sábado, 6 de dezembro de 2014

SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA (ANO B – 08.12.2014)

Deus nos chama todos a ser santos e imaculados no Amor!
Na caminhada que nos prepara para o Natal, fazemos uma parada para celebrar Maria. Hoje recordamos sua imaculada concepção. Com a ajuda de uma bela canção, proclamamos: “Imaculada, Maria de Deus: coração pobre acolhendo Jesus! Imaculada, Maria do povo: mãe dos aflitos que estão junto à cruz!” Maria é imaculada porque tem um coração que é ‘sim’ para a vida, um coração que é ‘sim’ para o irmão, um coração que é ‘sim’ para Deus... Como mulher, mãe, esposa e discípula, ela viveu plenamente o chamado de Deus a sermos santos e imaculados no amor.
A afirmação dogmática publicada em 1854 deseja sublinhar que, em Maria de Nazaré, a graça de Deus foi vitoriosa frente a todas as forças de fechamento, indiferença e violência. E isso não por mero esforço pessoal, nem por distanciamento dos complexos desafios que tecem a vida humana. O caráter imaculado de Maria não deriva de uma suposta fuga do mundo – pois isso seria exatamente uma mácula à sua humanidade! – mas da sua profunda abertura ao mistério inspirador e orientador de Deus. Maria é imaculada porque amou como ninguém a José, a Jesus, ao seu povo, a Deus.
Se é verdade que em Maria a condição imaculada está relacionada com sua virgindade, não podemos esquecer o significado antropológico e teológico da virgindade: não se trata simplesmente de uma questão biológica ou física, mas da expressão de sua radical pobreza conjugada com a fé, a abertura e a disponibiliodade a Deus e à sua vontade. E isso é exatamente o oposto do pecado que macula a vida e o mundo. Dizendo ‘sim’ a Deus Maria disse e sustentou um ‘não’ às diversas formas de pecado, mesmo aquelas revestidas de roupagem de piedade religiosa.
Jerusalém e seu templo suntuoso eram o endereço dos sacerdotes e outros personagens importantes da religião judaica. Eram o lugar onde o povo buscava experimentar a presença, a bênção e a glória de Deus. Para lá se dirigiam as caravanas, provenientes de todas os povoados da redondeza, e de lá retornavam revigoradas em sua fé. Nazaré não gozava de semelhante esplendor. Mas lá morava a jovem Maria, prometida em casamento a José, que também devia residir nas proximidades. É desses dois personagens e do filho que geraram que deriva a fama posterior desta vila antes irrelevante.
Diante das palavras que a proclamam ‘cheia de graça’ e afirmam que Deus está com ela, Maria se pergunta o que isso quer dizer. E nós continuamos perguntando-nos qual é a mensagem positiva da imaculada conceição de Maria para os homens e mulheres de hoje. Ou esse seria um privilégio exclusivo de Maria, que diz que ela é ‘fora de série’, intocada pelas contingências humanas? Que significado teria o dogma da imaculada conceição de Maria para as urgentes lutas pela dignidade dos homens e mulheres de hoje, para as lutas dos oprimidos?
Na busca desse sentido, precisamos, antes de tudo, identificar aquilo que hoje torna presente e operante a mácula da qual Maria foi preservada. Não seria a mórbida violência que se expressa nos atentados terroristas e que vem preparada ‘pedagogicamente’ nos filmes ‘de ação’ e nos telejornais doentes que se esmeram em sublinhar a iraccionalidade da existência humana? Não estaria presente também no desesperado processo de fechamento do indivíduo em si mesmo, a ponto de considerar o outro como seu inferno ou como um ser absolutamente irrelevante?
De forma resumida e programática, podemos dizer que aquilo que afirmamos de Maria, de algum modo é extensivo a todos os homens e mulheres de boa vontade. No exultante hino que Paulo recolhe na carta aos Efésios, proclamamos claramente que, em Cristo, Deus nos escolheu “para que sejamos santos e imaculados no amor”. Todos somos vocacionados a uma vida imaculada, e é o amor – esse esquecimento de si em benefício do outro – a força capaz de tirar a ‘mancha’ que ameaça a verdade e a bondade das nossas relações, concepções e projetos.
Maria, discípula e companheira nossa nas ingentes lutas pelo reconhecimento da dignidade de todas as criaturas! Tu te reconheces a serva do Senhor, te mostras atenta e reflexiva diante da proposta de Deus e afirmas que estás disposta a colaborar com ele. É assim que te revelas imaculada, e contribues para limpar as máculas do tecido social, começando pelo patriarcalismo. Faze-nos mergulhar neste dinamismo de serviço que abraça a ternura e a solidariedade, para assim colaborarmos alegremente na inegociável missão de devolver às pessoas a condição de ‘cheias de graça’ e de encanto. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf
(Gênesis 3,9-15.20 * Salmo 97 (98) * Carta aos Efésios 1,3-6.11-12 * Lucas 1,26-38)

Nenhum comentário: