sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 03.01.2021

A NOSSA INCAPACIDADE PARA ADORAR

O Homem de hoje ficou em grande parte atrofiado na sua capacidade de descobrir Deus. Não é que seja ateu. É que se tornou «incapaz de Deus». Quando um homem ou uma mulher só procura ou conhece o amor sob formas decadentes, quando a sua vida está movida exclusivamente por interesses egoístas de lucro ou ganho, algo seca no seu coração.

Muitas pessoas vivem hoje um estilo de vida que as esmaga e empobrece. Envelhecidas prematuramente, endurecidas por dentro, sem capacidade de se abrir a Deus por nenhum resquício da sua existência, caminham pela vida sem a companhia de ninguém.

O teólogo Alfred Delp, executado pelos nazistas, via neste endurecimento interior o maior perigo para o homem moderno: «Assim, o homem deixa de levantaras mãos do seu ser para as estrelas. A incapacidade do homem de hoje para adorar, amar e venerar tem a sua causa a sua desmedida ambição e no endurecimento da sua existência».

Esta incapacidade de adorar a Deus tomou conta de muitos crentes, que procuram apenas um «Deus útil». Só lhes interessa um Deus que sirva os seus projetos individualistas. Deus fica convertido num artigo de consumo de que se dispõe segundo as conveniências e interesses. Mas Deus é outra coisa. Deus é Amor Infinito, encarnado na nossa própria existência. E, ante esse Deus, a primeira atitude é a adoração, o júbilo, a ação de graças.

Quando se esquece isto, o cristianismo corre o risco de se converter num gigantesco esforço de humanização, e a Igreja numa instituição sempre tensa, sempre sobrecarregada, sempre com a sensação de não conseguir o êxito moral pelo qual luta e se esforça.

No entanto, a fé cristã é, antes de mais nada, a descoberta da bondade de Deus, experiência grata de que só Ele salva: o gesto dos Reis Magos perante a Menino de Belém expressa a atitude primeira de todo o crente diante de Deus feito homem.

Deus existe, está aí, no fundo da nossa vida! Somos acolhidos por ele. Não estamos perdidos no meio do universo! Podemos viver com confiança. Diante de um Deus, de quem só sabemos que é Amor, não há lugar senão à alegria, a adoração e à ação de graças. Por isso, «quando um cristão pensa que já nem sequer é capaz de rezar, devia ter pelo menos alegria» (Ladislao Boros).

José Antônio Pagola

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