Será que as
vítimas das enchentes eram mais pecadoras que nós?
| 660 | 23.03.2025
| Lucas 13,1-9
No evangelho de
ontem Jesus nos dizia que Deus é como um Pai que se alegra e faz festa quando
um filho ou filha acessa um patamar de vida mais digna. Ele chama todos aqueles
que, sendo donos de “meio mundo”, murmuram e protestam quando as pessoas
vulneráveis são tratadas conforme o que necessitam, e não de acordo com o que
merecem.
No evangelho de
hoje, o ensino de Jesus é motivado por duas violentas tragédias, bem conhecidas
dos seus contemporâneos. A primeira é recente, e comunicada a Jesus por algumas
pessoas: a violenta repressão perpetrada por Pilatos contra um grupo de
galileus, no interior do próprio templo. A segunda, que o próprio Jesus
acrescenta, chamando a atenção dos seus ouvintes, havia acontecido
anteriormente: a queda acidental de uma torre de guarda sobre algumas pessoas.
Jesus parte destes
dois acontecimentos para corrigir uma visão parcial e errônea dos seus
discípulos e demais contemporâneos, e para chamar todos à conversão ao Reino de
Deus. Muita gente via acontecimentos semelhantes como sinais da punição de Deus
reservada aos pecadores. Por isso, a pergunta incisiva de Jesus: “Vós pensais
que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros? Pensais que eram
mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém?”
Jesus quer desfazer
a ideia de que as vítimas são as culpadas, e lê estes acontecimentos numa
perspectiva profética: precisamos perceber neles um chamado à mudança de vida e
de mentalidade. “Se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo
modo”, repete Jesus, como um refrão. Trata-se de fazer as pazes com a criação
inteira, de cuidar da casa comum, de viver de modo fraterno e solidário. Ou será que as vítimas das
inesquecíveis enchentes eram mais pecadoras que nós?
Mas isso deve ser feito sem nenhuma demora, com senso de
urgência. Deus tem paciência com quem não produz frutos, mas ele tem seu
calendário! À figueira estéril, que persistia sem frutos, o agricultor da
parábola dá só mais um ano! Ele cuida e trata com atenção e delicadeza, mas não
é bobo. Aprendamos a contar nossos dias, não percamos a hora da graça, não
deixemos para amanhã os passos que podemos dar hoje.
Meditação:
§ Você percebe, em você, na sua
família e na sua comunidade, a velha ideia de que as recorrentes tragédias são
castigos de Deus?
§ Quais são as consequências pessoais
e eclesiais da afirmação de que ninguém é mais pecador que ninguém?
§ Será que, num certo sentido, alguns
grupos religiosos atuais não estão presos à mesma mentalidade que Jesus reprova
neste texto?
§ O que fazer para levar a sério a
parábola da figueira que não produz frutos e recebe mais uma chance?
Nenhum comentário:
Postar um comentário