100
anos da chegada dos MSF em Macapá
Macapá, em 1910 |
Macapá, juntamente com
Mazagão, foi uma das primeiras cidades na região amazônica a receber a presença
dos Missionários da Sagrada Família. Macapá, foi fundada em 1758, chegou a ter mais de 4.000 habitantes
no auge do ciclo econômico da borracha. Foi assim que nossos missionários a
encontraram, quando chegaram e assumiram o apostolado paroquial no dia 19 de
janeiro de 1912. Esta presença, mesmo tendo sido breve em termos de tempo,
merece ser recordada e celebrada.
Devemos recordar que
somente no final do século XIX o Brasil descobriu o valor econômico Amazônia e
abriu a região à navegação dos países amigos e incrementou a navegação a vapor.
Mas o fator desencadeador de tudo o mais foi o crescimento vertiginoso da produção da borracha. O ciclo
econômico da borracha atraiu, naquele período, mais de meio milhão de
nordestinos flagelados pela grande seca de 1877. A população amazônica, que em
1872 era de 337.000 habitantes, passou para 1,1 milhão em 1906.
O resultado foi um
significativo incremento da economia regional e o crescimento da população, mas
também diversos conflitos e até
o extermínio de vários povos indígenas.
A borracha chegou a ser o segundo produto no ranking de exportações do Brasil.
Mas a riqueza de alguns, como sempre, se construiu sobre a miséria e expropriação dos trabalhadores.
A partir de 1912, com o crescimento da produção de látex na Malásia, a economia
amazônica entrou em crise e o povo local experimentou mais uma vez a miséria.
A dinamização da
economia e da população amazônicas, assim como a necessidade de amenizar os conflitos entre índios e seringueiros,
provocados pela invasão das áreas indígenas, solicitava uma presença mais
decisiva da Igreja. A criação e a organização de prelazias e prefeituras
apostólicas foi uma primeira resposta. Mas faltavam os agentes. E aqui entram os missionários e
missionárias estrangeiras que foram chegando em grande número.
Pe. Julio Maria de Lombaerde msf |
Entretanto, muitas
destas congregações que chegaram à região amazônica – sem excluir os MSF! – estavam
fortemente imbuídas da superioridade
européiaocidental e das teses de barbarização, demonização,
infantilização e domesticação que sempre foram usadas contra os habitantes da
Amazônia. Pode-se dizer que, na região amazônica, em termos gerais, o processo
eclesial e missionário do início do século XX significou, por parte da
hierarquia católica, uma guerra
declarada contra a religião dos indígenas, tapuios e caboclos, e ao
mesmo tempo, contra as estruturas que sustentassem essa religião.
A crise da borracha, que
se alastrou pela região a partir de 1917, foi fatal para a cidade de Amapá. A população diminuiu rapidamente. O povo
empobrecido afastou-se para o interior e para as ilhas vizinhas.
Conforme um relato do Pe. Júlio Maria de
Lombaerde msf, em 1924 a população não passava de 2.000 pessoas, dos quais
200 eram brancos e outros duzentos negros; os demais eram resultado da
miscigenação de brancos, índios e negros.
O jovem e atento
missionário anota: "Eram descendentes de antigos escravos alforriados.
Devido à mestiçagem, apareceram os cafuzos, mulatos e caboclos. Habituados aos
trabalhos pesados, ficaram à margem da
sociedade. As mulheres, de modo especial, sentiam-se diminuídas,
complexadas e subjugadas pelos maridos."
Itacir Brassiani
msf
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