Vivamos o Advento como tempo de espera da vinda do Senhor. Deus se
encarna, se faz humano porque quer nos encontrar. Deus nos surpreende com sua
visita. Ele se aproxima, anuncia, orienta, sopra em nossos ouvidos. Ele não
gosta de falar de fora nem de cima... Por isso, assume nossa carne, nosso pó e
nossos sonhos mais profundos. E sua carne se torna Palavra.
Vivemos o Advento no fim de ano, tempo cheio, agitado, um corre-corre de
atividades para concluir, de compras para fazer... O Advento nos lança um
desafio: seremos capazes de reservar tempo para o essencial? Um tempo místico
para refletir e ir às raízes de nossa existência? Se não aceitarmos este
desafio, corremos o perigo de perder o controle da nossa vida, da nossa
realidade mais profunda... No anseio sôfrego de preparar as festividades
corremos o risco de não perceber Sua vinda...
Reunir-nos em comunidade, em família. Ousar dar-nos um tempo de silêncio
pessoal, tranquilo, sereno. Refletir e sentir mais intensamente que este é um tempo
de Deus, um momento para ser vivido entre nós, um momento divino, um retalho de
tempo em que experimentamos a união profunda do divino com o humano.
Através da Palavra de Deus, as primeiras comunidades cristãs nos indicam
o caminho para reconhecer os sinais que Deus deixou na história. Sinais que
frequentemente são somente sussurros na multiplicidade altissonante dos sons e
das palavras que invadem a nossa vida. Sinais que são sonhos, presenças fugazes
no assalto constante dos sonhos coloridos e fascinantes do consumismo. Sinais
dos anjos e anjas silenciosas e leves que, sem estardalhaço, nos falam no
cotidiano da vida.
Foi assim com Isaías, que entreviu o Deus-conosco nos pequenos, nas
crianças, que se tornaram sinais de esperança e luzes acesas na escuridão
criada pela violência da lógica da guerra e das armas (cf. Is 9,1-6). Foi assim
com João Batista, marcado desde o ventre materno pela presença de anjos e
anjas, mensageiras, canais de comunicação que religam o céu a terra. Precursor
nascido na contra-maré, viveu na contra-corrente, desafiando os grandes e
afirmando: “Não sou eu... Eu sou a voz que
prepara os caminhos daquele que há de vir...” (João 1,19-30).
Sonhos e sopros chegam até Maria e José, até os pastores, e também aos os
estrangeiros sábios. Sonhos e sopros que desafiam o comodismo e exigem coragem
para vislumbrar e trilhar caminhos novos, na certeza de que é caminhando que se
abrem os caminhos. Sinais de anjos, sonhos e sopros que, se por um lado, pedem
obediência a Deus, em contrapartida pedem a desobediência à lógica social e
religiosa predominantes. Isaías, João Batista, Maria souberam desobedecer para
obedecer, escutar intensamente a voz de Deus na sua história. Tiveram a coragem
de enfrentar a vida e viver o sussurro do anjo, o sonho de Deus, e assim fizeram
história.
São sinais, anjos, sonhos, sopros que interrogam: No barulho da nossa
vida sabemos fazer silêncio para escutar o sopro de Deus nas anjas e anjos que
nos visitam? Sabemos reconhecer e acolher o sonho que Deus soprou no nosso
sonho e no nosso coração? Com coragem o cultivamos no nosso cotidiano, na
certeza que estamos fazendo história?
Vamos a Belém, vamos com a Comunidade!
O que importa é se colocar a caminho!
Se no lugar de um Deus falante e glorioso encontrarmos apenas
Sonhos, anjos, sussurros e a fragilidade de uma menina ou de um menino,
não pensemos ter errado o caminho!
Deus-Conosco está presente nos
marginalizados pelas estruturas,
no
irmão que por medo olha ao outro
como estrangeiro,
no diferente que virou inimigo. Coloquemo-noss
a caminho!
Vamos à busca, sem incerteza nem medo,
semeadores
e semeadoras de esperança.
Texto publicado pelo
CEBI, adaptado por Itacir Brassiani msf
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