quinta-feira, 27 de março de 2025

Ame a Deus acima de tudo

Ame a Deus acima de tudo, e tudo o mais como criaturas irmãs | Marcos 12,28-34

A cena oferecida à nossa leitura neste dia da quaresma, mesmo parecendo bastante tranquila e isenta de provocações, faz parte das armadilhas que os chefes do judaísmo colocam a Jesus com a intenção de acusá-lo e das tensas disputas teológicas e políticas com ele. Não esqueçamos que elas ocorrem no ambiente do templo, do qual Jesus já havia expulsado os comerciantes. Este é o último confronto de Jesus antes de ser preso, condenado, torturado e crucificado.

No centro da disputa de hoje está a questão do primeiro ou principal mandamento da ética religiosa judaica. Quem questiona e chama ao debate é um mestre da lei, que disfarça sua intenção ardilosa falando num tom aparentemente simpático. Ele pergunta pelo “primeiro de todos os mandamentos”. Jesus responde no horizonte de uma ortodoxia cautelosa, mas se atreve a juntar ao mandamento de amar a Deus (cf. Dt 6,4-13), amplamente conhecido e aceito, o mandamento de amar ao próximo (cf. Lv 19,18). “Não existe outro mandamento maior que estes!”

É importante perceber ainda que, no primeiro testamento, o mandamento “ame ao seu próximo como a si mesmo” não vem isolado, mas está situado num conjunto mais amplo de normas que se opõem às práticas de opressão, exploração e indiferença em relação aos mais pobres das tribos de Javé (cf. Lv 19,9-18). Anteriormente, Jesus havia dito que estas normas são violadas abertamente pelos escribas. Para Jesus, o céu precisa vir à terra, e a terra é o único caminho para o céu. Não há lugar para escapismos e espiritualismos de qualquer espécie.

O texto termina dizendo que ninguém mais se atrevia a apresentar armadilhas a Jesus. Ele venceu todos os seus opositores: expulsou os comerciantes do templo, enfrentou as ciladas de fariseus e saduceus sem cair nelas, questionou a legitimidade e os privilégios dos chefes, assumiu seu papel de mestre. Em síntese, “amarrou o homem forte e reconquistou sua casa”, como refletíamos ontem (cf. Mc 3,27).

No caminho da conversão precisamos decidir quem manda em nós: Jesus e seu evangelho da fraternidade, ou o Mercado, que incensa o consumismo individualista e predatório, que trata tudo – as pessoas e todas as demais criaturas – como se fossem bens dos quais pode se apropriar e desfrutar.

 

Meditação:

§ Situe-se no interior da cena, no templo, diante de Jesus e do escriba, especialista nos mandamentos

§ O escriba parece candidato a discípulo, seu tom é simpático, mas é ardiloso e enganador, como os outros

§ Estaríamos nós também comprometidos com a manutenção das relações de dominação e legitimando-as com falsa ortodoxia?

§ Perceba a novidade corajosa de Jesus: ele une o amor a Deus e o amor ao próximo, e faz dos dois um só mandamento

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