quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 31.01.2021

OS MAIS DESPROTEGIDOS FRENTE AO MAL

Uns estão definitivamente reclusos num centro. Outros vagueiam pelas nossas ruas. A imensa maioria vive com a sua família. Estão entre nós, mas não suscitam o interesse de ninguém. São os doentes mentais.

Não é fácil penetrar no mundo de dor e solidão deles. Privados, em algum grau, de uma vida consciente e afetiva saudável, não lhes resulta fácil conviver. Muitos deles são pessoas débeis e vulneráveis, ou vivem atormentados pelo medo numa sociedade que os teme ou toma distância deles.

Desde tempos imemoriais, um conjunto de preconceitos, medos e receios foi erguendo um muro invisível entre esse mundo de escuridão e dor, e as vidas daqueles que nos consideramos saudáveis. O doente mental cria insegurança, e a sua presença parece sempre perigosa. Parece que o mais prudente é defender a nossa normalidade, distanciando-os do nosso ambiente.

Hoje fala-se da inserção social destes doentes e do apoio terapêutico que pode significar a sua integração na convivência. Mas tudo isto não deixa de ser uma bela teoria se não se produz uma mudança de atitude para com o doente mental e não se ajuda de forma mais eficaz tantas famílias que se sentem sós ou com pouco apoio para fazer frente aos problemas que lhes surgem com a doença de um dos seus membros.

Há famílias que sabem cuidar do seu ente querido com amor e paciência, colaborando positivamente com os médicos. Mas também há casas onde o doente é um fardo difícil de suportar. Pouco a pouco, a convivência deteriora-se e toda a família vai ficando afetada, favorecendo ainda mais o agravamento da doença.

Então, quando isso acontece, é um cinismo continuar a defender teoricamente a melhor qualidade de vida para o doente psíquico, a sua integração social ou o direito a uma atenção adequada às suas necessidades afetivas, familiares e sociais. Tudo isto deve ser assim, mas é necessária uma ajuda mais real às famílias e uma colaboração mais estreita entre os médicos que cuidam do doente e as pessoas que sabem estar com ele a partir de uma relação humana.

Que lugar ocupam estes doentes nas nossas comunidades cristãs? Não são os grandes esquecidos? O Evangelho de Marcos sublinha a atenção de Jesus para «os possuídos por espíritos malignos». A sua proximidade às pessoas mais indefesas e desamparadas perante o mal, sempre será para nós uma chamada interpeladora.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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