Deus nos chama todos a ser santos e imaculados no Amor!
Na
caminhada que nos prepara para o Natal, fazemos uma parada para celebrar Maria.
Hoje recordamos sua imaculada concepção. Com a ajuda de uma bela canção, proclamamos:
“Imaculada, Maria de Deus: coração pobre acolhendo Jesus! Imaculada, Maria do
povo: mãe dos aflitos que estão junto à cruz!” Maria é imaculada porque tem um
coração que é ‘sim’ para a vida, um coração que é ‘sim’ para o irmão, um
coração que é ‘sim’ para Deus... Como mulher, mãe, esposa e discípula, ela viveu
plenamente o chamado de Deus a sermos santos e imaculados no amor.
A afirmação
dogmática publicada em 1854 deseja sublinhar que, em Maria de Nazaré, a graça
de Deus foi vitoriosa frente a todas as forças de fechamento, indiferença e
violência. E isso não por mero esforço pessoal, nem por distanciamento dos
complexos desafios que tecem a vida humana. O caráter imaculado de Maria não
deriva de uma suposta fuga do mundo – pois isso seria exatamente uma mácula à
sua humanidade! – mas da sua profunda abertura ao mistério inspirador e
orientador de Deus. Maria é imaculada porque amou como ninguém a José, a Jesus,
ao seu povo, a Deus.
Se é verdade que em Maria a condição imaculada está relacionada com sua
virgindade, não podemos esquecer o significado antropológico e teológico da
virgindade: não se trata simplesmente de uma questão biológica ou física, mas
da expressão de sua radical pobreza conjugada com a fé, a abertura e a
disponibiliodade a Deus e à sua vontade. E isso é exatamente o oposto do pecado
que macula a vida e o mundo. Dizendo ‘sim’ a Deus Maria disse e sustentou um
‘não’ às diversas formas de pecado, mesmo aquelas revestidas de roupagem de
piedade religiosa.
Jerusalém
e seu templo suntuoso eram o endereço dos sacerdotes e outros personagens
importantes da religião judaica. Eram o lugar onde o povo buscava experimentar
a presença, a bênção e a glória de Deus. Para lá se dirigiam as caravanas,
provenientes de todas os povoados da redondeza, e de lá retornavam revigoradas
em sua fé. Nazaré não gozava de semelhante esplendor. Mas lá morava a jovem
Maria, prometida em casamento a José, que também devia residir nas
proximidades. É desses dois personagens e do filho que geraram que deriva a
fama posterior desta vila antes irrelevante.
Diante
das palavras que a proclamam ‘cheia de graça’ e afirmam que Deus está com ela,
Maria se pergunta o que isso quer dizer. E nós continuamos perguntando-nos qual
é a mensagem positiva da imaculada conceição de Maria para os homens e mulheres
de hoje. Ou esse seria um privilégio exclusivo de Maria, que diz que ela é
‘fora de série’, intocada pelas contingências humanas? Que significado teria o
dogma da imaculada conceição de Maria para as urgentes lutas pela dignidade dos
homens e mulheres de hoje, para as lutas dos oprimidos?
Na busca
desse sentido, precisamos, antes de tudo, identificar aquilo que hoje torna
presente e operante a mácula da qual Maria foi preservada. Não seria a mórbida
violência que se expressa nos atentados terroristas e que vem preparada ‘pedagogicamente’
nos filmes ‘de ação’ e nos telejornais doentes que se esmeram em sublinhar a
iraccionalidade da existência humana? Não estaria presente também no
desesperado processo de fechamento do indivíduo em si mesmo, a ponto de
considerar o outro como seu inferno ou como um ser absolutamente irrelevante?
De forma
resumida e programática, podemos dizer que aquilo que afirmamos de Maria, de
algum modo é extensivo a todos os homens e mulheres de boa vontade. No
exultante hino que Paulo recolhe na carta aos Efésios, proclamamos claramente
que, em Cristo, Deus nos escolheu “para que sejamos santos e imaculados no
amor”. Todos somos vocacionados a uma vida imaculada, e é o amor – esse
esquecimento de si em benefício do outro – a força capaz de tirar a ‘mancha’
que ameaça a verdade e a bondade das nossas relações, concepções e projetos.
Maria, discípula e companheira nossa nas
ingentes lutas pelo reconhecimento da dignidade de todas as criaturas! Tu te
reconheces a serva do Senhor, te
mostras atenta e reflexiva diante da proposta de Deus e afirmas que estás
disposta a colaborar com ele. É assim que te revelas imaculada, e contribues
para limpar as máculas do tecido social, começando pelo patriarcalismo. Faze-nos
mergulhar neste dinamismo de serviço que abraça a ternura e a solidariedade,
para assim colaborarmos alegremente na inegociável missão de devolver às
pessoas a condição de ‘cheias de graça’ e de encanto. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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