sábado, 22 de março de 2025

As vítimas das enchentes eram mais pecadoras que nós?

Será que as vítimas das enchentes eram mais pecadoras que nós? | 660 | 23.03.2025 | Lucas 13,1-9

No evangelho de ontem Jesus nos dizia que Deus é como um Pai que se alegra e faz festa quando um filho ou filha acessa um patamar de vida mais digna. Ele chama todos aqueles que, sendo donos de “meio mundo”, murmuram e protestam quando as pessoas vulneráveis são tratadas conforme o que necessitam, e não de acordo com o que merecem.

No evangelho de hoje, o ensino de Jesus é motivado por duas violentas tragédias, bem conhecidas dos seus contemporâneos. A primeira é recente, e comunicada a Jesus por algumas pessoas: a violenta repressão perpetrada por Pilatos contra um grupo de galileus, no interior do próprio templo. A segunda, que o próprio Jesus acrescenta, chamando a atenção dos seus ouvintes, havia acontecido anteriormente: a queda acidental de uma torre de guarda sobre algumas pessoas.

Jesus parte destes dois acontecimentos para corrigir uma visão parcial e errônea dos seus discípulos e demais contemporâneos, e para chamar todos à conversão ao Reino de Deus. Muita gente via acontecimentos semelhantes como sinais da punição de Deus reservada aos pecadores. Por isso, a pergunta incisiva de Jesus: “Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros? Pensais que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém?”

Jesus quer desfazer a ideia de que as vítimas são as culpadas, e lê estes acontecimentos numa perspectiva profética: precisamos perceber neles um chamado à mudança de vida e de mentalidade. “Se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”, repete Jesus, como um refrão. Trata-se de fazer as pazes com a criação inteira, de cuidar da casa comum, de viver de modo fraterno e solidário. Ou será que as vítimas das inesquecíveis enchentes eram mais pecadoras que nós?

Mas isso deve ser feito sem nenhuma demora, com senso de urgência. Deus tem paciência com quem não produz frutos, mas ele tem seu calendário! À figueira estéril, que persistia sem frutos, o agricultor da parábola dá só mais um ano! Ele cuida e trata com atenção e delicadeza, mas não é bobo. Aprendamos a contar nossos dias, não percamos a hora da graça, não deixemos para amanhã os passos que podemos dar hoje.

 

Meditação:

§ Você percebe, em você, na sua família e na sua comunidade, a velha ideia de que as recorrentes tragédias são castigos de Deus?

§ Quais são as consequências pessoais e eclesiais da afirmação de que ninguém é mais pecador que ninguém?

§ Será que, num certo sentido, alguns grupos religiosos atuais não estão presos à mesma mentalidade que Jesus reprova neste texto?

§ O que fazer para levar a sério a parábola da figueira que não produz frutos e recebe mais uma chance?

Nenhum comentário: