Jesus faz conosco uma aliança no amor e na ternura!
Começamos
a caminhada do Advento com uma ordem clara e forte: “Vigiem!” Depois fomos
convidados a abrir estradas a partir da periferia e do deserto. E hoje somos
convidados à alegria. “Estai sempre alegres”, ordena Paulo. “Transbordo de
alegria em Javé”, proclama Isaías. Maria canta: “Meu espírito está em festa
pelo meu Deus”. E João mostra o motivo dessa alegria: “Entre vós está alguém
que não conheceis...” É uma alegria como aquela vivida pelo índio Juan Diego e
seu povo, em Guadalupe (1531), ou pela humanidade toda, com a proclamação dos
Direitos Humanos (1948).
Esperando
ardentemente o retorno próximo de Jesus Cristo, os cristãos das primeiras
comunidades se sentiam chamados a levar a sério as profecias, a não apagar o
Espírito, a se afastarem de toda espécie de maldade, a dar graças a Deus em
todas as circunstâncias, a examinar tudo e ficar com o que era bom. E isso não
por causa de uma moral abstrata ou de uma ascese estúpida, mas porque
acreditavam que Aquele que os chamara seria fiel e realizaria suas promessas.
Por isso, também rezavam sem cessar e se mostravam sempre alegres, mesmo em
meio às perseguições e durezas da vida.
Vejamos como
isso se mostra também em Maria. Chegando à casa de Isabel e sendo por ela
acolhida, Maria levanta a cabeça e solta a voz num louvor que atravessa os
séculos e, ainda hoje, ressoa como canto libertário. Sua alegria não tem nada
de ingenuidade, muito menos de autocomplacência: olhando para o seio crescido de
Isabel e para seu próprio corpo, Maria se alegra com os sinais daquilo que Deus
está realizando através dos seus filhos mais humildes. Seu olhar alcança a
história do seu povo, e nela Maria percebe Deus rebaixando os poderosos, elevando
os humildes e socorrendo os pobres.
No
evangelho, interrogado sobre sua identidade e sua missão, João Batista se
apresenta como testemunha Luz, como sinal de algo que está chegando para vencer
as trevas e os obstáculos interpostos pelas elites religiosas e políticas. “Eu
sou a voz de quem grita no deserto. Endireitai o caminho do Senhor!” Ele é voz
que vem do deserto, da periferia, da margem. Com seu batismo, João inquieta as
autoridades, pois o batismo na água é um rito cívico-religioso que expressa uma
passagem de estado, uma mudança de senhor e de lealdades. E isso relativizava
os poderes religiosos e políticos.
João
Batista anuncia que no meio de nós já está presente Alguém que não conhecemos,
que vem antes dele e o supera e ultrapassa. Esse Alguém é penhor e início
daquela mudança anunciada pelos profetas antigos e simbolizada no batismo
cristão. Diante do Messias esperado, sua pregação e seu batismo se mostram
relativos e insuficientes. Mesmo sendo o maior entre os profetas, diante de
Jesus João não se atreve a desatar as correias das suas sandálias, gesto que
simbolizava o protesto de uma viúva diante de um cunhado que se recusasse a
desposá-la e dar-lhe descendência, como mandava a lei do levirato.
Jesus não
despreza a nossa pobre humanidade. Ele nos ama profundamente e sela conosco uma
aliança duradoura “na justiça e no direito, no amor e na ternura” (cf. Os 2,16-25).
Ninguém desamarra a correia das suas sandálias! O Messias que esperamos é o
Esposo amado e esperado há séculos, e a celebração do Natal é uma espécie de
bodas de Deus conosco. E todos sabemos que a preparação de uma festa de
casamento, por mais trabalhosa que seja, é sempre marcada pela esperança e pela
alegria, e não pela tristeza ou pela penitência. Eis a razão da alegria do
Advento!
E a
Sagrada Família, tinha ela consciência deste mistério que a envolvia e
fecundava? Certamente sim, embora tivesse que caminhar na penumbra da fé, e só
aos poucos os contornos do desenho deste mistério fossem se clareando. O
tumultuado tempo da gravidez de Maria e a paradoxal noite do Natal foram apenas
o começo... Maria viu a falta de vinho e acreditou no vinho novo que selou a
nova aliança de Deus com seu povo. Jesus descobriu progressivamente sua
identidade de Noivo e Esposo da humanidade. De todos os modos, não podem ser
tristes os rostos de quem prepara o Natal.
Deus, pai e mãe, luz que brilha na
fragilidade humana e revela nas criaturas a semente de uma alegria inocente e
teimosa: Cobre-nos com o manto da justiça que só pode vir de ti, e enfeita
nossos andrajos com as jóias de uma fé que dá as mãos à esperança e ao amor.
Faz com que nossas comunidades anunciem
com a vida a boa notícia que tens desde sempre para os últimos e pobres, os que
carecem de autonomia e de alegria. E ajuda-nos a abrir caminhos de solidariedade
em meio às montanhas de lixo comercial que abarrota nossos mercados, e a
permanecer firmes na escola de Nazaré. Amém! Assim seja!
Itacir Brassiani msf
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