Pastor Pat Robertson |
A maldição haitiana
Em janeiro de 2010, um terromoto engoliu boa parte do
Haiti e deixou mais de duzentos mil mortos.
No dia seguinte, Pat Robertson, telepastor evangélico,
explicou lá dos Estados Unidos: o pastor de almas revelou que os negros
haitianos eram os culpados pela sua liberdade. O Diabo, que os havia libertado
da França, estava mandando a conta.
O terromoto havia sido o ponto culminante da longa
tragédia de um país sem sombra e sem água, que havia sido arrasado pela
voracidade colonial e pela guerra contra a escravidão.
Os amos destronados explicam isso de outra maneira: o vodu tinha e tem culpa de todas as
desgraças. O vodu não merece ser
chamado de religião. Não é nada além de uma superstição vinda da África, magia
negra, coisa de negros, coisa do Diabo.
Terremoto: apenas mais uma tragédia |
A Igreja Católica, onde não faltam fiéis capazes de
vender unhas de santos e plumas do arcanjo Gabriel, conseguiu que esta
superstição fosse legalmente proibida no Haiti em 1845, 1860, 1915 e 1942.
Nos últimos tempos, o combate contra a superstição
corre por conta das seitas evangélicas. As seitas vêm do país de Pat Robertson:
um país que não tem 13° andar em seus edifícios nem fileira 13 nos seus aviões,
e onde são maioria os civilizados cristãos que acreditam que Deus fabricou o
mundo em uma semana.
(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2012,
p. 27-28)
Nenhum comentário:
Postar um comentário