quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Icones da missão: Maria no Cenáculo


Maria: presença na 'sala de cima'


Então voltaram para Jerusalém, do monte chamado das Oliveiras, o qual está perto de Jerusalém, à distância do caminho de um sábado. E, entrando, subiram à sala de cima, onde estavam reunidos Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, irmão de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos.  (Atos dos Apóstolos 1,12-14)

Falar de ti é como sentir-se parte de uma imensa multidão que inspiraste durante quase dois mil anos. Tu povoaste as horas de trabalho e descanso de todo um povo. Debulhando as próprias dificuldades, teu povo sempre  apresentou a ti suas penas e esperanças. Os lábios dos crentes, homens e mulheres, continuam a murmurar: Ave Maria!

Hoje me detenho na tua última imagem, num tempo de ausência do teu Filho, que é também o nosso tempo. Tu provaste o cansaço das nossas jornadas vazias da Sua presença visível, privadas da Sua Palavra. Tu também sentiste saudades de um encontro no qual os olhos conseguiam ver, os ouvidos podiam ouvir, os braços podiam abraçar.

Mas tu não estavas presente no monte com os Onze quando Ele partia. Tu estavas na cidade, na ‘sala de cima’, esperando por eles. Fizeste isso para orientar a Ele aquele grupo de gente de família, de apóstolos, de mulheres. E para mantê-los no coração da história.

Por isso te pedimos: atende e acolhe também a nós! Não nos deixes criar zonas de fuga, mesmo sob o pretesto de espiritualidade. Ensina-nos a permanecer dentro da história, sabendo; dentro da realidade, ousando; dentro da humanidade, abraçando este mundo que, desde sempre, traz o perfume do Verbo. Tu compreendeste isso desde os dias da gestação!

Ninguém mais que tu sabe que o Filho era un filho humano, um corpo verdadeiro, de carne; um corpo nunca rejeitado, nem mesmo no Seu retorno ao Pai. Tu lho deste, mas era o nosso corpo: era esta atribulada e fascinante terra, esta atribulada e fascinante história. Se o ignorarmos, ignoraremos também a ti. Tu nos asseguras para sempre que o Filho era verdadeiramente como nós: um ‘nascido de mulher’.

Por isso, te pedimos, mulher entre todas a mais corajosa: espera-nos na cidade, em meio aos rumores, sirenes, fumaças e propagandas; onde nos bordeja e nos envolve a solidão; onde nos debatemos e desencontramos; onde vencemos e perdemos. Conserva-nos dentro dos acontecimentos que nos constringem, sob o peso e as alegrias de um cotiniano marcado por encontros, tribulações, filas, taxas e debates... Faz com que nos apaixonemos pelo mundo, e que jamais renunciemos à comum fadiga de torná-lo habitável.

Mas espera-nos na ‘sala de cima’. De lá poderemos contemplar lugares e coisas distantes: a criança da Síria, que pergunta o porquê da guerra; o idoso da África, que fala de um tempo em que as mulheres iam cantando ao campo e os homens iam à caça ao ritmo dos tambores; a vovó solitária do condomínio, que vaga na estação da cidade... A ‘sala de cima’ é um lugar no qual não nos perdemos em falsas questões e nos apaixonamos pela vida real.

Orienta o nosso olhar ainda além, em direção ao horizonte que nos abriu teu bendito Filho. E então aprenderemos de onde vem e para onde vai esta história; intuiremos qual é a obra que está em andamento. Então nossos vários deuses se esvanecerão e aparecerá o rosto de um Pai. Uma nova vida nos será oferecida, e também um novo nome: Filhos e Filhas! E nos descobriremos cidadãos do céu e estrangeiros em todo lugar.

É na mesa da ‘sala de cima’ que aprendemos tudo isso. Lá teu Filho, repartindo o pão e servindo o vinho, nos ofereceu o corpo que tu havias dado a Ele. Lá Ele nos ensinou o que é o amor. Lá Ele embaralhou todas as nossas leis, nossas justiças, nossos cálculos. Aquele corpo doado nos libertou do afã de viver unicamente para nós mesmos. Dá-nos a consciência e a convicção, ó Virgem, dee que tudo é dom; que a cidade nova desce do alto; e que o nosso engajamento deve ser radical e total. Ajuda-nos a voltar à ‘sala de cima’, mesmo quando percorremos as frenéticas ruas da cidade.

O Espírito te havia cobrido com sua sombra, fazendo-te mãe do Filho de Deus. Faze-nos descobrir onde estão nossas verdadeiras esterilidades, e ensina-nos o caminho para produzir um fruto que permaneça. Tu eras uma de nós, mas nos ultrapassaste. Pede por nós e conosco o Sopro do alto, o Espírito do teu Filho. Amém!

(Teresina Caffi, In cammino con il Vangelo, EMI, 2008, p. 22-25)

Nenhum comentário: