quinta-feira, 4 de agosto de 2022

ANO C | TEMPO COMUM | DÉCIMO-NONO DOMINGO | 07.08.2022

Mãos abertas, sandálias nos pés e lâmpadas acesas...

Podemos dizer que o cristianismo é hoje um pequeno rebanho? Os fiéis espalhados pelo mundo e vinculados às diferentes confissões cristãs são mais de um bilhão, e isso faz do cristianismo o maior movimento religioso da atualidade. Do ponto de vista estatístico, não somos um pequeno rebanho, mas uma grande multidão! Contudo, essa hegemonia numérica pode não significar muito do ponto de vista da fidelidade ao Evangelho de Jesus.

Segundo o evangelho deste domingo, o próprio Jesus não se deixa impressionar com as pequenas multidões que o seguem. Os discípulos e discípulas que entendem o que significa crer e seguir seus passos são poucos, e mesmo esta minoria acaba abandonando-o quando é acusado, preso, torturado e crucificado. Tudo recomeça a partir de um pequeno rebanho fiel e corajoso e nele encontra sua força. Como vimos no último domingo, quem crê em Jesus Cristo e segue seus passos tem um tesouro pelo qual está disposto a relativizar tudo o mais.

Jesus continua pedindo que busquemos ‘bolsas antifurto’, pois onde está nosso tesouro também está nosso coração. Para seus discípulos, não há riqueza mais preciosa que o Reino de Deus. Mesmo que este seja um sonho que só será pleno no futuro, a atitude cristã fundamental é a espera ativa. É isso que Jesus nos ensina hoje, lançando mão de três pequenas parábolas: os empregados que esperam a volta do patrão; o dono da casa que toma precauções contra os ladrões; os administradores que um proprietário encarrega de cuidar a casa durante sua ausência.

Diante da resistência das estruturas injustas e da força dos hábitos arraigados, somos rondados pela tentação da passividade e da fuga espiritualista. Como não sabemos se o Senhor da história chegará antes da meia-noite, ou se o Reino de Deus só se fará ver na madrugada distante e incerta, entregamo-nos ao sono da passividade, da indiferença ou da deserção. ‘Já que o Reino é de Deus, que ele mesmo abra a porta quando resolver voltar... Já fazemos muito entregando-nos à oração...’ Assim pensam alguns, para aliviar a consciência e justificar a própria inércia.

Estamos no mundo à espera de Alguém que está para voltar. Temos que estar acordados/as para abrir a porta quando ele chegar e bater. Precisamos esperar colocando-nos a serviço do povo de Deus. “Ficai de prontidão, em traje de serviço, e com as lâmpadas acesas”. Os/as que apostam no caminho alternativo proposto por Jesus são sim um pequeno rebanho, mas existimos para ajudar no parto da nova humanidade. Não podemos dormir sobre os efêmeros louros de um passado numericamente glorioso. A Igreja é um depósito de sementes que devem ser jogadas na terra!

É triste quando a Igreja esquece essa sua razão de ser e se preocupa unicamente com seus direitos, poderes e tradições. Missão do povo de Deus é empenhar-se para que a humanidade receba seu trigo na hora certa, seja atendida em seus direitos fundamentais. Festejar com os grandes do mundo, embriagar-se com as falsas liturgias do poder, bater com a vara da excomunhão os próprios irmãos é coisa que nos iguala às figuras mais execráveis da história. E nos faz merecer chicotadas sem número.

Estamos neste mundo como administradores aos quais foi confiado o cuidado da casa, a quem se pede vigilância e serviço aos irmãos e irmãs. Temos o direito de festejar e celebrar os inúmeros pequenos avanços do Reino de Deus, mas sem deixarmo-nos embriagar pelas ideologias do poder e do sucesso. Vivemos como migrantes que ainda buscam uma pátria definitiva, abrindo as mãos no serviço aos irmãos e irmãs. Com as grandes testemunhas da fé, sabemos que não temos aqui morada definitiva, mas apenas tendas, que podem ser armadas e desarmadas facilmente.

Jesus de Nazaré, peregrino no santuário das dores e sonhos humanos, tu nos enriqueces com tua pobreza e tua paixão pelo Reino de Deus. Te agradecemos pela nuvem de testemunhas que seduziste e enviaste, irmãos e irmãs que nos destes. Elas fizeram bolsas que não se estragam e adquiriram tesouros que ninguém pode roubar. A precariedade e o medo não as impediu de lutar, mesmo que só tenham saudado de longe a utopia que as orientou. Com estas luzes, ilumina e sustenta os ministros ordenados na sua missão junto às nossas comunidades. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Livro da Sabedoria 18,6-9 | Salmo 32 (33) | Carta de Paulo  aos Hebreus 11,1-2.8-12 |  Evangelho  de São  Lucas (12,32-48)

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