O eremita Antônio do Egito
No dia 17 de
janeiro, católicos, anglicanos, luteranos, ortodoxos, maronitas e coptas
celebram a memória de Antônio, o Grande,
eremita no deserto egípcio (também conhecido como Antão), considerado o fundador
da vida religiosa. Infelizmente, são poucas as informações históricas que temos
sobre ele. Escrevendo a Vida de
Antão no ano 360, Santo Atanásio faz mais que uma biografia: ele
descreveu simbolicamente o monacato que existia na época. Antão é apresentado
como ícone o protótipo da vida monástica.
Oriundo de
uma família cristã, Antão nasceu no ano 270. Foi um cristão popular que nunca freqüentou a escola. Ouvindo
as palavras do Evangelho "vai, vende tudo o que tens e dá aos
pobres", vendeu tudo, entregou suas irmãs aos cuidados de terceiros e começou a viver asceticamente em sua própria
casa: trabalho manual, escuta da escritura, oração, atenção a si
mesmo, vigílias, jejuns, amabilidade, caridade. A origem de sua vocação não é filosófica mas bíblica:
sentiu-se interpelado a ser semelhante aos apóstolos.
Numa segunda
fase, Antão foi ao deserto.
Na cultura daquele tempo, o deserto era visto como o lugar da tentação.
Retirou-se num castelo abandonado onde aprofundou sua separação do mundo durante 20 anos. Reapareceu depois
de duas décadas como um homem transfigurado: pacífico, sereno, jovial, alegre,
cheio do Espírito. Tornou-se pai e
guia espiritual. Ensinava os discípulos a superarem a si mesmos, a
lutar contra o mal, a discernir os espíritos e confiar em Deus. Nele aparecem
os grandes temas da vida monástica.
A retirada
para o deserto é a expressão material e geográfica de uma atitude de colocar-se à margem da sociedade
nascente. O deserto representa o lugar da purificação, a atitude de
peregrinação, o desafio da passagem, da conversão. Esta retirada era mais uma
estratégia que uma desistência. Não era
uma evasão, mas uma busca de solução, um recuo tático. “O monge era assim um cristão que, em nome do Evangelho, tomava uma
atitude crítica em face do mundo e suas estruturas”.
O eremitismo
e o monaquismo eram um movimento de volta ao Evangelho que se realizava no
interior de um clima de recusa da
sociedade e da Igreja daquele tempo. Estas pessoas eram denominadas anacoretas (separados), e buscavam a solidão como meio para qualificar
o convívio. O ideal era ser homens que encontram a paz consigo
mesmos, que se libertam dos egoísmos.
“Marginal relativamente à sociedade de seu
tempo, e mesmo à Igreja estabelecida, o monaquismo foi, nos seus primórdios,
sobretudo um movimento popular. Nasceu no meio do povo simples, no meio dos
camponeses... Por isso, o trabalho manual era uma das suas exigências
fundamentais.” Era uma forma de produzir para repartir com os pobres e
um modo de se equiparar aos homens e mulheres da base social.
"O
monaquismo situa-se na passagem do
mundo pagão para o mundo cristão. É um aprofundamento da vida cristã, uma espécie de psicanálise coletiva com a finalidade
de purificar todo o cosmos e fazer avançar a força do Evangelho. Realiza uma
terapia universal e um exorcismo coletivo e histórico... É um movimento
carismático e profético que ninguém poderia ter imaginado nem programado."
Tratava-se de uma aventura, uma vida nova que não tinha modelos e requeria
abertura e imaginação.
Itacir
Brassiani msf
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