“Eis-me aqui, Senhor, pra fazer tua vontade e viver do teu amor!”
Depois de ser batizado
no rio Jordão, Jesus não foi festejar o tirar férias! O batismo marca o
amadurecimento da sua consciência de ser enviado para libertar a humanidade
oprimida e escravizada. Somos hoje convidados a acompanhá-lo nos primeiros
passos dessa missão, a deixar-nos interpelar pelo seu olhar, pelas suas ações e
pelas suas palavras. Ele dirige a nós seu olhar acolhedor e questionador: “O
que você está procurando?” Estas são as primeiras palavras que saem dos seus
lábios no evangelho de João! Ele dirige também a cada um/a de nós seu convite:
“Vem ver e experimentar meu amor sem fronteiras...”
João Batista diz que
não conhecia bem Jesus antes de tê-lo batizado. Vendo-o no rio, misturado a uma
pequena multidão de gente marginalizada, humilde e bem intencionada, João
vislumbrou em Jesus a Sabedoria de Deus na carne humana, o Amor de Deus
acampado no meio de nós, um símbolo da Presença ativa de Deus na libertação dos
antepassados, como o era o Cordeiro Pascal, aquele que protege os primogênitos
do povo escravizado. João fala abertamente disso aos discípulos que o seguem,
como que indicando uma nova e mais profunda fase da relação com Deus.
Um dia, vendo Jesus
caminhando solitário e meditativo nos arredores de Betânia, João chamou a
atenção dos próprios discípulos: “É dele que eu falei. Eis o Cordeiro de Deus!”
João não apresenta Jesus como Messias,
como o líder ungido pelo Espírito para resgatar o povo, nem como Rei de Israel, como Filho de Deus ou como Senhor.
João Batista busca na tradição ritual do povo de Israel a figura do Cordeiro, aquele com o qual foram
marcadas as portas de suas casas na noite do êxodo. Na tradição espiritual e
cultual de Israel, a figura do Cordeiro
representa a mansidão, a inocência, a aliança e a entrega solidária.
Apresentando Jesus
desse modo, João acrescenta que ele é aquele “que tira ou carrega o pecado do
mundo”. Ou seja: Jesus não está aí para, em nome de Deus, jogar na cara dos
homens e mulheres sua insolvente condição de pecadores, ou para recordar o
passado, mas para atrair sobre si mesmo a violência que tende a explodir sobre
os mais fracos, e para abrir um caminho de liberdade e de comunhão. Nas
palavras de João Batista transparece a intuição de que o Messias esperado age
mais como amigo que como juiz, mais como irmão que como acusador, mais como
companheiro que como chefe.
Ouvindo as breves
palavras com as quais João apresenta aquele jovem galileu até então incógnito,
dois discípulos de João deixam-no e se põem a caminho, seguindo os passos de Jesus.
Aproximam-se dele sem dizer nada, um pouco curiosos, um pouco tímidos. Um se
chama André, e é irmão de Simão, que conhecemos como Pedro. Eles entram no
caminho de Jesus acatando a indicação do antigo mestre, João Batista. Não terá
sido fácil deixar o mestre já conhecido e sua pregação clara e interpeladora
para seguir um jovem até então desconhecido. E Jesus nem os havia chamado, como
costumavam fazer os demais mestres.
Percebendo que André e
o outro seguiam-no já há algum tempo, Jesus se volta e pergunta o que eles
procuram. Não pede o que pensam dele, mas quais são os interesses e
expectativas que os movem. A resposta deles é curta e objetiva: Eles desejam
passar ao seu campo de influência, aprender a partir da convivência, participar
da sua intimidade e da sua missão. E Jesus os convida a ir e ver, a descobrir
como a Palavra de Deus se torna carne. E eles vão, começam a viver com Jesus,
para sempre membros do seu corpo.
Profundamente
impressionados com aquilo que viram e experimentaram, os novos discípulos
espalham a notícia. André vai ao encontro do seu irmão Pedro, que como ele,
tinha vindo de Betsaida para escutar e seguir João Batista, e anuncia-lhe a boa
notícia: “Encontramos o Cristo!” E leva-o a Jesus, que dirige um olhar amoroso
e profundo a um Pedro que permanece rígido como uma pedra. Pedro havia rompido
com o status quo e esperava o
Messias, mas terá que mudar sua ideia de um Messias
guerreiro e assimilar a imagem de um Messias
Cordeiro. Será um processo difícil e exigente, que levará mais de três
anos.
Amado Jesus, Cordeiro de Deus: Como André, queremos
entrar na tenda que armaste entre os pobres, te conhecer e te seguir. Livra-nos
da passividade resistente de Pedro. Salva tua Igreja da rigidez, do fechamento
e da autossuficiência, verdadeira pedra de tropeço para quem te busca com
coração sincero. Acorda-nos da falta de atenção à tua Palavra viva e eficaz, e
acolhe-nos na tua intimidade, para que, caminhando contigo e sendo membros do
teu corpo, vejamos e acreditemos! Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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