sábado, 19 de janeiro de 2013

100 anos da chegada dos MSF no Amapá


100 anos da chegada dos MSF em Macapá

Macapá antiga
Macapá, em 1910
Macapá, juntamente com Mazagão, foi uma das primeiras cidades na região amazônica a receber a presença dos Missionários da Sagrada Família. Macapá, foi fundada em 1758, chegou a ter mais de 4.000 habitantes no auge do ciclo econômico da borracha. Foi assim que nossos missionários a encontraram, quando chegaram e assumiram o apostolado paroquial no dia 19 de janeiro de 1912. Esta presença, mesmo tendo sido breve em termos de tempo, merece ser recordada e celebrada.
Devemos recordar que somente no final do século XIX o Brasil descobriu o valor econômico Amazônia e abriu a região à navegação dos países amigos e incrementou a navegação a vapor. Mas o fator desencadeador de tudo o mais foi o crescimento vertiginoso da produção da borracha. O ciclo econômico da borracha atraiu, naquele período, mais de meio milhão de nordestinos flagelados pela grande seca de 1877. A população amazônica, que em 1872 era de 337.000 habitantes, passou para 1,1 milhão em 1906.
O resultado foi um significativo incremento da economia regional e o crescimento da população, mas também diversos conflitos e até o extermínio de vários povos indígenas. A borracha chegou a ser o segundo produto no ranking de exportações do Brasil. Mas a riqueza de alguns, como sempre, se construiu sobre a miséria e expropriação dos trabalhadores. A partir de 1912, com o crescimento da produção de látex na Malásia, a economia amazônica entrou em crise e o povo local experimentou mais uma vez a miséria.
A dinamização da economia e da população amazônicas, assim como a necessidade de amenizar os conflitos entre índios e seringueiros, provocados pela invasão das áreas indígenas, solicitava uma presença mais decisiva da Igreja. A criação e a organização de prelazias e prefeituras apostólicas foi uma primeira resposta. Mas faltavam os agentes. E aqui entram os missionários e missionárias estrangeiras que foram chegando em grande número.
Pe. Julio Maria de Lombaerde msf
Entretanto, muitas destas congregações que chegaram à região amazônica – sem excluir os MSF! – estavam fortemente imbuídas da superioridade européia­ocidental e das teses de barbarização, demonização, infantilização e domesticação que sempre foram usadas contra os habitantes da Amazônia. Pode-se dizer que, na região amazônica, em termos gerais, o processo eclesial e missionário do início do século XX significou, por parte da hierarquia católica, uma guerra declarada contra a religião dos indígenas, tapuios e caboclos, e ao mesmo tempo, contra as estruturas que sustentassem essa religião.
A crise da borracha, que se alastrou pela região a partir de 1917, foi fatal para a cidade de Amapá. A população diminuiu rapidamente. O povo empobrecido afastou­-se para o interior e para as ilhas vizinhas. Conforme um relato do Pe. Júlio Maria de Lombaerde msf, em 1924 a população não passava de 2.000 pessoas, dos quais 200 eram brancos e outros duzentos negros; os demais eram resultado da miscigenação de brancos, índios e negros.
O jovem e atento missionário anota: "Eram descendentes de antigos escravos alforriados. Devido à mestiçagem, apareceram os cafuzos, mulatos e caboclos. Habituados aos trabalhos pesados, ficaram à margem da sociedade. As mulheres, de modo especial, sentiam-­se diminuídas, complexadas e subjugadas pelos maridos."
Itacir Brassiani msf

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