A história oficial do Brasil continua chamando de inconfidências, ou seja, deslealdades,
as primeiras rebeliões pela independência nacional.
Antes que o príncipe português se transformasse em
imperador brasileiro, houve várias tentativas patrióticas. As mais importantes
foram a Inconfidência Mineira, em
Ouro Preto, que em 1789 morreu no ovo, e a Inconfidência
Baiana, que explodiu em 1794, em Salvador, e se prolongou durante quatro
anos.
O único protagonista da Inconfidência Mineira que foi enforcado e esquartejado era um
militar de baixa patente, Tiradentes. Os demais conspiradores, senhores da alta
sociedade mineira fartos de pagar impostos coloniais, foram indultados.
A Inconfidência
Baiana durou mais e chegou mais longe. Não apenas lutou por uma república
independente, mas também pela igualdade de direitos sem distinção de raças.
Quando já tinha corrido muito sangue e a rebelião
havia sido vencida, o poder nacional indultou os protagonistas, com quatro
exceções: Manoel Lira, João Nascimento, Luís Gonzaga e Lucas Dantas foram
enforcados e esquartejados. Os quatro eram negros, filhos ou netos de escravos.
Há quem acredite que a justiça é cega.
(Eduardo Galeano, Espelhos, L&PM, 2008, p. 160)
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