quarta-feira, 26 de março de 2025

Não fechar o coração

Oxalá ouçamos hoje a voz do Senhor | 664 | 27.03.2025 | Lucas 11,14-23

Jesus acabara de ensinar os discípulos a rezar, sublinhando a necessidade de pedir com confiança, pois Deus é pai. Mas isso não livra Jesus de reações diversas e contraditórias frente à sua pessoa e às suas ações. Enquanto as multidões ficam admiradas com seu ensino e suas ações libertadoras, as autoridades religiosas questionam suas credenciais. E pedem com insistência que diga em nome de quem ele vive, prega e age.

Por ocasião da libertação de uma pessoa do domínio do demônio, os questionamentos viram acusação curta e grossa: “É pelo chefe dos demônios que ele expulsa os demônios”. É a mais grave acusação que pode ser dirigida a uma pessoa: a acusação de ser aliado e executivo do demônio. Partindo dessa acusação, Jesus discorre sobre o sentido do que ele faz, questiona as práticas do judaísmo e alerta seus discípulos.

Quando liberta uma pessoa de algo que limita sua personalidade, Jesus não age como quem realiza sinais espetaculares para impressionar, nem recorre a poderes mágicos. As curas e libertações que opera, sempre em benefício de pessoas vulneráveis e necessitadas, são sinais eficazes do dinamismo do Reino de Deus que está ativo no mundo. Ele não é enviado ou parceiro do diabo, mas filho e enviado de Deus.

Para refutar a grave acusação que dirigem contra ele, Jesus recorre a duas experiências familiares aos seus ouvintes: um reino dividido prepara a própria ruína; ninguém combate a si mesmo, nem desfere tiros nos amigos; quando a casa de um homem forte e bem armado é atacada e dominada por outro homem mais forte ainda, o dono acaba expulso e seus bens mudam de dono. Jesus é esse homem mais forte, que restituiu a liberdade a todas as pessoas vítimas dos agentes do mal e expulsa o “dominador”.

Por fim, Jesus faz uma advertência a todos os que foram acolhidos e justificados por ele: ninguém pode se sentir imunizado e melhor que os outros, nem considerar a salvação como adquirida e merecida. Nossa liberdade se mantém e se renova na luta pela liberdade dos outros. Nossa condição de filhos, irmãos e herdeiros é sempre precária, e precisa ser reassumida diariamente. A necessária celebração da vitória não pode esconder a continuidade da luta.

 

Meditação:

§ Leia atentamente esta breve, tensa e complexa discussão de Jesus com seus acusadores, que são lideranças religiosas do judaísmo

§ Acusações semelhantes àquela feita contra Jesus não estão sendo feitas hoje aos cristãos, igrejas e organizações mais progressistas?

§ O que significam as críticas desrespeitosas que alguns grupos católicos dirigem contra a Conferência dos Bispos do Brasil e contra o Papa?

§ O que dizer das pessoas e grupos que se julgam superiores, mais puras e ortodoxas que o próprio Papa e a Conferência dos Bispos?

Um comentário:

Anônimo disse...

Sua reflexão me fez lembrar da coragem e lucidez de Dom Helder Câmara!