324 | Ano B | 3ª Semana da Páscoa | Sexta-feira | João
6,52-59
19/04/2024
Neste penúltimo trecho da “catequese”
que Jesus após o sinal da multiplicação dos pães e dos peixes, a discussão se
concentra na vulnerabilidade da condição humana de Jesus (sua “carne” e seu
“sangue”). No centro da polêmica está a questão do caminho que assegura a vida
plena: este caminho é a Lei (o ditado de Deus) ou a pessoa humana concreta e
frágil de Jesus (o enviado do Pai)?
O judaísmo chamava “Lei” ao conjunto de
valores e práticas (atitudes, mandamentos e proibições) que garantiam que uma
pessoa fosse boa, ou seja, garantiam a salvação. É o que hoje chamamos de
ideologia: conjunto de fins e meios, valores e práticas que nos torna “pessoas
de bem”, diferentes e melhores que os outros. Hoje, são leis como “cada um pra
si”; “quem pode mais chora menos”; “direitos humanos são para os humanos
direitos”; e assim por diante.
Os líderes do judaísmo consideraram
incompreensível e inaceitável que Jesus Cristo, em sua concretude e humana
fragilidade (“carne e sangue”) pudesse ser o caminho para o bem-viver, para ser
agradável a Deus. Para eles, não existia outro caminho senão o poder, a
separação, a supremacia de uns sobre outros, a distância em relação àqueles
“que não rezam pela cartilha deles”.
Jesus, por sua parte, insiste que não
há caminho para a vida abundante que não passe pela assimilação daquela
compaixão que o faz irmão e servidor da humanidade, especialmente das pessoas
excluídas, a ponto de dar a própria vida. Isso fica claro na expressão “carne e
sangue”, que Jesus repete quatro vezes. É na sua paixão e morte que ele dá seu
corpo e sangue e se torna pão para a vida do mundo. Salva-se quem assimila sua
humanidade.
Assim, Jesus de Nazaré, o Enviado do
Pai para dar vida ao mundo, o Filho do Homem que demonstra em sinais a
compaixão de Deus especialmente pelas pessoas e grupos mais oprimidos e
sofredores, assume e supera o Antigo Testamento, mostra que a Lei caducou. O
amor incondicional de Jesus, assimilado por seus discípulos, é o que dá vida ao
mundo. Quem come deste “pão”, viverá eternamente, e saciará a fome e a sede da
humanidade.
Meditação:
· Recomponha na memória este trecho da catequese pascal que Jesus
desenvolve para a multidão que o procura
· O que significa a insistência de Jesus, que fala quatro vezes em
“comer” sua carne e “beber” seu sangue?
· Será que não nos enganamos ainda hoje, pensando que o que nos
salva é o “poder” de Jesus, e não sua compaixão e humanidade?
· Em que apostamos “todas as nossas fichas”, porque cremos que
somente isso nos dá vida e salvação?
· O que significa viver “por causa de Jesus”, assim como ele viveu
“por causa do Pai” que vive e o enviou?
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