“Nascerá para nós um pequenino: ele será chamado Deus
e forte...” (Is 9,6) Esta afirmação do profeta, antífona de entrada da liturgia
de hoje, é paradoxal: como é que uma criança pode ser chamada Deus,
e como é que um pequenino pode ser apresentado como forte? Mas o Deus em quem
os cristãos acreditamos é assim mesmo: absolutamente paradoxal. O profeta
Malaquias (cf. 3,1-24) parece se enganar, ao menos ao descrever os traços do Messias
esperado: ele seria como o fogo da forja e o sabão das lavadeiras, como um dominador
ou um chefe dos exércitos; ninguém ousaria enfrentá-lo ou resistir a ele; ele
nos purificaria e refinaria como ouro e prata na fornalha, e então seríamos
aceitáveis aos olhos de Deus... Não é por nada que a maioria dos hebreus do
início da nossa era, inclusive o próprio João Batista, precursor do “dia do
Senhor, grande e terrível”, teve dificuldades de reconhecer no carpinteiro de
Nazaré o Messias esperado, pobre e justo. Como nós, que ainda temos a tentação
de depositar nossas esperanças em líderes solitários e potentes, chamem-se eles
Obama, Putin, Aécio, Chaves ou Dilma... Os caminhos revelados por Deus são outros:
passam por Nazaré, por Zacarias e Isabel, por Maria e José, pela estrebaria de
Belém... Estando a dois dias do Natal, aprendamos com a velha e honrada Isabel
a defender teimosamente nossas utopias e experiências e a dar nome àquilo que cremos:
Deus
é compaixão e misericórdia, e fica melhor nas fraldas de um bebê que na
farda e na arrogância e na violência dos chefes de exércitos! Creio que é esta
experiência, profunda e desconcertante, que pode realmente soltar nossa língua
e esuscitar a palavra que desvela o sentido das coisas e dos acontecimentos.
Alegremo-nos com e como Isabel e Zacarias, e espalhemos esta notícia usando
todos os meios que temos. E façamo-lo sem demora! ”Eis que estou à porta e
bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir, eu entrarei e cearemos juntos...”
(Ap 3,20)(Itacir
Brassiani msf)
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