sexta-feira, 5 de abril de 2024

A luz do Evangelho em nossa vida (310)

310 | Ano B | Oitava da Páscoa | Sábado | Marcos 16,9-15

06/04/2024

Entre o primeiro relato de Marcos sobre a ressurreição de Jesus (16,1-7) e o relato que meditamos hoje (16,9-15), há um versículo problemático (v. 8), propositalmente dispensado pela liturgia pascal: “Saindo, elas (as três Marias) fugiram do túmulo, pois estavam tomadas de tremor e espanto. E não contaram nada a ninguém, pois tinham medo...” Como entender este medo e este silêncio?

O evangelho de Marcos faz questão de não romancear o papel dos primeiros apóstolos, e, originalmente, não tem um final feliz, ao gosto das narrativas imperiais e de Hollywood. A narrativa de Marcos terminava com uma pergunta não expressa, mas envolvente, dirigida aos leitores/as e discípulos/as: vocês e aquelas mulheres superaram ou não o medo e recomeçaram o seguimento de Jesus na Galileia, onde foi à nossa frente?

Isso ressoa como uma advertência para não cairmos em leituras maquiadoras e facilitadoras, como: reabilitar a primazia do papel masculino; imaginar Jesus como um profeta poderoso; tirar Jesus da terra e instalá-lo “no alto dos céus”. No evangelho segundo Marcos, Jesus oferece poucas respostas, mais ainda se fazemos as perguntas erradas. Mas, questionando-nos, ele nos chama a tomar uma posição. E Marcos nos apresenta apenas Jesus “no alto” da cruz e na frente, esperando-nos nas “periferias”.

O epílogo de hoje (v. 9-15) faz parte de um acréscimo, ou de uma releitura do texto original de Marcos. De qualquer modo, as mulheres vão testemunhar o que viram aos apóstolos (que estavam chorando, enlutados), mas, como sempre, eles não deram crédito às mulheres, e nem a dois outros discípulos que diziam ter encontrado Jesus no caminho. Mais uma vez, eles merecerão uma dura advertência de Jesus, “por causa da falta de fé e da dureza de coração”, por não terem acreditado nas testemunhas.

O texto, o último de Marcos, termina com um novo mandato missionário: a fé na ressurreição nos leva a recomeçar o caminho do discipulado na periferia da Galileia, e nos envia a percorrer o mundo inteiro anunciando o Evangelho do Deus compassivo e crucificado pela humanidade a todos os povos e criaturas.

 

Meditação:

·    Como entender essa resistência que as pessoas mais “confiáveis” e próximas de Jesus resistam tanto em aceitar sua ressurreição?

·    Será que também corremos o risco de desviar nossa atenção de Jesus crucificado e do chamado a voltar à Galileia?

·    Temos consciência de que a afirmação da ressurreição de Jesus não nos livra da morte, e confirma num caminho pleno de riscos?

·    Preferimos um Jesus que “sobe aos céus” ou um Jesus que é “elevado na cruz”, “desce aos infernos” e nos precede nas “periferias”?

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