Mãos abertas, sandálias nos pés e lâmpadas acesas...
Podemos dizer
que o cristianismo é hoje um pequeno rebanho? Os fiéis espalhados pelo mundo e
vinculados às diferentes confissões cristãs são mais de um bilhão, e isso faz
do cristianismo o maior movimento religioso da atualidade. Do ponto de vista
estatístico, não somos um pequeno rebanho, mas uma grande multidão! Contudo,
essa hegemonia numérica pode não significar muito do ponto de vista da
fidelidade ao Evangelho de Jesus.
Segundo o
evangelho deste domingo, o próprio Jesus não se deixa impressionar com as pequenas
multidões que o seguem. Os discípulos e discípulas que entendem o que significa
crer e seguir seus passos são poucos, e mesmo esta minoria acaba abandonando-o
quando é acusado, preso, torturado e crucificado. Tudo recomeça a partir de um
pequeno rebanho fiel e corajoso e nele encontra sua força. Como vimos no último
domingo, quem crê em Jesus Cristo e segue seus passos tem um tesouro pelo qual
está disposto a relativizar tudo o mais.
Jesus
continua pedindo que busquemos ‘bolsas antifurto’, pois onde está nosso tesouro
também está nosso coração. Para seus discípulos, não há riqueza mais preciosa
que o Reino de Deus. Mesmo que este seja um sonho que só será pleno no futuro,
a atitude cristã fundamental é a espera ativa. É isso que Jesus nos ensina
hoje, lançando mão de três pequenas parábolas: os empregados que esperam a
volta do patrão; o dono da casa que toma precauções contra os ladrões; os
administradores que um proprietário encarrega de cuidar a casa durante sua
ausência.
Diante da
resistência das estruturas injustas e da força dos hábitos arraigados, somos
rondados pela tentação da passividade e da fuga espiritualista. Como não
sabemos se o Senhor da história chegará antes da meia-noite, ou se o Reino de
Deus só se fará ver na madrugada distante e incerta, entregamo-nos ao sono da
passividade, da indiferença ou da deserção. ‘Já que o Reino é de Deus, que ele
mesmo abra a porta quando resolver voltar... Já fazemos muito entregando-nos à
oração...’ Assim pensam alguns, para aliviar a consciência e justificar a
própria inércia.
Estamos no
mundo à espera de Alguém que está para voltar. Temos que estar acordados/as
para abrir a porta quando ele chegar e bater. Precisamos esperar colocando-nos
a serviço do povo de Deus. “Ficai de prontidão, em traje de serviço, e com as
lâmpadas acesas”. Os/as que apostam no caminho alternativo proposto por Jesus são
sim um pequeno rebanho, mas existimos para ajudar no parto da nova humanidade.
Não podemos dormir sobre os efêmeros louros de um passado numericamente
glorioso. A Igreja é um depósito de sementes que devem ser jogadas na terra!
É triste
quando a Igreja esquece essa sua razão de ser e se preocupa unicamente com seus
direitos, poderes e tradições. Missão do povo de Deus é empenhar-se para que a
humanidade receba seu trigo na hora certa, seja atendida em seus direitos
fundamentais. Festejar com os grandes do mundo, embriagar-se com as falsas
liturgias do poder, bater com a vara da excomunhão os próprios irmãos é coisa
que nos iguala às figuras mais execráveis da história. E nos faz merecer
chicotadas sem número.
Estamos neste
mundo como administradores aos quais foi confiado o cuidado da casa, a quem se
pede vigilância e serviço aos irmãos e irmãs. Temos o direito de festejar e
celebrar os inúmeros pequenos avanços do Reino de Deus, mas sem deixarmo-nos
embriagar pelas ideologias do poder e do sucesso. Vivemos como migrantes que
ainda buscam uma pátria definitiva, abrindo as mãos no serviço aos irmãos e
irmãs. Com as grandes testemunhas da fé, sabemos que não temos aqui morada
definitiva, mas apenas tendas, que podem ser armadas e desarmadas facilmente.
Jesus de Nazaré,
peregrino no santuário das dores e sonhos humanos, tu nos enriqueces com tua
pobreza e tua paixão pelo Reino de Deus. Te agradecemos pela nuvem de
testemunhas que seduziste e enviaste, irmãos e irmãs que nos destes. Elas
fizeram bolsas que não se estragam e adquiriram tesouros que ninguém pode
roubar. A precariedade e o medo não as impediu de lutar, mesmo que só tenham
saudado de longe a utopia que as orientou. Com estas luzes, ilumina e sustenta
os ministros ordenados na sua missão junto às nossas comunidades. Assim seja!
Amém!
Itacir
Brassiani msf
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