quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Jornada Mundial pela Paz 2013


Promover a Paz imaginando um sistema econômico diverso


O ano novo civil se abre com um dia dedicado à promoção da Paz. A Igreja Católica se engaja nesta iniciativa e, há 46 anos, oferece uma breve reflexão para a Jornada Mundial pela Paz (JMP). O tema proposto pelo Papa para o ano 2013 é inspirado no conhecido Sermão da Montanha: “Felizes os que promovem a Paz” (Mt 5,9), colocando em foco tanto a pessoa que promove a Paz como as circunstâncias ou os componentes culturais e econômicos deste precioso valor humano.

O mito da prioridade do crescimento econômico

Bento XVI pede que as pessoas engajadas na promoção da Paz não aceitem o mito apregoado pela ideologia do liberalismo e da tecnocaria, segundo o qual o crescimento econômico é um bem que deve ser garantido mesmo à custa dos direitos humanos, da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil. A verdade bem é outra: os direitos e deveres sociais são fundamentais para a plena realização dos demais direitos, a começar pelos direitos civis e políticos, sem os quais não há Paz duradoura.

Não podemos cair na ilusão de crer que o crescimento econômico – um objetivo em si mesmo questionável quando é apresentado como único ou prioritário – depende sobretudo da liberdade total dos mercados. O trabalho não pode ser considerado uma simples variável dependente dos mecanismos econômicos e financeiros, estes sim, tratados como uma constante. O acesso de todos os cidadãos ao trabalho deve ter prioridade sobre o simples crescimento economico e sobre liberdade dos mercados. Sem isso, a Paz corre perigo.

Subordinar a economia e à desenvolvimento à promoção da Paz

Cresce no mundo o consenso de que é necessária e urgente a elaboração de uma nova visão da economia e de um novo modelo de desenvolvimento. Segundo Bento XVI, o modelo de desenvolvimento que prevaleceu nas últimas décadas apostou tudo na maximização do consumo e do lucro, numa ótica individualista e agoísta, avaliando a pessoa humana simplesmente pela sua capacidade de responder às exigências da competitividade. É para isso que nascemos e vivemos?

Uma vida plena de sentido só pode ser alcançada no dom de si mesmo, dos dotes intelectuais e da própria capacidade de iniciativa. Um desenvolvimento econômico sustentável e autenticamente humano tem necessidade do princípio da gratuidade. Por isso, no âmbito econômico, o/a promotor/a da Paz é uma pessoa que cria relações de reciprocidade e lealdade com os demais, desenvolve a atividade econômica tendo em vista o bem comum, levando em conta as gerações presentes e futuras e o meio ambiente.

Na sua mensagem para a JMP, Bento XVI também lembra que urge a reestruturação ética dos mercados monetário, financeiro e comercial. Estes mercados precisam ter regras e instâncias de controle e coordenação, de modo a não causar danos aos países e extratos sociais mais pobres e, positivamente, beneficiar antes de tudo a estes. Benvinda uma autoridade mundial, capaz de zelar por aquilo que é bem comum de toda a humanidade!

A falta de alimentos também ameaça a Paz!

Por fim, o Papa pede que a atenção dos/as promotores/as da Paz se volte também à crise alimentar  mundial, muito mais grave e mais danosa que a crise financeira, e da qual a maioria dos Estados e instituições multilaterais não fazem caso. A questão da segurança das provisões alimentares voltou a ter lugar na agenda política internacional naquilo que se refere à variação dos preços dos alimentos nas bolsas de valores, ao comportamento irresponsável por parte de alguns agentes econômicos e ao insuficiente controle por parte dos Estados e dos organismos internacionais.

Aqui os/as promotores da Paz são chamados/as a trabalhar de forma solidâria e articulada, começando no âmbito local e chegando ao nível internacional, passando pelo nacional e pelo regional. Uma iniciativa particularmente importante é lutar para que sejam garantidas aos pequenos agricultores e pequenas comunidades rurais as condições para que possam realizar seu trabalho de modo digno e sustentável, tanto do ponto de vista econômico como do ponto de vista social e ambiental.

Mas os/as promotores/as da Paz não podem ficar nisso. O grande desafio é trabalhar para que a alimentação seja considerada e assegurada como um direito humano fundamental. Este já é um direito reconhecido pela ONU, mas o poder dos grandes trustes do agronegócio é tal que eles continuam impondo seus interesses quando se trata de elaborar leis positivas para assegurar a exigibilidade desse direito no interior dos países e de punir os agentes que o desrespeitam.

Itacir Brassiani msf

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