317 | Ano B | 2ª Semana da Páscoa | Sábado | João 6,16-21
13/04/2024
Depois de atender
a fome do povo, e depois de escapar para que a multidão exaltada não o
transformassem num chefe político isolado e poderoso, Jesus sobe ao monte
sozinho, toma consciência de que o Reino de Deus tem o dinamismo que brota da
cruz e, depois, atravessa o mar sem levar com ele as multidões. O povo precisa
então tomar a decisão de fazer ou não a travessia.
Os discípulos
desertam, tomam uma barca qualquer, voltam atrás, retornam a uma vida vazia de
utopias, desprovida de uma força capaz de impulsioná-la. Por isso, enfrentam a
noite, a crise, o mar agitado. A escuridão denota falta de rumo, agitação
interior, frustração, discordância, ruptura, busca de velhas soluções. As
trevas lembram também a ideologia predominante: submissão às leis do mercado.
Eles não esperam Jesus, e o mau espírito os agita.
No meio dessa
turbulência tão exterior como interior, Jesus vai ao encontro dos discípulos.
Quando eles o veem, temem suas advertências, mas ele caminha sobre as águas
turbulentas e vai ao encontro deles. Os discípulos aceitam sua amizade e
desejam acolhê-lo, mas a travessia termina imediatamente, assim como a
agitação. Eles chegam rapidamente ao lugar para onde Jesus queria levá-los, e
não para onde desejavam ir.
O povo ficara
perdido, pois a comunidade dos discípulos, que fora a referência para
encontrá-lo, desapareceu, fugiu. E então Jesus fala pela primeira vez com o
povo, mas não responde às suas perguntas. O que ele faz é evidenciar a
ambiguidade das motivações que movem a multidão a busca-lo tão ansiosamente.
Jesus pede que alarguem seu horizonte, que entendam os sinais: a compaixão e o
amor de Deus, a partilha, o resgate da dignidade das pessoas. É isso que
significa “trabalhar pelo pão verdadeiro”, o pão que não acaba.
As multidões,
cansadas e esmagadas por múltiplas explorações e dominações, inclusive em nome
da religião, não conhecem o amor gratuito, e esperam de Jesus apenas ordens e
leis, mostrando-se dispostos à submissão, desde que recebessem o que comer. Tem
uma fé limitada, pois veem Jesus apenas como ponto de chegada, desejam o que
ele dá, acham difícil ser como ele, viver no espírito dele. Buscar e acolher
seu Espírito é buscar o pão que não perece...
Meditação:
· Leia atentamente, sem pressa, palavra por palavra, gesto por
gesto este episódio situado depois de Jesus alimentar a multidão faminta
· Que reações esboçamos diante de atitudes e palavras de Jesus que
nos parecem exigentes demais, contra nossas expectativas?
· O que é que hoje nos amedronta, intimida e diminui nosso
necessário compromisso com a transformação do mundo?
· Temos alguma experiência de acolher Jesus em nosso “barco
agitado” e recuperar a serenidade e chegado onde ele queria?
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