O Filho de Deus tem suas raízes na humanidade
930 | 17 de dezembro de 2025 | Mateus 1,1-17
A
nós que bebemos da cultura ocidental, as genealogias bíblicas nos parecem
enfadonhos e inúteis. Mas, para a cultura do tempo de Jesus, elas eram um modo
de assegurar a pertença a um povo. No caso do evangelho de hoje, Mateus, mesmo
sem apresentar uma genealogia completa (Moisés e os profetas não são citados), tem
como objetivo demonstrar que Jesus pertence ao povo hebreu, é um israelita
legítimo, um verdadeiro descendente de Davi.
As
genealogias são quase sempre tradições patriarcais, centradas nas figuras masculinas
(mesmo que a maternidade seja absolutamente segura, e a paternidade possa ser
duvidosa). Mas Mateus incluiu surpreendentemente cinco mulheres na genealogia
de Jesus: Tamar (filha de prostituta), Raab (prostituta cananéia), Rute
(estrangeira, pertencente a um povo acusado de ter se originado de um incesto),
a “mulher de Urias” (mulher sem nome, abusada sexualmente pelo rei Davi) e
Maria de Nazaré.
Incluindo
estas mulheres nas origens de Jesus, Mateus deslegitima o patriarcado, sublinha
a providência de Deus e destaca a inclusão de pessoas e povos marginalizados
nos seus planos e intervenções. Silenciando sobre o pai biológico de Jesus
(“José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus”, Mateus
deslegitima mais uma vez a ideologia e o domínio patriarcal. Deus não precisa
do apoio do gênero predominante para realizar sua obra salvadora.
Num primeiro
plano, Maria de Nazaré é incluída no grupo das outras quatro mulheres (ela é
filha da humanidade e, como Jesus, descendente de Abraão, o pai do povo
hebreu). Mas, ao mesmo tempo, Maria introduz uma novidade: nela se manifesta a
encarnação de um Deus que intervém na história elevando os humilhados e
relativizando os poderes e ideologias, inclusive o patriarcado. E Jesus,
compartilhando conosco as raízes humanas, é o Filho de Deus, enviado para que
sejamos plenamente humanos.
O evangelho de hoje ilumina o primeiro dia da Novena
do Natal. Ele nos convoca a acolher Jesus como Filho enviado por Deus, como
irmão da humanidade. Se é certo que o mistério de Jesus só se explica se o
ligamos àquele que o enviou, também não o compreenderemos se ignorarmos suas
raízes que alcançam a humanidade mais profunda. Como ele, somos acolhidos pelo
Pai e enviados para levar todas as pessoas a serem a grande família de Deus,
sem exclusões.
Sugestões para a
meditação
§ Retome a
genealogia, prestando atenção na inserção das figuras femininas e em algumas
omissões (Moisés, os Profetas...)
§ Perceba a mudança
da lógica narrativa quando fala da geração de Jesus em Maria: “Jacó gerou José,
o esposo de Maria, da qual nasceu o Cristo”
§ O que significa,
para você, lembrar que Maria pertence a um povo que tem líderes exemplares e
outros tantos medíocres e violentos?
§ O que significa o
fato de Maria ser citada entre mulheres desprezadas?
§ Procure
identificar, entre seus antepassados, as pessoas que a família não gosta de
citar como parentes
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