Promover a Paz imaginando um sistema econômico diverso
O ano
novo civil se abre com um dia dedicado à promoção da Paz. A Igreja Católica se
engaja nesta iniciativa e, há 46 anos, oferece uma breve reflexão para a Jornada Mundial pela Paz (JMP). O tema
proposto pelo Papa para o ano 2013 é inspirado no conhecido Sermão da Montanha:
“Felizes os que promovem a Paz” (Mt 5,9), colocando em foco tanto a pessoa que
promove a Paz como as circunstâncias ou os componentes culturais e econômicos
deste precioso valor humano.
O mito da prioridade do crescimento econômico
Bento XVI
pede que as pessoas engajadas na promoção da Paz não aceitem o mito apregoado pela ideologia do liberalismo e da tecnocaria, segundo o qual o
crescimento econômico é um bem que deve ser garantido mesmo à custa dos
direitos humanos, da função social do Estado e das redes de solidariedade da
sociedade civil. A verdade bem é outra: os direitos e deveres sociais são
fundamentais para a plena realização dos demais direitos, a começar pelos
direitos civis e políticos, sem os quais não há Paz duradoura.
Não
podemos cair na ilusão de crer que o crescimento econômico – um objetivo em si
mesmo questionável quando é apresentado como único ou prioritário – depende
sobretudo da liberdade total dos mercados. O trabalho não pode ser considerado
uma simples variável dependente dos
mecanismos econômicos e financeiros, estes sim, tratados como uma constante. O acesso de todos os cidadãos ao trabalho deve ter prioridade sobre o
simples crescimento economico e sobre liberdade dos mercados. Sem isso, a
Paz corre perigo.
Subordinar a economia e à desenvolvimento à promoção da Paz
Cresce no
mundo o consenso de que é necessária e urgente a elaboração de uma nova visão da economia e de um novo modelo de desenvolvimento. Segundo
Bento XVI, o modelo de desenvolvimento que prevaleceu nas últimas décadas
apostou tudo na maximização do consumo e do lucro, numa ótica individualista e
agoísta, avaliando a pessoa humana simplesmente pela sua capacidade de
responder às exigências da competitividade. É para isso que nascemos e vivemos?
Uma vida
plena de sentido só pode ser alcançada no dom
de si mesmo, dos dotes intelectuais e da própria capacidade de iniciativa.
Um desenvolvimento econômico sustentável e autenticamente humano tem
necessidade do princípio da gratuidade.
Por isso, no âmbito econômico, o/a promotor/a da Paz é uma pessoa que cria
relações de reciprocidade e lealdade com os demais, desenvolve a atividade
econômica tendo em vista o bem comum,
levando em conta as gerações presentes e futuras e o meio ambiente.
Na sua
mensagem para a JMP, Bento XVI também lembra que urge a reestruturação ética dos mercados monetário, financeiro e
comercial. Estes mercados precisam ter regras e instâncias de controle e coordenação,
de modo a não causar danos aos países e extratos sociais mais pobres e,
positivamente, beneficiar antes de tudo a estes. Benvinda uma autoridade mundial, capaz de zelar por
aquilo que é bem comum de toda a humanidade!
A falta de alimentos também ameaça a Paz!
Por fim,
o Papa pede que a atenção dos/as promotores/as da Paz se volte também à crise alimentar mundial, muito mais grave e mais danosa
que a crise financeira, e da qual a maioria dos Estados e instituições
multilaterais não fazem caso. A questão da segurança das provisões alimentares
voltou a ter lugar na agenda política internacional naquilo que se refere à variação
dos preços dos alimentos nas bolsas de valores, ao comportamento irresponsável
por parte de alguns agentes econômicos e ao insuficiente controle por parte dos
Estados e dos organismos internacionais.
Aqui
os/as promotores da Paz são chamados/as a trabalhar de forma solidâria e
articulada, começando no âmbito local e chegando ao nível internacional,
passando pelo nacional e pelo regional. Uma iniciativa particularmente
importante é lutar para que sejam garantidas aos pequenos agricultores e
pequenas comunidades rurais as condições para que possam realizar seu trabalho
de modo digno e sustentável, tanto do ponto de vista econômico como do ponto de
vista social e ambiental.
Mas os/as
promotores/as da Paz não podem ficar nisso. O grande desafio é trabalhar para
que a alimentação seja considerada e
assegurada como um direito humano fundamental. Este já é um direito
reconhecido pela ONU, mas o poder dos grandes trustes do agronegócio é tal que eles
continuam impondo seus interesses quando se trata de elaborar leis positivas
para assegurar a exigibilidade desse direito no interior dos países e de punir
os agentes que o desrespeitam.
Itacir
Brassiani msf
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