Cinzas sobre Brasas: a incapacidade de
acolher o dom do Espírito
O
pontificado de Francisco continua a provocar dificuldades e tensões em setores
da igreja católica. Mais uma vez observamos a presença crítica de Vittorio
Messori no Jornal Italiano Corriere della Sera, na véspera de natal
(24/12/2014), lançando suas críticas ao papa Francisco. Tudo feito de forma bem
programada, evitando ataques mais diretos, mas destilando suspeição sobre a
ação pastoral de Francisco. Fiquei impressionado com esse artigo: “I dubbi
sulla svolta di Papa Francesco”. Messori, sublinha que sua avaliação do
pontificado titubeia entre a adesão e a perplexidade. Mas é claro que prevalece
a PERPLEXIDADE. O que a ele mais causa espanto em Francisco é o que chama de
IMPREVISIBILIDADE.
A
seu ver, são as surpresas de Francisco que continuam “perturbando a
tranquilidade do católico médio” (sic!). Para Messori, esse católico – a seu
ver – estaria mais estabilizado com uma imagem mais tradicional de papa, e
Francisco surpreende... Entre as reflexões de Francisco que provocam escândalo
no colunista, a ideia expressa na entrevista com Eugenio Scalfari a respeito de
Deus: “Eu creio em Deus. Não num Deus católico, não existe um Deus católico,
existe Deus”. Para Messori, trata-se algo que não combina com a imagem sagrada
da Ecclesia una, sancta, apostólica, romana. E ironiza a perspectiva mais
aberta acenada por Francisco. E destila sua ironia: “Como se a Igreja una,
santa, católica, apostólica, romana fosse algo opcional, como um acessório que
se pudesse ligar ou não, segundo um gosto pessoal”. Como em outras vezes, o que
mais irrita Messori em Francisco é o que identifica com um certo “populismo”,
que capta um vasto interesse mas que se revela superficial e efêmero...
Reagindo
ao texto de Messori, Leonardo Boff acaba de escrever, em 28/12/2014, uma
resposta firme, com a intenção de publicá-la no mesmo periódico italiano:
“Appogio ao Papa Francesco contro un scrittore nostálgico”. Daí ter saído o
texto em italiano, antes mesmo de sua edição brasileira. O objetivo de Boff é
reagir às oposições a Francisco que vão se firmando em muitos lugares. São
reações críticas ao seu modo de agir pastoral, aberto, ecumênico e sintonizado
com a causa dos pobres. Quem são esses “católicos médios” que se sentem
abalados com a ação pastoral de Francisco? Responde Boff: “São, geralmente,
católicos culturais habituados à figura faraônica de um Papa com todos os
símbolos do poder dos imperadores pagãos romanos. E agora aparece um Papa
´franciscano` que ama os pobres, que não veste ´Prada`, que faz uma dura
crítica ao sistema que produz miséria em grande parte do mundo, que abre a
Igreja não só aos católicos, mas a todos aqueles que levam o nome de ´homens e
mulheres`, sem que sejam julgados, mas acolhendo-os no espírito da ´revolução
da ternura`”.
Para Boff, o artigo de Messori vem como encomenda de grupos críticos a Francisco, e ele se faz porta-voz desses segmentos nostálgicos. Boff sinaliza que leu o artigo de Messori com tristeza, e com a infelicidade de ser publicado na véspera do Natal. Sublinha três insuficiências no artigo de Messori, duas de natureza teológica e uma de compreensão da igreja do terceiro mundo. No âmbito teológico, a dificuldade de encontrar lugar para o Espírito Santo na igreja, aquele que vem identificado com “a fantasia de Deus”. Quando Messori reage à “imprevisibilidade” do papa, na base está uma dificuldade teológica de acolher o dom do Espírito. A igreja, sublinha Boff, deve estar sempre aberta à “irrupção do Espírito”. Outra dificuldade importante vem identificada por Boff com a dificuldade de Messori entender e captar a novidade eclesial que acompanha a emergência de uma igreja que respira os ares do Terceiro Mundo. Francisco ecoa uma perspectiva eclesial nova, de igrejas-fonte, com seus mártires, confessores e teólogos.
Para Boff, o artigo de Messori vem como encomenda de grupos críticos a Francisco, e ele se faz porta-voz desses segmentos nostálgicos. Boff sinaliza que leu o artigo de Messori com tristeza, e com a infelicidade de ser publicado na véspera do Natal. Sublinha três insuficiências no artigo de Messori, duas de natureza teológica e uma de compreensão da igreja do terceiro mundo. No âmbito teológico, a dificuldade de encontrar lugar para o Espírito Santo na igreja, aquele que vem identificado com “a fantasia de Deus”. Quando Messori reage à “imprevisibilidade” do papa, na base está uma dificuldade teológica de acolher o dom do Espírito. A igreja, sublinha Boff, deve estar sempre aberta à “irrupção do Espírito”. Outra dificuldade importante vem identificada por Boff com a dificuldade de Messori entender e captar a novidade eclesial que acompanha a emergência de uma igreja que respira os ares do Terceiro Mundo. Francisco ecoa uma perspectiva eclesial nova, de igrejas-fonte, com seus mártires, confessores e teólogos.
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