-24
A espiritualidade do advento é a lente que usamos para ler e
entender os textos bíblicos sugeridos à nossa meditação e oração neste período
tão intenso da vida litúrgica. E estes óculos dirigem nosso olhar para os
pequenos sinais, para os grandes sonhos, para a preparação e a acolhida de algo
novo e determinante para nossa vida e para a história, que está acontecendo
sutilmente no mundo.
O
pequeno trecho do evangelho de Lucas que hoje nos ilumina e alimenta é o
coração da sua obra: a reação jubilosa e calorosa de Jesus à breve ação
missionária dos setenta e dois discípulos e discípulas. Neles, Jesus vê a
abertura e a disponibilidade do povo à novidade libertadora de Deus. Com isso, Jesus
nos chama à simplicidade, à abertura e ao discernimento que nos fazem capazes
de reconhecer e acolher o “Deus Pequeno” que nos vem visitar, morar entre nós e
ser nosso companheiro e libertador.
Jesus
se defrontou com a arrogância e a autossuficiência dos líderes religiosos e das
elites culturais, sociais e econômicas do seu tempo. Elas tendiam a manipular o
nome e a imagem de Deus em benefício deles mesmos e contra as pessoas simples.
Por isso, Jesus diz que o Deus verdadeiro, o seu Pai e nosso pai, decidiu
conscientemente não se revelar aos membros dessas elites. Mais ainda, Jesus que
Deus esconde a eles seu rosto.
Jesus
conhecia também a profundidade e a sinceridade da fé das pessoas simples e
humildes. Elas não são eticamente superiores ou melhores que ninguém, mas estão
em condições de reconhecer e acolher com alegria a revelação de Deus, porque
essa revelação não é um saber, mas uma capacidade de amar e servir. Essa
revelação não nos faz mais sabidos, mas nos torna mais dóceis e generosos. E se
a docilidade e a generosidade vêm de Deus, não são mérito de ninguém e não
conhecem limites.
Jesus exulta profundamente diante
desse duplo movimento conscientemente desejado por Deus: revelar seu rosto e o
mistério da sua vontade aos pequenos e humildes e escondê-los aos sábios e
arrogantes. E associa seus discípulos a essa revelação, pois eles o seguem e
nele acreditam. Jesus sabe tudo dos mistérios do Pai, e o Pai o ama e confia
nele. E é no encontro vivo e missionário com Jesus, e não com a lei ou com o templo,
que alcançamos a salvação, que chegamos a ser pessoas plenamente livres e
realizadas. Sigamos de modo sereno e confiante no caminho dos pequenos e
humildes.
Sugestões para a
meditação
§ Leia atentamente
esta cena e estas palavras de Jesus, relacionando-as com o conjunto do seu
ensinamento
§ A espiritualidade
do advento nos oferece uma perspectiva muito própria para a escuta e a
compreensão do Evangelho
§ Este tempo nos
convida à vigilância do porteiro, à escuta despojada, à atenção aos pequenos
sinais
§ Quem conhece suas
atitudes, dirá que você está entre os sábios e doutores ou entre os simples e
humildes?
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