Se Deus levar em conta nossas faltas, quem poderá subsistir? | 651 | 13.03.2025 | Mateus 5,20-26
Depois de propor o caminho da
felicidade plena e duradoura, Jesus sublinha que esse caminho requer a vivência
de uma justiça maior que aquela demonstrada pelos escribas e fariseus. E dá uma
série de exemplos, dos quais o texto de hoje nos apresenta o primeiro. Jesus
parte das Escrituras Sagradas, mas não se detém na lei fria. Para ele, a
Escritura tem por fim assegurar a proteção social dos vulneráveis e a comunhão harmônica
no interior da comunidade.
Nesta perspectiva, Jesus reinterpreta o 5º
mandamento da lei de Moisés, ciente de que o homicídio começa bem antes do ato
concreto que o realiza, e tem suas raízes na falta de respeito à dignidade de
quem é diferente de nós, configurada na raiva e no insulto. Não matar não é o
teto da justiça, mas seu mínimo, ou seu ponto de partida. A fraternidade sem
fronteiras e a reconciliação sempre renovada são exigências primárias do
Evangelho do Reino, e os discípulos não podem ignorar isso.
A justiça maior que aquela ostentada pelos
fariseus se expressa na vivência da fraternidade e da reconciliação, ou seja:
permitindo e agindo para que o diferente seja acolhido e viva dignamente. Isso
é tão importante e decisivo que Jesus ensina que a nossa comunhão com Deus
depende da reconciliação com as pessoas e grupos que divergem de nós e até nos
perseguem. A atitude de pacificação e reconciliação é mais importante que a
doutrina ortodoxa e o culto divino!
É claro que Jesus não recomenda fazer um
momento de parada durante a celebração ou a apresentação das oferendas. Ele usa
esta imagem forte para reforçar a absoluta importância de cultivar, manter e
reatar os vínculos que, tanto do ponto de vista humano como religioso, nos une
ao próximo. E não se trata apenas de constatar que ofendemos alguém e isso nos
pesa na consciência. Jesus nos pede para verificar se nós mesmos agimos mal e
provocamos dano e ressentimento nos outros.
O nosso próximo,
sendo diferente, e até mesmo divergente de nós, é um dom, um presente.
Relacionar-se fraternalmente com ele não pode jamais ser um peso, mas sempre
uma grande alegria, mesmo quando comporta exigências. Talvez seja importante
começar pela pacificação da linguagem.
Meditação:
§ Que
impacto tem sobre você este ensino de Jesus: não é suficiente não matar, é
preciso evitar a raiva e o insulto?
§ Quais
são as consequências do conselho de interromper o culto e as ofertas para
primeiro se reconciliar com quem prejudicamos?
§ Como
você, sua família e sua comunidade podem exercitar este ensinamento de Jesus?
§ Com
quem você precisa se reconciliar hoje? Quem são as pessoas que poderiam ter uma
queixa contra você?
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