O homem mais feio do Brasil cria a mais alta beleza da
arte colonial americana. O Aleijadinho talha em pedra a glória e a agonia de
Ouro Preto, a Potosí do ouro.
Filho de uma escrava africana, esse mulato tem
escravos que o movem, o lavam, lhe dão de comer e atam os cinzéis aos seus
cotocos de braço.
Atacado pela lepra, ou sífilis, ou quem sabe o quê, o
Aleijadinho perdeu um olho e os dentes e os dedos, mas esse resto dele talha
pedras com as mãos que faltam.
Noite e dia trabalha, como vingando-se, e brilham mais
que o ouro seus cristos, suas virgens, seus santos, seus profetas, enquanto a
fonte do ouro é cada vez mais avara em fortunas e mais pródiga em desventuras e
revoltas.
Ouro Preto e a região inteira querem dar razão à
antecipada sentença do conde de Assumar, que foi seu governador: “Parece que a
terra exala tumultos e a água, motins; as nuvens vomitam insolências e os
astros, desordens; o clima é tumba de paz e berço de rebeliões.”
(Eduardo Galeano, Espelhos, L&PM, 2008, p. 158)
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