sábado, 13 de abril de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - 14.04.2024

COM AS VÍTIMAS

Segundo os relatos evangélicos, o Ressuscitado apresenta-se aos seus discípulos com as chagas do Crucificado. Não se trata de um detalhe banal, de interesse secundário, mas de uma observação de importante conteúdo teológico. As primeiras tradições cristãs insistem, sem exceção, num fato que, em geral, hoje não costumamos valorizar na devida medida: Deus não ressuscitou qualquer um; ressuscitou um homem crucificado.

Mais concretamente, ressuscitou alguém que anunciou um Pai que ama os pobres e perdoa os pecadores; alguém que se solidarizou com todas as vítimas; alguém que, tendo sido perseguido e rejeitado, manteve até ao fim a sua total confiança em Deus.

A ressurreição de Jesus é, portanto, a ressurreição de uma vítima. Ao ressuscitar Jesus, Deus não só liberta um morto da destruição da morte. Além disso, faz justiça a uma vítima dos homens. E isto lança uma nova luz sobre o ser de Deus.

Na ressurreição não é apenas manifestada a nós a onipotência de Deus sobre o poder da morte. Revela-se também o triunfo da sua justiça sobre as injustiças que cometem os seres humanos. Por fim e de forma plena triunfa a justiça sobre as injustiças, a vítima sobre o carrasco.

Esta é a grande notícia. Deus revela-se em Jesus Cristo como o Deus das vítimas. A ressurreição de Cristo é a reação de Deus ao que os seres humanos fizeram com seu Filho. Assim é sublinhado na primeira pregação dos discípulos: «Vós o matastes, elevando-o a uma cruz, mas Deus o ressuscitou dos mortos». Onde nós colocamos morte e destruição, Deus coloca vida e libertação.

Na cruz, Deus ainda guarda silêncio e cala-se. Este silêncio não é manifestação da sua impotência para salvar o Crucificado. É expressão da sua identificação com o que sofre. Deus está ali compartilhando até ao final o destino das vítimas. Os que sofrem devem saber que não estão afundados na solidão. O próprio Deus está no seu sofrimento.

Na ressurreição, pelo contrário, Deus fala e atua para mobilizar a sua força criadora em favor do Crucificado. A última palavra tem Deus. E é uma palavra de amor ressuscitador para com as vítimas. Os que sofrem devem saber que o seu sofrimento terminará na ressurreição.

A história continua. São muitas as vítimas que continuam a sofrer hoje, maltratadas pela vida ou crucificadas injustamente. O cristão sabe que Deus está naquele sofrimento. Conhece também a sua última palavra. Por isso que o seu compromisso é claro: defender as vítimas, lutar contra todo o poder que mata e desumaniza; esperar a vitória final da justiça de Deus.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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