Oxalá ouçamos
hoje a voz do Senhor | 664 | 27.03.2025 | Lucas 11,14-23
Jesus acabara de ensinar os discípulos
a rezar, sublinhando a necessidade de pedir com confiança, pois Deus é pai. Mas
isso não livra Jesus de reações diversas e contraditórias frente à sua pessoa e
às suas ações. Enquanto as multidões ficam admiradas com seu ensino e suas
ações libertadoras, as autoridades religiosas questionam suas credenciais. E
pedem com insistência que diga em nome de quem ele vive, prega e age.
Por ocasião da libertação de uma pessoa do
domínio do demônio, os questionamentos viram acusação curta e grossa: “É pelo
chefe dos demônios que ele expulsa os demônios”. É a mais grave acusação que
pode ser dirigida a uma pessoa: a acusação de ser aliado e executivo do
demônio. Partindo dessa acusação, Jesus discorre sobre o sentido do que ele faz,
questiona as práticas do judaísmo e alerta seus discípulos.
Quando liberta uma pessoa de algo que limita sua
personalidade, Jesus não age como quem realiza sinais espetaculares para
impressionar, nem recorre a poderes mágicos. As curas e libertações que opera,
sempre em benefício de pessoas vulneráveis e necessitadas, são sinais eficazes
do dinamismo do Reino de Deus que está ativo no mundo. Ele não é enviado ou
parceiro do diabo, mas filho e enviado de Deus.
Para refutar a grave acusação que dirigem
contra ele, Jesus recorre a duas experiências familiares aos seus ouvintes: um
reino dividido prepara a própria ruína; ninguém combate a si mesmo, nem desfere
tiros nos amigos; quando a casa de um homem forte e bem armado é atacada e
dominada por outro homem mais forte ainda, o dono acaba expulso e seus bens
mudam de dono. Jesus é esse homem mais forte, que restituiu a liberdade a todas
as pessoas vítimas dos agentes do mal e expulsa o “dominador”.
Por fim, Jesus faz
uma advertência a todos os que foram acolhidos e justificados por ele: ninguém
pode se sentir imunizado e melhor que os outros, nem considerar a salvação como
adquirida e merecida. Nossa liberdade se mantém e se renova na luta pela
liberdade dos outros. Nossa condição de filhos, irmãos e herdeiros é sempre
precária, e precisa ser reassumida diariamente. A necessária celebração da vitória
não pode esconder a continuidade da luta.
Meditação:
§ Leia atentamente esta breve, tensa e complexa
discussão de Jesus com seus acusadores, que são lideranças religiosas do
judaísmo
§ Acusações semelhantes àquela feita contra
Jesus não estão sendo feitas hoje aos cristãos, igrejas e organizações mais
progressistas?
§ O que significam as críticas desrespeitosas
que alguns grupos católicos dirigem contra a Conferência dos Bispos do Brasil e
contra o Papa?
§ O que dizer das pessoas e grupos que se julgam
superiores, mais puras e ortodoxas que o próprio Papa e a Conferência dos
Bispos?
Um comentário:
Sua reflexão me fez lembrar da coragem e lucidez de Dom Helder Câmara!
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