sexta-feira, 5 de abril de 2024

O Evangelho dominical (Pagola) - 07.04.2024

PERCURSO A CAMINHO DA FÉ

Estando ausente Tomé, os discípulos de Jesus tiveram uma experiência sem precedentes. Assim que o veem chegar, dizem-lhe cheios de alegria: «Vimos o Senhor». Tomé os escuta com ceticismo. Por que iria acreditar em algo tão absurdo? Como podem dizer que viram Jesus cheio de vida, se morreu crucificado? Não pode ser ele, será outro.

Os discípulos dizem-lhe que lhes mostrou as feridas nas mãos e no lado. Tomé não pode aceitar o testemunho de ninguém. Necessita de comprova-lo pessoalmente: «Se não vejo nas suas mãos o sinal dos seus pregos... e se não coloco a mão no lado dele, não acredito». Só acreditará na sua própria experiência.

Este discípulo, que se resiste a acreditar de forma ingênua, vai ensinar-nos o caminho que devem percorrer para chegar à fé em Cristo ressuscitado aqueles que nem sequer viram o rosto de Jesus, nem ouviram as suas palavras, nem sentiram os seus abraços.

Depois de oito dias, Jesus aparece novamente. Imediatamente se dirige a Tomé. Não critica sua atitude. As suas dúvidas não têm nada de ilegítimo ou escandaloso. A sua resistência em acreditar revela a sua honestidade. Jesus compreende-o e vem ao seu encontro, mostrando-lhe as suas feridas.

Jesus oferece-se para satisfazer as suas exigências: «Põe o teu dedo, aqui estão as minhas mãos. Põe a tua mão, aqui está o meu lado». Estas feridas, mais do que «provas» para verificar algo, não são «sinais» do seu amor entregue até à morte. Por isso Jesus convida-o a aprofundar mais além das suas dúvidas: «Não seja um incrédulo, mas um crente».

Tomé renuncia a verificar o que quer que seja. Já não sente mais necessidade de provas. Só experimenta a presença do Mestre, que o ama, o atrai e o convida a confiar. Tomé, o discípulo que fez um caminho mais longo e trabalhoso do que qualquer outro para encontrar Jesus, vai mais longe do que qualquer outro na profundidade da sua fé: «Senhor meu e Deus meu». Ninguém proclamou assim a Jesus.

Não devemos assustar-nos ao sentir que brotam em nós dúvidas e interrogações. As dúvidas, vividas de forma saudável, resgatam-nos de uma fé superficial que se contenta em repetir fórmulas, sem crescer na confiança e no amor. As dúvidas estimulam-nos a ir até ao final na confiança no Mistério de Deus encarnado em Jesus.

A fé cristã cresce em nós quando nos sentimos amados e atraídos por aquele Deus cujo rosto podemos vislumbrar no relato que os evangelhos nos fazem de Jesus. Então, a sua chamada a confiar tem em nós mais força que as nossas próprias dúvidas. «Bem-aventurados os que acreditam sem ver».

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

Nenhum comentário: