“Aquele que há de vir chegará sem demora, e não haverá
mais temor”, recorda a antífona de entrada da missa de hoje, citando a carta
aos Hebreus (10,37). E esta chegada, tão esperada quanto necessária, se
inscreve entre os acontecimentos considerados impossíveis. O Natal celebra
exatamente isso: coisas que sempre pareceram impossíveis e irreais se tornam
fatos, aparecem como realidades palpáveis. Como então deixar de plantar as
sementes das nossas mais altas e loucas utopias?! Hoje a liturgia nos recorda a
mulher de Manué, cujo nome sequer é mencionado, pois é mulher estéril e desprezada.
Ela recebe do mensageiro de Deus a notícia de que seria mãe. E, de fato, dá à
luz nosso conhecido Sansão, homem consagrado a Deus e agente do Espírito para
libertar seu povo do domínio dos filisteus. E o evangelho, por sua vez, nos
apresenta o Zacarias e Isabel, um casal humilde e justo diante de Deus,mas também
idoso
e sem filhos. Neste caso, é Zacarias quem recebe a visita e a notícia
do anjo, fica perturbado a ponto de perder a voz. Mas o mensageiro o conforta:
“Não tenhas medo, Zacarias, porque Deus ouviu tua súplica. Tua esposa, Isabel,
vai ter um filho, e tu lhe darás o nome de João. Tu ficarás alegre e feliz, e
muita gente se alegrará com o nascimento do menino” (Lc 1,13-14). Zacarias deixa
de lado a promessa de alegria geral e se concentra numa questão mais que
razoável: “Como terei certeza disso? Sou velho e minha mulher é de idade
avançada...” Mas o que parecia impossível foi se tornando visível no ventre anteriormente
estéril e agora surpreendentemente crescido de Isabel, que, mesmo retirando-se
na discrição, não cansa de repetir, apontando para a própria barriga: “Eis o
que o Senhor fez por mim, nos dias em que se dignou tirar-me da humilhação
pública...” Naquele momento, tudo ainda era esperança, mesmo que já antecipada
em pequenos sinais, como cantará Zacarias no dia do nascimento de João: “Do
alto, o sol nascente virá nos visitar, para guiar os nossos passos no caminho
da paz...” Mas, mesmo repetindo este anúncio na antífona da comunhão, para nós
isso tudo não é passado e nem mesmo apenas futuro: é experiência que fecunda e
ilumina nosso tempo que se chama Hoje... (Itacir
Brassiani msf)
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