quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Fatos & Personagens: Antão


O eremita Antônio do Egito


No dia 17 de janeiro, católicos, anglicanos, luteranos, ortodoxos, maronitas e coptas celebram a memória de Antônio, o Grande, eremita no deserto egípcio (também conhecido como Antão), considerado o fundador da vida religiosa. Infelizmente, são poucas as informações históricas que temos sobre ele. Escrevendo a Vida de Antão no ano 360, Santo Atanásio faz mais que uma biografia: ele descreveu simbolicamente o monacato que existia na época. Antão é apresentado como ícone o protótipo da vida monástica.

Oriundo de uma família cristã, Antão nasceu no ano 270. Foi um cristão popular que nunca freqüentou a escola. Ouvindo as palavras do Evangelho "vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres", vendeu tudo, entregou suas irmãs aos cuidados de terceiros e começou a viver asceticamente em sua própria casa: trabalho manual, escuta da escritura, oração, atenção a si mesmo, vigílias, jejuns, amabilidade, caridade. A origem de sua vocação não é filosófica mas bíblica: sentiu-se interpelado a ser semelhante aos apóstolos.

Numa segunda fase, Antão foi ao deserto. Na cultura daquele tempo, o deserto era visto como o lugar da tentação. Retirou-se num castelo abandonado onde aprofundou sua separação do mundo durante 20 anos. Reapareceu depois de duas décadas como um homem transfigurado: pacífico, sereno, jovial, alegre, cheio do Espírito. Tornou-se pai e guia espiritual. Ensinava os discípulos a superarem a si mesmos, a lutar contra o mal, a discernir os espíritos e confiar em Deus. Nele aparecem os grandes temas da vida monástica.

A retirada para o deserto é a expressão material e geográfica de uma atitude de colocar-se à margem da sociedade nascente. O deserto representa o lugar da purificação, a atitude de peregrinação, o desafio da passagem, da conversão. Esta retirada era mais uma estratégia que uma desistência.  Não era uma evasão, mas uma busca de solução, um recuo tático. “O monge era assim um cristão que, em nome do Evangelho, tomava uma atitude crítica em face do mundo e suas estruturas”.

O eremitismo e o monaquismo eram um movimento de volta ao Evangelho que se realizava no interior de um clima de recusa da sociedade e da Igreja daquele tempo. Estas pessoas eram denominadas anacoretas (separados), e buscavam a solidão como meio para qualificar o convívio. O ideal era ser homens que encontram a paz consigo mesmos, que se libertam dos egoísmos.

“Marginal relativamente à sociedade de seu tempo, e mesmo à Igreja estabelecida, o monaquismo foi, nos seus primórdios, sobretudo um movimento popular. Nasceu no meio do povo simples, no meio dos camponeses... Por isso, o trabalho manual era uma das suas exigências fundamentais.” Era uma forma de produzir para repartir com os pobres e um modo de se equiparar aos homens e mulheres da base social.

"O monaquismo situa-se na passagem do mundo pagão para o mundo cristão. É um aprofundamento da vida cristã, uma espécie de psicanálise coletiva com a finalidade de purificar todo o cosmos e fazer avançar a força do Evangelho. Realiza uma terapia universal e um exorcismo coletivo e histórico... É um movimento carismático e profético que ninguém poderia ter imaginado nem programado." Tratava-se de uma aventura, uma vida nova que não tinha modelos e requeria abertura e imaginação.

Itacir Brassiani msf

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