Amar
é adaptar-se, mudar.
A falta de adaptação gera angústia, repressão. Em
nosso modo de agir, arestas pontiagudas e constantes podem estar voltadas para
o nosso irmão. Arestas do nosso egoísmo, inveja, ciúme, ódio, competição,
dominação, etc. Para suavizar estas
arestas, é mister adaptar-se aos irmãos, pôr-se de igual para igual, deixar-se
questionar por eles.
É esta a atitude adulta, madura. A criança é
inadaptada. Não satisfeita em seus caprichos, chora, esperneia, atira-se ao
chão, agride... E nós, tornamo-noss mal-humorados, deprimidos, amargurados. Por
quê?
Uma verdadeira vida de comunidade transforma o irmão.
“Como fulano mudou!...” Afirmações como essa comprovam que não só ele mudou: a
fraternidade também.
Amar
é respeitar-se uns aos outros.
A falta de respeito chama-se vulgarmente intriga,
crítica, murmuração. Na comunidade, estas são coisas que envenenam a atmosfera.
Em tal clima, ninguém confia em ninguém. Não se fala com sinceridade. Vive-se
na defensiva. Quando não sabemos construir, compensamo-nos destruindo.
Amar é não julgar. Amar é não condenar. São Francisco
recomendava aos seus irmãos: “Respeitem-se com silêncio!” É necessário criar
uma espécie de culto ao silêncio, no sentido de não falar mal, de guardar
silêncio sagrado sobre as confidências, os defeitos e a singularidade dos
irmãos.
Feliz a comunidade que tem ao menos uma ou duas
pessoas amadurecidas, a quem se pode confidenciar tudo, seguros de que elas
tudo guardam a sete chaves, e vão à sepultura com elas... Em vez de ser um condenador, é bem melhor ser um bom condecorador.
Amar
é aceitar e compreender o outro.
Isso significa assumir, elevar e redimir o irmão. O
“outro” é-nos um desconhecido. Estamos sempre diante do mistério do irmão. E
mistério não se discute: aceita-se, contempla-se, admira-se, adora-se!
Pode ser que exista um irmão difícil, mas isso não
significa que ele seja mau. Amar é perdoar gratuitamente. E é também agradecer.
Aceitar é sair de si, colocar-se no lugar do irmão,
dentro dele, vê-lo a partir dele mesmo. É considerá-lo como um presente de
Deus, abrir-se a ele em forma de serviço, atenção, estima, estímulo. É
admiti-lo como alguém diferente de mim.
Amar
é acolher e comunicar.
Acolher é abrir no meu íntimo um espaço, um lugar para
o irmão, inclusive para o irmão antipático. É abrir as portas da intimidade,
franquear as portas que dão entrada ao meu próprio santuário.
Comunicar é abrirmos as portas interiores uns para os
outros, é acolher-se reciprocamente. Daí nasce a confiança e, depois, a alegria
fraterna, sinal evidente de uma real fraternidade. A comunicação profunda, os
encontros existenciais, as relações interpessoais, sempre vão muito além das
palavras.
Amar
é deixar-se amar.
Quantos de nós temos medo de ser amados?! A timidez
vem do complexo de inferioridade, da insegurança, dos bloqueios emocionais
gerados por experiências de frustração. É preciso entender e ajudar as pessoas
tímidas, sem achatá-las ainda mais.
Por sentir-se fraca, a pessoa complexada pode
tornar-se autoritária e escudar-se na autoridade, e até assumir postura segura
e decisões inflexíveis. E sempre se defender, mesmo através da manipulação.
Amar
é formar uma família.
Só serve para a Vida Religiosa quem é capaz de
construir um lar feliz, quem serve para o matrimônio; e vice-versa! Quem não sabe
amar não serve nem para uma nem para a outra.
Ninguém vive sem família. Deixamos a nossa família de sangue...
Já constituímos nossa nova família? Ou só temos uma família jurídica? Nossa
comunidade, nossa Congergação é nossa nova família? Se não for, por quê ainda
não o é?
No matrimônio casam-se duas interioridades que se
projetam uma para a outra, e o resultado é a intimidade. Onde, em vez
de suas interioridades, forem cinco ou dez, todas saindo de si e projetando-se
mutuamente, o resultado é a fraternidade. Esta é como uma nova
criatura, que nasce da fecundidade do amor, da mútua doação. E então estaremos
num lar feliz...
Amar
é simplesmente amar.
Isso significa, ter um coração afetuoso no trato com
os irmãos (cf. Rm 12,9-10), ser amável, bondoso, carinhoso. Por quê algumas
pessoas, com o passar do tempo, vão se tornando arredias e até agressivas e
azedas?
O amor cura, liberta, plenifica. Faltando o amor, o
que vem é a morte! Para amadurecer, a fruta necessita do calor do sol; os
filhotes de aves, precisam do calor da mãe. E nós?! Por quê será que, no fim da
vida, São João só pregava o amor?!
Pe. Rodolpho Ceolin msf
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