Quem se eleva
será humilhado, e o humilde será elevado | 666 | 29.03.2025 | Lucas 18,9-14
Só não vê quem não quer, para não ter
que mudar de atitude: vivemos numa sociedade polarizada, com grupos
contrapostos por ideologias e por disputa de espaços e poderes. O argumento
moral – “nós, os cidadãos de bem; eles, os malfeitores, preguiçosos” – é usado
com uma frequência espantosa. E a ideologia da meritocracia acabou oferecendo
uma justificação adequada a esta divisão social.
Alguém pode se surpreender ao constatar que
esta mesma postura estava presente na sociedade e no contexto cultural no qual
Jesus de Nazaré viveu e atuou. Naquele tempo, vigorava o muro ideológico e
religioso que separava puros e impuros e os colocava uns contra os outros. A
ideologia da pureza – que misturava critérios sanitários, religiosos, morais,
étnicos e sociais – definia quem era puro e quem era impuro, ou melhor, quem
era “cidadão de bem” ou “elemento suspeito”.
Na parábola de hoje, estes dois grupos ou
setores sociais estão tipificados no fariseu e no publicado. O primeiro, se
considera e é tratado como homem correto, merecedor, justo, superior, ou
cidadão digno. O segundo, é visto e tratado como suspeito, sujo, herege, sem
dignidade e sem direito ao respeito e à cidadania. Chama a atenção que a
prática da oração não os torna iguais perante a Deus, apenas escancara as
diferenças.
Para Jesus e seu Evangelho, ninguém pode se
arrogar o status de melhor que os outros, superior, honrado, merecedor. Todos –
fariseus e publicanos – são pecadores e necessitam de conversão. O fariseu, que
manifesta na oração seu orgulho e seu desprezo pelos outros, exatamente por
isso também é pecador. A diferença é que o publicano, explicitando a dor da
exclusão e a percepção das próprias contradições, é acolhido e justificado,
enquanto que o fariseu, que se considera justo, melhor e superior aos demais, continua
devendo.
A humildade não é
um simples ou falso sentimento de inferioridade, mas a consciência justa e
correta daquilo que somos: vazio, dependência, ambiguidade, desejo. É o
reconhecimento de que somos todos devedores uns aos outros, de que ninguém –
começando por nós mesmos – é maior ou melhor que ninguém. Somos o que somos por
graça de Deus.
Meditação:
§ Situe-se no templo, como quem foi rezar com o
fariseu e o publicano, e observe a postura e as palavras de cada um
§ Com qual deles você se parece quando reza?
Você se apresenta diante de Deus ostentando seus méritos?
§ Você considera a humildade uma limitação à sua
personalidade e o orgulho e o mérito uma expressão de sua grandeza?
§ Como assumir com serenidade e verdade diante
de Deus a nossa condição de pecadores e devedor necessitados de misericórdia?
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