310 | Ano B | Oitava da Páscoa | Sábado | Marcos
16,9-15
06/04/2024
Entre o primeiro
relato de Marcos sobre a ressurreição de Jesus (16,1-7) e o relato que
meditamos hoje (16,9-15), há um versículo problemático (v. 8), propositalmente
dispensado pela liturgia pascal: “Saindo, elas (as três Marias) fugiram do
túmulo, pois estavam tomadas de tremor e espanto. E não contaram nada a
ninguém, pois tinham medo...” Como entender este medo e este silêncio?
O evangelho de
Marcos faz questão de não romancear o papel dos primeiros apóstolos, e,
originalmente, não tem um final feliz, ao gosto das narrativas imperiais e de
Hollywood. A narrativa de Marcos terminava com uma pergunta não expressa, mas envolvente,
dirigida aos leitores/as e discípulos/as: vocês e aquelas mulheres superaram ou
não o medo e recomeçaram o seguimento de Jesus na Galileia, onde foi à nossa
frente?
Isso ressoa como
uma advertência para não cairmos em leituras maquiadoras e facilitadoras, como:
reabilitar a primazia do papel masculino; imaginar Jesus como um profeta
poderoso; tirar Jesus da terra e instalá-lo “no alto dos céus”. No evangelho
segundo Marcos, Jesus oferece poucas respostas, mais ainda se fazemos as
perguntas erradas. Mas, questionando-nos, ele nos chama a tomar uma posição. E
Marcos nos apresenta apenas Jesus “no alto” da cruz e na frente, esperando-nos
nas “periferias”.
O epílogo de hoje (v. 9-15) faz parte
de um acréscimo, ou de uma releitura do texto original de Marcos. De qualquer
modo, as mulheres vão testemunhar o que viram aos apóstolos (que estavam
chorando, enlutados), mas, como sempre, eles não deram crédito às mulheres, e
nem a dois outros discípulos que diziam ter encontrado Jesus no caminho. Mais
uma vez, eles merecerão uma dura advertência de Jesus, “por causa da falta de
fé e da dureza de coração”, por não terem acreditado nas testemunhas.
O texto, o último de Marcos, termina
com um novo mandato missionário: a fé na ressurreição nos leva a recomeçar o
caminho do discipulado na periferia da Galileia, e nos envia a percorrer o
mundo inteiro anunciando o Evangelho do Deus compassivo e crucificado pela
humanidade a todos os povos e criaturas.
Meditação:
· Como entender essa resistência que as pessoas mais “confiáveis”
e próximas de Jesus resistam tanto em aceitar sua ressurreição?
· Será que também corremos o risco de desviar nossa atenção de
Jesus crucificado e do chamado a voltar à Galileia?
· Temos consciência de que a afirmação da ressurreição de Jesus
não nos livra da morte, e confirma num caminho pleno de riscos?
· Preferimos um Jesus que “sobe aos céus” ou um Jesus que é
“elevado na cruz”, “desce aos infernos” e nos precede nas “periferias”?
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