sábado, 15 de março de 2025

A tentação dos atalhos

Não busquemos atalhos, nem sejamos inimigos da cruz de Cristo | 653 | 16.03.2025 | Lucas 9,38-46

Depois de ter sido reconhecido por Pedro como “o Cristo de Deus”, Jesus acrescentara: “É necessário o Filho do Homem sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar...  E se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a salvará” (Lc 9,22-23).

Os discípulos não conseguem compreender e aceitar este caminho escolhido e proposto por Jesus. Sentem-se desconcertados diante de um Messias servidor. Resistem a um caminho que os levará a ser companheiros dele no anúncio do Reino e na perseguição. Não passa pela cabeça deles carregar a cruz da rejeição e da criminalização, imposta a quem ousa se rebelar contra os poderes do Império.

É neste contexto que Jesus sente necessidade de retirar-se para confirmar o caminho que deve seguir e propor a quer ser seu discípulo. Chama e leva consigo Pedro, Tiago e João, os mais resistentes ao caminho que propunha e os mais aferrados às ambições de poder. O medo e a resistência dos discípulos se mostra simbolicamente no sono, como aconteceria de novo mais tarde, no Jardim das Oliveiras (cf. Lc 22,45).

O sono assinala o desejo de fugir, de voltar atrás, de não escutar nada senão as próprias ideias e ambições. O trio não se interessa pelo tema da conversa de Jesus com Moisés e Elias, e é despertado apenas pelo brilho glorioso de Jesus e seus convidados. Glória e poder estão no horizonte do interesse deles, tanto que desejam reter o tempo, separar os espaços e eternizar esta agradável visão. Não querem descer para lutar pelo reino de Deus, como fizeram Moisés e Elias, e como fará Jesus.

Mas a glória e o esplendor não são expressões inequívocas de Deus e da sua vontade. É a sombra tenebrosa de uma nuvem – imagem daquela nuvem que acompanhara o povo na caminhada através do deserto e envolvera a montanha na celebração da Aliança – que desfaz o entusiasmo dos discípulos e os conduz à verdade à qual resistem: “Este é o meu filho, o eleito. Escutai-o!” Jesus nos fala com sabedoria, e o caminho da compaixão e da cruz não é eventual nem opcional para seus discípulos.

                                                                  

Meditação:

·        Leia atentamente, palavra por palavra, e visualize a cena e os personagens, como se apresentam, aquilo que dizem e aquilo que fazem

·        Quais são as suas resistências a Jesus Cristo e sua mensagem?

·        Procure identificar o núcleo essencial da cena, e o conflito ou a tensão que ela pretende resolver

·        Como tem sido seu caminho de meditação do Evangelho, especialmente na primeira semana da quaresma?

·        Quais são as tentativas de fuga ou de alienação (construir tendas em lugares agradáveis) que rondam você e sua comunidade?

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