quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 10.01.2021

O CAMINHO ABERTO POR JESUS

Não são poucos os cristãos praticantes que entendem sua fé apenas como uma obrigação. Há um conjunto de crenças que se devem aceitar, mesmo que não conheçamos o seu conteúdo ou não se saiba a importância que podem ter para a vida. Há também um código de leis que se deve observar, mesmo que não se compreenda bem tanta exigência de Deus. Finalmente, há umas práticas religiosas que se devem cumprir, mesmo que de forma rotineira.

Esta forma de compreender e viver a fé gera uma espécie de cristão aborrecido, sem desejo de Deus e sem criatividade ou paixão alguma para espalhar a sua fé. Basta com cumprir. Esta religião não tem atrativo nenhum. Converte-se num peso difícil de suportar. Produz alergia. Não estava errada Simone Weil quando escreveu que «onde falta o desejo de encontrar-se com Deus, não há crentes, mas sim pobres caricaturas de pessoas que se dirigem a Deus por medo ou interesse».

Nas primeiras comunidades cristãs, vivia-se de forma diferente. A fé cristã não era entendida como um sistema religioso: chamavam-na de «caminho», e a propunham como a forma mais acertada de viver com sentido e esperança. Dizia-se que era um caminho novo e vivo inaugurado por Jesus para nós, um caminho que se percorre com os olhos fixos Nele (Hb 10,20; 12,2).

É muito importante tomarmos consciência de que a fé é uma caminhada e não um sistema religioso. E num percurso há de tudo: marcha alegre e momentos de busca; provas que devem ser superadas e retrocessos; decisões incontornáveis; dúvidas e interrogações. Tudo faz parte do caminho: também as dúvidas, que podem ser mais estimulantes do que não poucas certezas e seguranças vividasde forma rotineira e simplista.

Cada um/a têm que fazer o seu próprio caminho. Cada um/a é responsável pela «aventura» da sua vida. Cada um/a tem o seu próprio ritmo. Não há que forçar nada. No caminho cristão há diversas etapas. As pessoas podem viver momentos e situações diferentes. O importante é «caminhar», não parar, escutar o chamado que a todos é feito: viver de uma forma mais digna e feliz. Este é o melhor modo de «preparar o caminho do Senhor».

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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